Como reagiria aos breves lapsos de tempo que oscilam entre uma fala e outra? Chamaria para seu lado dona Lucia, dona Carmem, a Daniela, a Jussara, a Ana Paula pedindo socorro? No final, Castorino resolveria o problema. Ou recriminaria o Raphael Pinheiro: coloque em ordem este aparato parafernálico. Ou se perderia quando vários acadêmicos aparecessem em quadradinhos na tela, sem saber para qual olhar? Ele se lembraria daquela frase do conto Entre Duas Datas que simboliza os tempos da Covid, do isolamento: “ Eram como duas pessoas que se olham, separadas por um abismo, e estendem os braços para se apertarem”.
Ficaria irritado quando a câmera apanhasse um desprevenido cochilando? Criticaria a falta do calor humano, dos risos, das intervenções fora de seu olhar? Ficaria curioso ao ver cochichos ao pé do ouvido, ou confabulações misteriosas apanhadas de surpresa pela câmera. Teria um sistema privado de comunicação – somente ele saberia senha - que lhe mostraria se Capitu estava sendo levada da breca? Ele que prezava a escrita, estaria curioso para saber como seria a ata da reunião? Escrita ou por edição de imagens? No desacerto com a tecnologia e na ausência de filhos ou netos, será que ele pediria ajuda às suas mulheres, Virgilia, Sofia, Flora, Helena, Guiomar, Helena? Ou clamaria: Carolina, Carolina, dê a mão aqui! Mas correria o risco de ouvir: Você que é o Bruxo do Cosme Velho se arranje! Machado imaginando que em matéria de informática se a rêde cai nem os bruxos resolvem, certamente exclamaria: Está na hora de escrever O Alienista.
Portal da ABL, 20/07/2020
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