Rio Cachoeira
Há no teu húmus, neste cordão das vagas,
coisas oblíquas, imaginárias,
dançando num desespero desengonçado.
Há profundezas em tua face barrenta,
um poema inquieto nos remansos incontidos;
extravasas de dilúvio uma canção antiga
que vai morrendo num poente cor-de-chumbo.
O sol piscou amedrontado no horizonte;
o amanhecer surgiu roxo e assustado
entre folhas e pedras de barranco.
A correnteza saltou de repente
sobre os musgos, as casas e as flores.
Balada mística e de mistério
palpita de tédio, de horrores;
cantiga novas de veios correntes
traz um barulhar de queixas,
de cadáveres, de árvores mortas.
Não há explicações de ricos e de pobres.
Deus nada diria por não dever fazê-lo.
Há, vertente, uma obsessão de coisas
Nesta noite inesperadamente apagada.
Bom-dia, Cachoeira amado.
Vejo-te por um minuto humilde
entre escombros e rostos contraídos;
vejo-te numa serenata silenciosa
agora que faz luar
e o sol desponta cor de ouro.
(OBRA REUNIDA)
Ariston Caldas
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“Ariston Caldas era um homem circunspecto e de muito rigor
ético. Estudioso da poética clássica jamais privilegiou soneto ou verso livre. Tinha
uma produção regular, a atingir o conto e a crônica, a preservar intacta a
qualidade do poeta. Sonhou o romance, não obstante confessasse falta de fôlego
para tal empreendimento”.
(Fernando
Caldas)
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