A família Amado
O
progresso da região cacaueira e sua fama deram lugar aos comentários,
promovendo a presença de várias famílias de outros estados, de linhagem, porém
empobrecidas, a virem residir nessa região, tal como vieram os flagelados da
seca nordestina, e da Guerra de Canudos. Dentre outras está a família Amado,
com cerca de 18 membros. Os primeiros aqui aportados foram os srs. João e
Álvaro Amado, os quais passaram a residir em Ferradas, onde começaram a vida
com o ramo de vendagem de leite adquirido nos produtores dos distritos e vendido em Itabuna. Mais
tarde tornaram-se conhecidos pela
alcunha de “Leite com Água”. Desta ou daquela maneira, não tardou que “Leite
com Água” se tornassem senhores do mercado do produto.
Quando em
9 de abril de 1909, o estudante Gileno Amado aqui chegou, já foi recebido por
seus tios, não mais como simples homens do povo, e sim por dois caudilhos
políticos, pertencentes ao grupo Leonista, tanto assim que deles nasceu sua
acolhida junto a Olintho Leone sendo
aproveitado através de sua inteligência para servir no seu júri, como promotor
“ad-hoc”, em vista da falta do promotor
de Ilhéus. Leone absolvido, em sinal de gratidão lhe nomeou secretário da
Intendência de Itabuna, da qual era o atual intendente. Dali saiu em 1910, para
o Rio de Janeiro, para concluir seus estudos à custa da Intendência de Itabuna,
onde formou-se em fins de 1911, voltando a Itabuna.
Graças ao
prestígio político de Olintho foi eleito, em 1912, deputado estadual. Com a
morte do Dr. Olintho e do Cel. Fernando Dourado, seu sucessor, a estrela do Dr.
Gileno apagou um pouco, mas teve tempo de trazer de Itaporanga, em Sergipe,
todos os restantes da sua família. Voltando a política novamente para suas
mãos, nomeou logo o Cel. Melquisedeque,
seu pai, como 2º Tabelião de Notas de Itabuna, e seus irmãos em cargos
diversos. Em 1918, elegeu-se deputado federal e, em 22, intendente de Itabuna,
onde montou sua máquina na política, que só o acaso lhe levou ao chão. Isto
porque não se conformando com as atitudes do Dr. Seabra quando escolheu Dr. Calmon para lhe suceder no governo do
Estado, daí seu rompimento com aquele governador e seu afastamento imediato das
posições políticas de Itabuna, passando a residir no Rio de Janeiro, em
verdadeiro ostracismo.
Mesmo
assim precisou voltar a residir em Itabuna, para estar ao lado de seus amigos,
daí sua volta à política onde após a vitória da Revolução de 1930, foi ele
aproveitado pelo interventor Juracy Magalhães assumindo as diretrizes políticas
de Itabuna, com seus amigos chegando a ser secretário da Fazenda, e mais tarde,
no governo constituído do Sr. Juracy Magalhães, em 1958, foi escolhido para o
cargo de secretário sem pasta, no quatriênio (1958 a 1961) e distinguiu-se
nesta região, através dos seus atos.
O mais
admirado em tudo isso é que tendo o Dr. Gileno e todos os seus parentes
residido em Itabuna, tendo a melhor acolhida, deles até se capitalizando como
João, Álvaro e Gileno Amado, não existe ninguém que aponte qualquer pedra assentada
em Itabuna por alguém desta família quando era dirigente. Dirá o adágio: “Aí
está a ação fraternal!...” Puro engano. A Ação Fraternal é obra de dona Amélia.
Dona Amélia Amado, apesar de ter nascido do lado do Cel. Misael e casada com um
Gileno Amado, deu notícia ao mundo que pertence a qualquer casa da divindade,
daí sua obra, Ação Fraternal. Não quero com isso dizer que eles fossem
indesejáveis, falo apenas que foram pessoas ingratas e que viveram para a vida lucrativa, haja vista que se ouviu falar
por muito tempo que quando Misael morreu seus parentes pagaram a várias pessoas
para chorar a sua morte. Na morte de Dr. Gileno, nem mesmo pago pelo Alcântara,
seu parceiro, o povo conseguiu chorar e levá-lo a sua última morada.
O sul do
estado da Bahia deu o maior líder político já visto. Sonho realizado de um
gênio que atravessando os maiores impasses de sua vida através do sofrimento, tornou-se
o maior líder popular de todo o estado da Bahia. Após sua morte, seu prestígio
político conseguiu eleger mais dois prefeitos em Itabuna, o primeiro em sua
substituição para o término do seu mandato e o segundo o Dr. Simão Fitermann para completar sua obra.
Alcântara levava milhares à praça em seus comícios,
passeatas, etc. seu lema era De colher.
(TERRA, SUOR E SANGUE – HISTÓRIA DA REGIÃO CACAUEIRA,
Cap. XX)
José Pereira da Costa
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