13 de Março de 2018
Teresio Olivelli participou da resistência católica. Lutou
contra a URSS, foi morto pelos nazistas num campo de concentração.
Plinio Maria Solimeo
Em
janeiro de 2008, 73 anos após sua morte, Teresio Olivelli teve reconhecido o
seu martírio e foi elevado à honra dos altares na condição de beato. Sua breve
vida foi tão cheia de acontecimentos que mais se assemelha a um filme de ação.
Assim a resume o site Religión en Liberta1: “Defensor
da Espanha católica perseguida na Guerra Civil, seduzido por alguns aspectos do
fascismo, quis impregná-lo dos valores cristãos; lutou contra a URSS na II
Guerra Mundial, enfrentou o nazismo e o fascismo como membro da resistência
católica, foi detido e levado a campos de concentração, escapou de vários
deles, erigiu-se em defensor dos mais débeis na prisão, e finalmente morreu por
ódio à fé, no campo alemão de Hersbruck, ao receber os golpes destinados a
outro.” Tudo isso antes de Teresio Olivelli atingir os 30 anos de idade.
Nascido em 1916 em Bellagio, no norte da Itália, recebeu
muita influência religiosa de seu tio materno, o Pe. Roco Invernizzi, pároco de
Tremezzo. Em 1926 mudou-se com os pais para Pavia, onde dois anos depois se
formou com louvor em Direito.
Católico autêntico, ele correspondeu à benéfica influência
do tio sacerdote. Ia diariamente à Missa e fazia sua meditação, também diária,
com base nos Evangelhos e na Imitação de Cristo. Confessava-se e comungava
semanalmente. Entrou para a Ação Católica, distinguindo-se pelo amor aos pobres
e aos indefesos, bem como pela defesa destemida da fé quando surgia ocasião.
Entretanto, por certa ingenuidade, sendo ainda muito moço,
deixou-se atrair por alguns aspectos mais conservadores do fascismo e nele se
filiou no intuito de influenciá-lo por dentro, para impregná-lo da doutrina
católica. Essa ilusão com o fascismo inicial atraiu a este muitos católicos
desavisados.
Teresio chegou até a ocupar cargos nesse regime. Entretanto,
quando retornou da Rússia durante a II Guerra Mundial, tendo conhecido as
aberrações e as consequências deletérias do fascismo, rompeu definitivamente
com sua ideologia, abandonando qualquer forma de colaboração, mesmo cultural,
com ele.
Em 1936 estourou na Espanha a sanguinária Guerra Civil [foto] entre
comunistas e católicos, com furibunda perseguição à Igreja. Nela 4.184
sacerdotes, 2.365 frades e religiosos, 283 monjas e mais de 3000 seculares
foram assassinados. Centenas deles já foram elevados à honra dos altares.
O jovem Olivelli desejou ir àquele país para lutar em defesa
dos católicos. Mas iria por sua conta e à margem do contingente mandado pelo
regime fascista. Entretanto, seu tio sacerdote o dissuadiu de participar dessa
cruzada, embora alguns afirmem que ele chegou a ir.
Teresio assim se expressa, em carta, sobre o dever dos
jovens e o que sucedia na Espanha: “A juventude, ou é heroica, ou é
miserável. O homem não pode dar a uma ideia a metade de si mesmo; tem que dar
tudo. Assim que, quando é Cristo o ideal que nos impulsiona, creio que o dever
se cumpre com um amor total a Ele, que deve ser consumado até a última gota de
sangue. Ou se vive a fé como conquista, ou mais se assemelha à anemia dos
invertebrados. Na católica Espanha se está atacando o divino em nós, combate-se
para vencer o Anticristo [comunista], que é a negação do homem e de
Cristo. O futuro não pertence aos fracos. A vida é perfeita quando
perfeito é o amor”.
Em 1939 ele se tornou professor assistente na Universidade
de Turim, e por suas habilidades oratórias ganhou um concurso em Trieste.
Como professor assistente na Universidade de Turim, apesar
de muito jovem, Olivelli mostrou-se muito competente no âmbito cultural. Nas
horas vagas ia ajudar a cuidar dos pobres no hospício fundado por São José
Benedito Cottolengo.
Quando estourou a II Guerra Mundial, o jovem jurista se
apresentou em 1941 como voluntário na Divisão Tridentina que ia à Rússia. Fê-lo
para compartilhar o destino dos que estariam mais expostos na batalha. Com o
posto de segundo-tenente, Olivelli ali viveu o horror da guerra e constatou por
experiência própria a perversidade da seita comunista.
