de Cyro de Mattos por Jorge Amado
na Academia Brasileira de Letras
“As quatro narrativas de Cyro de Mattos, reunidas em Os brabos,
volume de recente edição da Civilização Brasileira, mereceram, ainda inéditas,
o Prêmio Nacional de Ficção Afonso Arinos, distribuído pela Academia Brasileira
de Letras. Relator da ilustre comissão de romancistas que o concedeu (Bernardo
Elis, José Cândido de Carvalho, Herberto Sales, Adonias Filho e Afonso Arinos
de Meio Franco), nosso mestre Alceu de Amoroso Lima, a mais alta expressão de
crítica literária brasileira, consagrou o livro e o autor.
No livro, Alceu de Amoroso Lima encontrou "narrativas dramáticas e brasileiríssimas, por seu tema
e por sua linguagem", e disse do autor ser ele "escritor
visceralmente nosso... Admirável ficcionista." Transcrevo esses trechos do
relatório do Mestre Alceu porque sintetizam, com aquele singular poder de análise
e definição, a literatura de Cyro de Mattos. Realmente um escritor
brasileiríssimo pela temática e pela linguagem. O tema é "o povo
brasileiro mais humilde e típico" e a linguagem, depurada, exata, amplia a
dramaticidade da ação, impedindo qualquer vulgaridade de sentimento, evitando
qualquer recurso aos modismos tão em voga atualmente.
Cyro de Mattos não se confunde à maioria de escrevinhadores
que, na falta de real experiência humana e de real experimentação literária, se
perdem na imitação uns dos outros, em cacoetes e fogos de artifícios
enganadores. Cyro de Mattos possui uma personalidade vigorosa e original: a
condição humana dos personagens que surgem de seu conhecimento e emoção nada
têm de artificialismo da pequena burguesia a exibir angústia de psicanalista. O
autor de Os brabos pisa chão verdadeiro, toca a carne e o sangue dos homens, "entre
sombras e abismos".
Largo caminho andou Cyro de Mattos do livro de estreia - estreia,
aliás, marcante com Berro de fogo, em
1966, até as narrativas reunidas neste volume de 1979. O escritor cresceu,
depurou-se, a poesia que é parte inerente de sua criação fundiu-se na limpidez
da expressão, formando um todo harmonioso, iluminando os personagens de dentro
para fora, expressando a vida solidária.
Com seu novo livro, Cyro de Mattos marca mais uma vez a
presença na literatura brasileira dos escritores grapiúnas, do poderoso clã de
poetas e ficcionistas nascidos da civilização do cacau no sul da Bahia.”
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O Texto de Jorge Amado sobre Os brabos, novelas, de Cyro de
Mattos, está registrado na ata da Academia Brasileira de Letras, em 6 de março
de 1980.
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