18 de fevereiro de 2020
Péricles Capanema
Outro possível título para este artigo: a política da
exclusão. Exclusão, dilaceração social, tensão, vamos falar a respeito. Em 13
de fevereiro (ocasião de perplexidade) o Papa Francisco recebeu no Vaticano, em
cordial reunião privada de uma hora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Praticamente nada foi dito, nem precisava, todos entenderam; política é, em
larga medida, imagem.
A Santa Sé não emitiu comunicado sobre a audiência,
amplamente noticiada nos meios de divulgação do mundo inteiro. Falar o quê? O
chefão petista foi discreto na primeira manifestação: “Encontro com o Papa
Francisco para conversar sobre um mundo mais justo e fraterno”. O mais
importante em tais ocasiões é a “photo opportunity” e Lula alcançou por inteiro
o intento, divulgação mundial. Leonardo Boff comentou satisfeito: “Esse
encontro corresponde a um desejo mútuo. Em março, haverá o grande encontro
internacional ‘Economia de Francisco’, onde o Papa propõe aos jovens
economistas políticas contra a desigualdade social nos países. Quem tem
experiência de diminuir a desigualdade, incluir 36 milhões de pessoas na
cidadania é Lula, e o Papa queria não só ler, como conversar, saber como se faz
isso. É muito possível [a participação de Lula no mencionado encontro dos
economistas engajados] porque quando houve o encontro pela primeira vez dos
movimentos sociais populares, em Roma, Evo Morales quis participar e os
organizadores da cúria proibiram. O papa interveio, disse ‘Evo Morales vem de
baixo, é indígena, é meu convidado direto’ e participou. Creio que dessa vez
haverá a mesma lógica”. Como Leonardo Boff, exultaram um sem-número de
comunistas.
Continuo do mesmo jeito, católico e devoto do Papado;
contudo, arrastado pela força incoercível da mais simples lógica, ecoando
milhões de irmãos na fé, deploro até o fundo a referida entrevista e as
circunstâncias que a cercaram. Representa enorme, revelador e, no caso,
escandaloso apoio do Sucessor de Pedro a Lula e ao partido acaudilhado por ele.
E por mais doloroso que possa ser para um católico, “veritas liberabit vos” (Jo
8, 32) — não vou tapar o sol com a peneira —, o Papa Francisco se comportou no
caso como vem agindo a CNBB há décadas, companheira de viagem dos objetivos
petistas no Brasil.
Tal procedimento empurra o Brasil para o atraso hoje
padecido, entre outros países, por Cuba e Venezuela, pobres cobaias do veneno
socialista. Esse retrocesso, lembro ainda, coloca-nos mais perto da submissão
inteira à China e à Rússia. Finalmente, é fator de empobrecimento, crueldade
notória para com os pobres, pois lhes barra o caminho para uma existência
decente e possibilidades de crescer na vida. Desesperados pela fome e pela
atrofia generalizada de alto a baixo da sociedade, milhões deles acabam
tentando escapar como podem dos países torturados pela utopia que intoxica o PT
e enormes setores eclesiásticos.
Há mais. A conduta costumeira da CNBB, useira e vezeira da
opção preferencial pelas minorias revolucionárias mais radicalizadas — e agora,
infelizmente, também adotada no recente gesto do Papa Francisco —, ademais de
favorecer a eliminação do que ainda resta de ordem temporal cristã, afasta a
maioria do povo da área de influência da Igreja, e assim cria obstáculos para a
difusão do Evangelho na parcela da população mais sensível a suas palavras. De
outro modo, metralha possibilidades de evangelização.
Viro a página. Que efeitos duradouros terá a reunião cordial
do Papa Francisco com o morubixaba do PT no Judiciário e nas eleições
municipais deste ano? Sobre o povo em geral? No Judicário, não dá para saber;
uma coisa ao menos se percebe de plano, em nada atrapalhará a defesa de Lula e
dos acusados das roubalheiras amazônicas que padeceu o Brasil.
O outro ponto, nas eleições de outubro próximo? Em 2022? O
escandaloso encontro ajudará eleitoralmente o PT e seus aliados? Alentadas por
ele, tubas da propaganda internacional e boa parte da interna tentam enfunar as
velas da esquerda. Conseguirão?
Caminhemos devagar, de olho sobretudo nos sintomas que
denotam o que se passa no interior das consciências, ali está o âmbito decisivo
para o futuro pátrio. Por oportuna, uma recordação. Em de 13 de novembro de
1975 o Conselho Nacional da TFP divulgou documento intitulado “Não se
iluda, Eminência” endereçado ao cardeal dom Paulo Evaristo Arns (íntegra
em “Catolicismo” 299/300, a coleção está na rede), criticando a posição
favorecedora da subversão comunista que o episcopado paulista reunido em Itaici
havia tomado. Advertiu: “Não se iluda, Eminência. Atitudes como a dos
signatários do documento de Itaici vão abrindo um fosso cada vez maior, não
entre a religião e o povo, mas entre o Episcopado paulista e o povo. A
Hierarquia paulista, na própria medida em que se omite no combate à subversão
comunista, vai se isolando no contexto nacional. A Hierarquia paulista tanto
menos venerada e querida vai ficando, quanto mais bafeja a subversão”.
O fenômeno para o qual a TFP chamou a atenção em 1975 pode
se repetir agora pela ação em especial do mesmo “sensus fidei”, que agiu lá, e
pode agir hoje de novo. O senso da fé faz as pessoas perceberam nos seus
pastores o timbre da voz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando não a ouvem, em
atitude de fidelidade à doutrina da Igreja, afastam-se, um fosso vai se
agigantando. Aconteceu repetidas ocasiões ao longo da História. “As minhas
ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (Jo 10, 27).
De olho em particular no “sensus fidei”, observemos ao longo
dos dias as repercussões da funesta “photo opportunity” do dia 13 de fevereiro
em Roma. Se há motivos para preocupação (e os há), inexistem justificativas
para o abatimento. A maioria do Brasil (os verdadeiros excluídos) não deve e
não pode se abater. É preciso resistir ao empurrão.
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