19 de novembro de 2019
Reproduzimos a seguir uma carta aberta que o Pe. David
Franscisquini — sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria, em Cardoso
Moreira (RJ) — enviou ao Dep. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos
Deputados.
* * *
Prezado Senhor Rodrigo Maia,
Permita-me fazer algumas apreciações e, ao mesmo tempo,
demonstrar minha indignação pela maneira como vem sendo conduzida a política
brasileira, de modo particular pelas duas casas legislativas, cuja Câmara dos
Deputados é presidida pelo senhor.
Como sacerdote no interior do Estado do Rio de Janeiro, no
meu contato direto com os paroquianos posso afirmar que as ponderações que
farei são compartilhadas por grande parte deles que anelam todo o bem que se
possa fazer por esse Brasil, nascido sob o signo da Cruz.
De um fato, estou seguro, a maioria absoluta da população
brasileira está desagradada e desaprova a maneira de os nossos deputados e
senadores conduzirem o processo de recuperação moral e institucional do País
desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Pelo que tenho ouvido, a postura do Parlamento tem decepcionado
e muito o público brasileiro, que percebe a má vontade de seus representantes
em votar projetos originários do poder executivo, ora desfigurando-os, ora
desidratando-os, ora postergando as suas votações.
Desapontamento esse que não atinge apenas questões
econômicas, mas sobretudo àquilo que diz respeito à ordem moral e familiar.
Sendo a família a “célula mater” da sociedade, com ela esfacelada não
haverá ordenação harmônica, estável e duradoura possível na vida social.
Para o magistério tradicional da Igreja não se pode violar o
direito fundamental do ordenamento familiar, pois sem ele os desígnios mais
altos do bem-estar e a própria sobrevivência da sociedade estariam
comprometidos. E a essência familiar é constituída por um homem e uma mulher, e
isso foi determinado por Deus ao criá-los, dizendo: crescei e multiplicai-vos e
enchei toda Terra.
Foi uma
vitória quase miraculosa o povo brasileiro ter tirado do poder a esquerda que
há décadas vinha meticulosamente destruindo os valores morais de nossa
sociedade, não só pelo péssimo exemplo que davam, mas também por leis cada vez
mais permissivas, tornando-a frágil, degradada e sem qualquer perspectiva de
futuro.
Nos últimos anos do PT, tais desvios já vinham se
conformando em perseguição religiosa àqueles que por dever de consciência
religiosa reagissem contra a introdução de leis sobre homofobia, identidade de
gênero, aborto, equiparação do casamento monogâmico entre um homem e uma mulher
com as uniões de pessoas do mesmo sexo e adoção de crianças pelos mesmos.
Nesse contexto, foi criado um ambiente favorável ao vício, à
delinquência e à corrupção generalizada, que em contrapartida inibia a virtude,
a honra e a dignidade da grande maioria dos brasileiros. Com efeito, tudo
caminhava para o descalabro e para o caos. Infelizmente, o câncer que carcomia
a ordem não foi totalmente extirpado.
Suas metástases ainda seguem fazendo estragos não pequenos
nas duas Casas Legislativas, frustrando assim os mais nobres anseios da
sociedade. É dever dos governantes exercerem seu poder dentro dos parâmetros da
justiça à procura do bem-estar social. Isto, Sr. Deputado, é um princípio
universal e tem demonstrado que, quando bem cumprido, traz desenvolvimento, paz
e progresso moral e material para as nações.
Caso tal princípio não seja observado, ocorrerá exatamente o
contrário, só trará desgraças, atrasos e até convulsões sociais, como afirma
Santo Agostinho em sua obra “A Cidade de Deus”, quando as nações
violam a Lei de Deus, não existindo céu nem inferno para as mesmas, o prêmio ou
castigo será conquistado nesse mundo, como podemos constatar hoje na Venezuela!
