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segunda-feira, 19 de março de 2018

CONHECENDO E DISSEMINANDO A MENSAGEM (IV) – Clóvis Silveira Góis Júnior


4.4. Em busca do ministro



            Em boqueirão, por volta do ano de 1915, fiéis já declinavam dos labores no sétimo dia. Liam a pouca literatura que possuíam, mas faltava-lhes alguém preparado para oficiar sermões e dirigir cerimônias e rituais cristãos. Anelavam por batismos! Queriam selar sua fé publicamente e obter o referendo dos céus! Mas como? Nunca UM PASTOR HAVIA PISADO EM Boqueirão. Depois dos folhetos, vieram colportores, mas estes não foram ordenados pela igreja para oficiar batismos. Estavam certos de que já obedeciam a Deus em tudo. Porém, tinham lido em Marcos 16:16 que “quem crer e for batizado será salvo”. Então, eles precisavam cumprir esta segunda parte. A volta de Jesus lhes parecia iminente e poderiam assim ficar fora do céu.

            A comunidade campesina do Boqueirão havia enviado cartas anunciando ao responsável interino pela Obra na Bahia a existência de interessados na localidade, mas sem sucesso. Insatisfeito com a situação, João Roberto Ramos encetou viagem a São Salvador para homologar sua salvação por meio do batismo. Imagine as dificuldades e os custos inerentes a uma viagem como essa há 100 anos. Não havia estradas carroçáveis para a capital e viagens marítimas via porto de Ilhéus deviam onerar bastante qualquer reserva financeira.

            Chegou a Salvador, inquirindo onde residiam os adventistas. Por fim, recomendaram-lhe uma Igreja Batista, onde, inicialmente, foi afavelmente recebido por quem lá se encontrava, naquele momento, fora do horário do culto: o zelador. Todas as dependências do complexo religioso lhe foram mostradas: templo, escola paroquial, salas de reuniões e o tanque batismal, onde, segundo o aplicado funcionário, João Roberto seria batizado no domingo. Aquela última palavra não soou bem para os seus ouvidos do nosso protagonista: Domingo!?

            “Que dia observam os cristãos dessa comunidade?” perguntou o irmão Roberto. Prontamente, próprio daqueles que tem o zelo missionário na veia, já certo de testemunhar mais uma conversão no próximo culto dominical, o zelador respondeu: “Guardamos o Domingo, dia da ressurreição de Cristo!” Começava naquele momento mais um embate teológico-leigo dos muitos que o fazendeiro Grapiúna iria travar em sua longa vida de cristão adventista. Fazendo uso de sua retórica e habilidade no conhecimento textual, garantiu: “Tenho lido a Bíblia muitas vezes durante os anos passados, porém nunca li que os filhos de Deus devem guardar o Domingo!”. O semblante do interlocutor decaiu rapidamente e, dando por finalizado o pequeno debate, exasperou: “Se o senhor quer ser judeu e guardar o Sábado, não deve nos procurar, mas ir procurar os sabatistas”. Provavelmente, apontando o dedo com certo desprezo para um determinado local, o zelador mostrou onde encontraria o ministro desejado. E lá se foi o dedicado irmão.

            A esperança de ver seu objetivo alcançado esmoreceu momentos depois, quando constatou a ausência do ministro por ele procurado. Não se encontrava em Salvador aquele que cerimonialmente e humanamente lhe conduziria aos pés de Cristo e Este anotaria seu nome no Livro da Vida. Na verdade, o presidente responsável pela Missão Nordeste (Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Pernambuco), no período de 1914 a 1920, era o pastor Ricardo José Wilfart, que morava em Caruaru/PE, e quem atendia interinamente no Estado da Bahia era o obreiro Zacarias Martins Rodrigues. Depreende-se daí que a casa apontada como residência do pastor na verdade era onde residia o obreiro e colportor Zacarias (que era considerado pelos leigos como um pastor), e este, quando escrevia algum artigo param a Revista Adventista, o fazia datando e assinando da Bahia, nome mais conhecido de Salvador à época. Ele próprio reconheceu, na Revista Adventista de fevereiro de 1918, p. 11, que estava ausente na visita que João Roberto fizera a sua casa. E, no mesmo ano, sua ausência foi justificada por meio da Review and Herald. São suas as seguintes palavras: “veio em minha casa uma série de interessados que haviam viajado longa distância do Boqueirão para Bahia, para convidar-me para ir lá. Eles voltaram, no entanto, muito desapontados, já que na época eu estava buscando outros interessados em outras partes do estado”.

            Chateado pela situação, mas não desesperançoso, magoado, mas não desiludido; abatido, mas não desanimado, retornou ao Boqueirão. Sua fé lhe sussurrava aos ouvidos que logo mais chegaria o dia em que não somente ele, mas todos os fiéis de sua comunidade mergulhariam nas águas, morrendo para o mundo secular e nascendo salvos para Cristo!

            Retornando aos seus, novas missivas são produzidas e encaminhadas ao obreiro Zacharias Martins Rodrigues. Ele responde-as alegando ausência em virtude de falta de tempo e também por questões administrativas:

“Ultimamente, recebi uma carta
destes irmãos, convidando-me que lhes
fizesse uma visita, pois, que existe ali
um bom grupo, a cujo pedido, porém,
não pude atender imediatamente por
falta de tempo e porque estava
esperando aqui o irmão Lipke”.


(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.4.)
Clóvis Silveira Góis Júnior


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