No horror do campo de batalha, auxiliando os capelães do
regimento, Teresio Olivelli procurava dar assistência espiritual e conforto aos
feridos e moribundos, preparando-os para verem a Deus face a face. Ele não
duvidava em arriscar sua vida para resgatar os caídos em combate. Isso se
tornou mais dramático durante a desastrosa retirada, na qual ele muitas vezes
tinha que abrandar sua marcha para ajudar os feridos e os fatigados, mesmo com
o risco da própria vida. Olivelli comentava com eles o Evangelho, levando-os a
sofrer com resignação os extremos do angustiante frio, como ocorreu sob as
tempestades de neve às margens do rio Don, procurando de algum modo os aliviar.
Entretanto, não estava nos planos divinos que ele caísse no
campo de batalha. Olivelli pôde retornar à Itália em 1943, aos 27 anos de
idade. Foi então nomeado reitor do prestigioso Colégio Ghislieri, de
Pavia [foto ao lado].
Depois do armistício desse ano de 1943 e a consequente
invasão alemã de toda a parte da Itália que não havia ainda sido recuperada
pelos aliados, Teresio Olivelli não quis jurar lealdade à nova República Social
Italiana e tornar-se cúmplice dos crimes nazistas. Foi então detido e enviado a
um campo de prisioneiros em Insbruck, e depois para outros dois. Conseguiu
escapar do segundo e fugiu a pé para a Itália, onde se juntou à resistência
católica.
Para ele, a reconstrução do país depois da guerra não seria plena
sem os valores cristãos. Daí a necessidade de uma “rebelião da consciência e do
intelecto” em face dos erros vigentes. Nesse sentido, fundou em março de 1944
“O Rebelde”, publicação clandestina de circulação entre os meios católicos.
Nela publicou um “manifesto dos rebeldes”, no qual conclamava os católicos para
o que chamava de “revolta moral contra o fascismo”, a ser levada avante
por meio da oração.
É claro que foi logo descoberto pela polícia alemã e levado
para diversas prisões, sendo em cada uma delas torturado e açoitado sem
clemência. Chegou assim ao campo de prisioneiros de Flossenbürg, na Baviera. Na
prisão, Olivelli se valia de seu domínio da língua alemã para assistir outros
prisioneiros, inclusive carregando suas culpas.
Finalmente foi transferido para o campo de concentração de
Hersbruck, onde confortou e assistiu em seus últimos momentos o seu amigo
Eduardo Focherini, agora também beatificado.
Como verdadeiro apóstolo, Teresio organizou a reza diária do
terço às noites no campo de extermínio. Dava conselhos e assistência aos outros
prisioneiros, cedendo inclusive parte de sua comida aos mais necessitados. Na
ausência de sacerdotes no campo, ele organizava as orações secretas, reuniões
para leitura do Evangelho, aulas de catecismo, inclusive em diferentes idiomas.
Prestava também assistência religiosa aos moribundos. Seu cuidado com os
doentes era extremo: cuidava dos abandonados, levava-os à enfermaria,
ajudando-os dia e noite, limpando suas feridas, distribuindo sua magra ração
entre eles para fazê-los sobreviver, enquanto ele ia emagrecendo. Desse modo
passou a ser conhecido no campo como o “sacerdote substituto”. Foi precisamente
ajudando os débeis que Teresio encontrou a morte.
Por tudo isso os agentes da SS o odiavam mais que aos outros
prisioneiros, pois viam nele quase um sacerdote. Por isso o maltratavam
impiedosamente por qualquer motivo, de modo que, em dezembro de 1944, pouco
antes de seu martírio, Teresio já estava com o corpo cheio de contusões e
feridas.
Em janeiro de 1945, quando um feroz guarda nazista ia
atingir um débil prisioneiro ucraniano, Teresio cobriu-o com seu corpo. Cheio
de ódio, o guarda deu-lhe um pontapé no estômago e o cobriu de golpes. Já muito
débil, o beato foi levado à enfermaria, aonde chegou quase moribundo. Depois de
duas semanas de agonia e sofrimento, durante as quais manteve a lucidez
suficiente para rezar, percebendo que seu fim estava próximo, recomendou que
suas roupas fossem dadas a um companheiro de prisão. Olivelli consumou o seu
martírio aos 29 anos de idade.
____________
http://www.religionenlibertad.com/lucho-contra-urss-paso-resistencia-catolica–57587.htm.
Também consultada: Gianpiero Pettiti Santi i beati,
http://www.santiebeati.it/dettaglio/92229
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