Exemplos patéticos foram as ditaduras comunistas e nazistas
do século passado, e que ainda perduram neste tão conturbado início deste
milênio. Esperamos bem que nessa fase da vida pública brasileira, nossos
políticos — muitos deles imbuídos de ideologias ateias e comunistas — não
continuem nos conduzindo por essas vias tenebrosas. Estaremos atentos e
dispostos a cumprir nosso dever diante do Criador a fim de evitar tal desgraça
para nossa Pátria. Disso Vossa Excelência pode estar seguro, pois o povo
brasileiro já deu provas concretas de sua determinação e coragem.
Com efeito, os valores morais e civilizatórios advindos do
Cristianismo são as bases de uma sociedade sadia. Basta conhecer um pouco da
história da civilização ocidental para perceber o quanto a Igreja Católica
contribuiu para tirar as nações europeias do verdadeiro caos advindo com a
queda do Império Romano em meados do século V.
Ao longo dos séculos, os ensinamentos cristãos foram pouco a
pouco transformando os costumes e as leis pagãs, substituindo-as pelos sábios
ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Inúmeros frutos atestam a
transformação em todos os ramos e atuação do homem, tanto no campo intelectual,
quanto no espiritual, assim como na arte, nos costumes, nas leis, na política,
na vida familiar, que ninguém pode negar ou subestimar o valor histórico da
ação benfazeja da Igreja em todos os setores da vida do homem.
Ninguém tem o direito de destruir esta grande conquista da
humanidade, que foi a cristianização dos costumes e das leis, pois
retornaríamos ipso facto à barbárie. E o bom senso popular proclama
que é exatamente esse o desejo da esquerda para o Brasil, pelo papel de
relevância que o nosso País vem ocupando no concerto hodierno das nações. Ao
observar as discussões que ora vêm ocorrendo no Senado e na Câmara, pode-se
concluir que — infelizmente — nada de relevante vem sendo feito para a
construção de nosso futuro, pelo contrário, o boicote é total.
Volto a
afirmar que o fundamento da sociedade é a família. Ela só será bem constituída
se for nos moldes cristãos, ou seja, monogâmica e indissolúvel, que é direito
dos pais formarem seus filhos dentro da moralidade. Tudo o que fugir disso é
inaceitável e fatalmente, cedo ou tarde, nos conduzirá à ruína.
Atualmente são tantos os fatores de degradação que podem
colaborar para abalar a família, que é dever imperioso dos legisladores zelarem
pela sua fundamental proteção e defesa. Tenham certeza de que não é fazendo
concessões aos erros modernos que poderão salvá-la, na verdade, isso só a
enfraquecerá mais.
No
preâmbulo de nossa Constituição está dito que mesma foi promulgada sob a
proteção de Deus. Sendo assim, as leis devem ser conformes com a Sua santa
vontade. Caso contrário não proporcionarão a harmonia, a paz e o progresso
almejado por todos.
Apenas para
constar, mais uma observação. A mídia, pelo menos a grande imprensa escrita ou
televisiva está cada vez mais desacreditada, porque tem corroborado no sentido
de destruir os valores da civilização cristã em nossa sociedade. Felizmente a
população ordeira e laboriosa tem tido opções no acesso à informação idôneas e
de qualidade, sem o cunho político esquerdista e marxista que domina nas TVs
abertas, por meio das redes sociais, e isso foi uma conquista. O Brasil espera
que os nossos legisladores não queiram votar leis que possam cercear a
liberdade de expressão e o acesso à informação idônea e de qualidade.
Nascido sob
o signo da Cruz, o primeiro ato oficial do Brasil foi a celebração da Santa
Missa. Nascido cristão, assim deveremos nos manter numa nação soberana,
imponente e varonil. Pedimos a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida,
que vele pelo povo brasileiro, e ilumine os nossos governantes a fim de que
façam uma administração dentro dos valores morais e cristãos, assegurando para
esta grande nação e a este povo ordeiro, laborioso e pacífico um futuro de paz,
harmonia e autêntico progresso.
Padre David Franscisquini
Cardoso Moreira, 16 de novembro de 2019
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