Povo dinâmico
Descrevemos
em vários capítulos episódios passados em Itabuna até a época atual. Do período
ditatorial até os nossos dias democráticos passaram pela prefeitura Armando da
Silva Freire, 1945, José Dezousa Dantas, 1945, Lauro Azevedo, 1946, Armando da
Silva Freire, 1946, Ubaldino Brandão, 1948, Miguel Fernandes Moreira, 1958,
Francisco Ferreira da Silva, 1955, José de Almeida Alcântara, 1959. Armando da
Silva Freire e Francisco Ferreira da Silva foram, por duas vezes, chefes do
Executivo municipal.
Ao olharmos
para o passado, e antes de tentarmos focalizar o presente, temos a impressão de
que fizemos uma longa viagem.
Se um rei
salmista tivesse aparecido para ordenar a criação de uma cidade e o seu centro
de produção, aos pulos, como concitou as montanhas para adorarem ao Criador, o milagre não se teria operado tão
rapidamente como aconteceu na história da construção de Itabuna.
Os séculos
formam a história da civilização de muitos, povos, no decorrer de anos a fio e
de um trabalho paciente, constante, através de sucessivas gerações.
O município organizou-se rápido, como a ordem da Palavra de
Deus, na criação do mundo que habitamos, segundo a narração Bíblica.
Ainda vivem
pessoas que conheceram, conviveram com os seus primeiros fundadores e que,
ainda, alcançaram os velhos trechos da vila e da cidade fundada em 1910. Manuel
Fogueira, Jorge Maron Filho, Gileno Amado, Francisco Fontes e muitos outros
guardam ainda na memória os fatos mais destacados da construção de Itabuna.
Há deles
que trabalharam nas ruas, calçando-as, há deles que derrubaram matas e fizeram
plantações de cacau, há deles que coivararam as matas para semear o capim das
pastagens, há deles que tomaram parte no domínio político.
O fato
importante na formação do município é ter sido produto de puro sangue
brasileiro. O mesmo ardor que se agarrou ao desbravador das matas ilheenses
apoderou-se dos que cultivaram as matas Itabunenses. Sendo que na terra Itabunense
o estrangeiro não orientou, não incentivou, nem civilizou. O trabalho, a
cultura da terra, a expansão, o método,
a disciplina, o exemplo, da dedicação, de abnegação, decorreram, fluíram dos
brasileiros oriundos de todos os Estados,
destacadamente dos sergipanos.
Se tivesse
havido, na formação de Itabuna, um plano previamente organizado, com ensino
técnico sobre lavoura, com divisões de áreas para cacau, cereais, pastagens, por
certo o plano não atingiria, neste regime, a meta que alcançou o trabalho feito
pelos destemidos desbravadores da terra. Ela, se olhada do alto, se reduzida a
um postal, se apresentaria como um verdadeiro jardim armado de leiras
gigantescas que se poderiam apontar com os dedos e dizer: “Aqui está a área do
cacau, ali a dos cereais, acolá a das pastagens e, ainda, à margem do rio o
comércio, seu centro de abastecimento”. No conjunto há tal harmonia, um cuidado
de aplicação de energias de distribuição de trabalho que denuncia e revela a
capacidade de orientação econômica de um povo.
Não há um
palmo de terra desocupada, sem dono, sem uma finalidade. Economistas que se
houvessem reunido para criar alguma coisa dinâmica com as suas doutrinas de
produção e riqueza, talvez não tivessem realizado uma obra tão admirável como a
levada a efeito pelos Itabunenses, em todos os setores.
Contemplada
a obra em detalhes, por algum exigente sociólogo, naturalmente apresentará
algumas falhas o que não é de estranhar ou censurar, dada a marcha acelerada da
sua edificação, e a simplicidade dos seus operários.
Mas como
obra de conjunto não vemos falhas que perturbem o ritmo da sua grandeza. Nela não
falta o aspecto social, o político, o econômico. Nela se vê, se percebe, se
sente a força da evolução, do progresso, da prosperidade, o sentido da marcha
para o bem-estar público, que é o sentido altamente característico de uma
civilização em posição cultural apreciável.
As suas
escolas, os seus hospitais, as suas associações, os seus estabelecimentos
bancários, os seus jornais, a possante estrutura do seu mundo econômico e
financeiro, a linha de orientação construtivas dos seus governantes, expressam
o retrato fiel de um povo integrado e consciente, politizado e certo do
programa que cumpre, no objetivo de melhores dias e de um futuro grandioso.
E o que
significa, no seu povo, essa ânsia de progresso, de desenvolvimento, de consciência
econômica social? Significa que o povo Itabunense guarda, conserva, cultiva em
todas as formas de evolução, de adaptação, de lutas, os sentimentos dos seus
antepassados, mantém com dignidade o nome legado por eles, e olha o futuro.
Um simples
olhar de observação, uma análise superficial evidencia o arrebatamento dos Itabunenses
na marcha para o progresso. Eles não esperam pelos governos, eles não apelam
para os vizinhos, eles não se queixam das suas mágoas. Eles trabalham,
produzem, avançam. Cobrem as etapas das suas iniciativas, com uma facilidade
inverossímil, com o dinamismo de um povo sacudido por uma determinação
revolucionária.
Poderíamos
dizer que os Itabunenses escreveram, em curto prazo, a maior página de
progresso e prosperidade da terra cacaueira.
Preferimos,
todavia, afirmar que escreveram a mais bela e encantadora página do livro da
história da economia regional.
Tivéssemos
tomado uma canoa e percorrido durante anos e meses o longo curso de um rio, ao
chegarmos à sua foz, ao darmos num mar aberto, poderíamos exclamar: assim
aconteceu à terra Itabunense, de Firmino Alves até aos nossos dias. Em 1860, em
1901, em 1910, o município representava esse rio que navegamos. Em 1959, data
do cinquentenário de sua fundação de cidade, é o município esse mar imenso que divisamos
oceano de atividade humana e de civilização.
(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XXVIII)
Carlos Pereira Filho
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