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terça-feira, 9 de outubro de 2018

ITABUNA CENTENÁRIA, UM POEMA: Ariston Caldas- Rio Cachoeira


Rio Cachoeira


Há no teu húmus, neste cordão das vagas,
coisas oblíquas, imaginárias,
dançando num desespero desengonçado.

Há profundezas em tua face barrenta,
um poema inquieto nos remansos incontidos;
extravasas de dilúvio uma canção antiga
que vai morrendo num poente cor-de-chumbo.

O sol piscou amedrontado no horizonte;
o amanhecer surgiu roxo e assustado
entre folhas e pedras de barranco.
A correnteza saltou de repente
sobre os musgos, as casas e as flores.

Balada mística e de mistério
palpita de tédio, de horrores;
cantiga novas de veios correntes
traz um barulhar de queixas,
de cadáveres, de árvores mortas.

Não há explicações de ricos e de pobres.
Deus nada diria por não dever fazê-lo.
Há, vertente, uma obsessão de coisas
Nesta noite inesperadamente apagada.

Bom-dia, Cachoeira amado.
Vejo-te por um minuto humilde
entre escombros e rostos contraídos;
vejo-te numa serenata silenciosa
agora que faz luar
e o sol desponta cor de ouro.


(OBRA REUNIDA)
Ariston Caldas

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Ariston Caldas era um homem circunspecto e de muito rigor ético. Estudioso da poética clássica jamais privilegiou soneto ou verso livre. Tinha uma produção regular, a atingir o conto e a crônica, a preservar intacta a qualidade do poeta. Sonhou o romance, não obstante confessasse falta de fôlego para tal empreendimento”.  
(Fernando Caldas)


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