11 de setembro de 2018
♦ Padre
David Francisquini *
No artigo anterior, com
o mesmo título em epígrafe, prometi voltar ao assunto do aborto. Apenas
para recordar um ponto importante, torno a citar Santo Agostinho, quando trata
dos homens que se movem por amor a Deus e aqueles que se movem por amor
egoístico, colocando entre este último o pretenso “direito” da mulher de
decidir sobre o seu próprio corpo no caso do aborto.
Com efeito, é com interesse — e muita preocupação — que
vimos acompanhando o desenrolar da ação (ADPF 442), proposta pelo Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª
semana de gestação. Não preciso dizer que se tal proposta for aprovada as
portas da legislação brasileira ficarão escancaradas para todo tipo de aborto.
Para esse Partido Socialista — na verdade radicalmente
comunista —, a lei em vigor viola os princípios fundamentais. Na minha formação
sacerdotal, estudei ciências naturais, ética, filosofia, sociologia e, é claro,
teologia dogmática e moral, não sendo difícil, portanto, perceber a
inconsistência desta ação.
Pela mesma razão, entendo a completa impossibilidade de
juízes — máxime os da Suprema Corte — julgarem procedente a ação desse partido
político libertário, que prega a liberdade para tudo e para todos, menos para o
nascituro inocente e indefeso. É um verdadeiro absurdo sustentar o “direito
fundamental da mulher” de tirar a vida de um ser gerado em seu próprio ventre.
Constitui uma gravíssima ofensa a Deus e à própria dignidade
da mulher atribuir-lhe o direito de matar seu filho. Só num mundo muito
decadente alguém ousaria sustentar o contrário. Se for admitido hoje o
princípio de que se pode tirar a vida de uma pessoa inocente pelo simples fato
de ela não ser desejada, assistiremos amanhã à matança de qualquer pessoa que
venha a prejudicar o nosso egoísmo.
Em passado recente, esta macabra história tornou-se
realidade em inúmeras ditaduras, na Europa e em outras partes do mundo. Jesus
Cristo ensinou que “haveis de chorar e de lamentar, enquanto o mundo há de se
alegrar: vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo”.
Quando a mulher está para dar à luz, ela fica naturalmente
preocupada. Mas sua aflição se transforma em alegria com o nascimento do filho.
É uma imagem de Cristo ressurreto, que veio à luz no domingo da Ressurreição.
Ele, no seio da terra, representa uma criança no ventre materno, e assim como
Ele ressurgiu dos mortos, também a criança virá à luz do mundo.
Na sua epístola aos efésios (cap. 5, 22-33), São Paulo trata
da sublimidade do matrimônio, comparando-o coma união de Cristo com a Igreja.
Se o marido é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo ama a
Igreja e se entrega a Ela para torná-La mais resplandecente e gloriosa.
Como Jesus Cristo ama a Igreja, assim o marido deve amar a
sua esposa como se fosse o seu próprio corpo, porque ninguém aborreceu a sua
própria carne. Antes, ele a nutre e cuida dela como Cristo procede em relação à
sua Igreja, pois somos membros de seu Corpo Místico. O aborto é a violação do
princípio da relação entre Cristo e a Igreja, o esposo e a esposa. Mais.
Enquanto São Paulo fala de luz, de santo, de imaculado e sem rugas, o aborto
fala de destruição, de trevas, de morte e de corrupção.
O fruto do primeiro momento de um relacionamento entre um
homem e uma mulher se chama embrião. Ele contém em grau pequeno um ser vital
que não tardará a nascer homem ou mulher. Afirmar, em nome da dignidade da
mulher, que ela pode eliminar a seu bel-prazer a vida de um filho gerado em seu
ventre, contraria rotundamente os princípios mais elementares da racionalidade
e da sanidade mental. O livro do Eclesiastes narra que o abortado é como algo
que não conheceu a luz do sol, não teve o seu nome ilustrado entre os vivos;
sobretudo, não foi levado à pia batismal.
O Profeta Isaías narra o horror daqueles que morrem na
guerra pelo fio da espada, cujos corpos estendidos por terra são pisoteados
pelos cavalos e pelos guerreiros, comparando-os aos abortados que não têm
sepultura nem honra. Com efeito, a situação do abortado é pior que a do morto
na guerra, sem lar, sem o aconchego da família nem sepultura. E o abortado foi
morto por uma pena capital imposta por lei humana…
Ancorada em bons teólogos e no Catecismo da Santa Igreja, a
moral católica nos ensina que só é lícito matar alguém em legítima defesa da
própria vida ou numa guerra justa, ou ainda no cumprimento de uma execução
penal ditada por um tribunal legitimamente constituído. Nenhuma autoridade, por
mais soberana que imaginar se possa, poderá autorizar ou legitimar tal prática.
A expectativa dos brasileiros é a de que os juízes do
Supremo Tribunal Federal julguem com reta consciência esta questão, não se
deixando influenciar por pressões daqueles que defendem a cultura da morte, nem
mesmo por alguma convicção ideológica própria que vá nesse sentido, mas que
pautem seu voto na lei natural, na Lei de Deus e na Constituição brasileira,
que garantem o direito à vida desde a concepção.
Em oração e sempre vigilantes, rogamos a Nossa Senhora
Aparecida que proteja o Brasil do pecado do aborto que brada aos céus e clama a
Deus por vingança. Que os brasileiros sejam obedientes aos preceitos de Deus,
que nunca desampara seus filhos.
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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria —
Cardoso Moreira (RJ).
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