Assunção de Nossa Senhora - Domingo 20/08/2017
Anúncio do Evangelho (Lc 1,39-56)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.
Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo
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VISITAÇÃO:
o encontro com o outro faz saltar a vida em nosso interior
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no
seu ventre...” (Lc 1,41)
A festa da Assunção de Maria nos oferece uma privilegiada
oportunidade para aprofundar o mistério de toda vida humana. A todos nos
preocupa qual será meta de nossa existência. Para grande parte do povo
católico, a festa de hoje, juntamente com a festa da Imaculada, é a festa de
Maria. A Imaculada marca o começo de sua história, a Assunção marca o destino
final. Entre ambos “mistérios” ocorre o transcurso de sua vida, numa contínua
identificação com Deus, ao lado da vida de Jesus.
Porque “assumiu” Deus em sua vida, Maria foi “assumida”
totalmente por Deus; ela deixou Deus ser grande na sua vida; por isso, Deus a
engrandeceu plenamente. Realiza-se, portanto, em Maria a situação final, já
dentro da história, situação prometida a toda humanidade: “ser um dia de Deus e
para Deus”; Maria o é desde o início (imaculada) até o final (assunção),
através de uma fidelidade de toda a sua vida.
Sabemos que o encontro definitivo em Deus só acontece quando
preenchemos de sentido os “encontros” com aqueles(as) que cruzam nossas vidas.
No relato do Evangelho de Lucas, indicado para a festa de hoje, há duas
mulheres, Maria e Isabel, que experimentaram profundamente o dom da gratuidade,
e seu lugar de carência se converteu em lugar de abundância. As duas
descobriram o dinamismo curador das relações e a riqueza que os encontros
pessoais revelam.
As relações que nos constituem são o tecido pelo qual
circula nossa abertura a Deus e por onde crescemos em humanidade, acolhendo e
sendo acolhidos pelos outros. Vivemos em um mundo hiperconectado, em contato
permanente e presente, ao mesmo tempo, em todos os lugares. O mundo, nossa
vida, se converteu num “chat” contínuo. No entanto, em meio a este “chat”
universal, a conversação emudeceu; a maior parte de nossas “conversações”
tornaram-se prisioneiras das telas (celulares, tablets, smartphones, internet).
Corremos o risco de reduzir a comunicação à conexão. Banalizam-se os conteúdos
da conversa, mas também são amputadas dimensões fundamentais da experiência da
comunicação, sobretudo a presença física. Sem essa presença, sem o encontro
pessoal, não é possível o diálogo e a verdadeira comunicação. Este empobrecimento
da comunicação vivente com o outro, ou a atrofia e medo de um face-a-face, é
sinal claro de uma profunda desumanização.
O “mistério da visitação” nos possibilita recuperar o
sentido e o dinamismo de um encontro interpessoal. O encontro é uma realidade
inter-humana dinâmica e, até certo ponto, tem algo de arriscado e imprevisível,
derrubando todas as nossas prévias tentativas de controlá-lo. Podemos
planificá-lo preparando estratégias; podemos acolhê-lo cheio de expectativas
ou, pelo contrário, sem elas, esperando uma mera formalidade, repetição de
outras situações semelhantes; podemos nos mostrar desejosos ou desconfiados,
seguros ou ansiosos... De repente, algo inesperado acontece, na outra pessoa,
ou em nós mesmos, ou no contexto, convertendo aquele encontro numa situação
única e original, afetando nosso viver ou transformando nosso eu profundo.
O evangelista Lucas nos apresenta uma visita inesperada: a
visita daquela que não permanece fechada nem ensimesmada em seu mistério; a
visita daquela que se sente impulsionada a sair de si mesma para colocar-se a
serviço daquela que está necessitada de ajuda. Uma visita alegre, espontânea e
gratuita, porque cheia da experiência de Deus; Maria que faz Isabel sentir a
alegria de uma maternidade não esperada e Isabel que faz Maria sentir as
maravilhas que Deus realizou nela. Uma visita que se expressa em dois cantos de
louvor e ação de graças: “Bendita és tu que acreditaste” e “Minha alma
engrandece o Senhor”.
As duas mulheres se encontram em diferentes momentos vitais:
Isabel na terceira etapa de sua vida, Maria quase na primeira, entrando na
segunda. Uma é estéril e anciã, a outra, jovem e virgem, ambas portadoras de
uma vida maior que elas mesmas, conhecedoras do mistério que crescia em seu
interior. Devido à sua gravidez, as duas se encontram fora da norma social, do
estabelecido. Isabel é idosa para poder conceber, e Maria está grávida sem
estar casada. Ambas deviam sentir não só alegria no abraço, mas também a
comoção e as dúvidas: “quê vai acontecer?”, “como vamos ajeitar as coisas?”...
Elas apoiam-se mutuamente no momento no qual estão, na
situação que atravessam; reconhecem-se e se confirmam; estabelecem um vínculo
entre elas, aceitam-se mutuamente; não se julgam nem valoram em função do que a
sociedade considera correto ou incorreto; compreendem o que significa para cada
uma delas que algo novo está crescendo em seu interior.
Maria não vai só servir a Isabel; ela precisa de alguém que
a partir de sua experiência lhe diga: “vai em frente, que isso é de Deus”.
Necessita que Isabel a confirme e a bendiga. E Isabel, por sua vez, necessita
agradecer o sonho de Deus que as duas compartilham e que se tornou possível.
Isabel e Maria se convertem cada uma em comadre, em parteira da outra; a partir
de seus diferentes momentos vitais, vão se ajudar a esperar e a passar o
processo do “dar à luz”. Na vida nova que está se gestando nelas, no secreto,
anseiam em uníssono para trazer ao mundo algo de Deus que estava oculto.
As duas sabem de espera e de dores de parto. O parto não é
um fato isolado e acontece nele a contração e a relaxação, a dor e o prazer, a
posse e o desprendimento, a tristeza e a alegria, o medo e a confiança. Isto
que as parteiras mencionam como momentos do parto, do “dar à luz”, são momentos
de nossa vida, de nossos encontros. Todos nos reconhecemos aí. Somos parteiros
uns dos outros, e necessitamos cuidar desses processos cotidianos onde a vida
do Espírito se manifesta como luz da vida.
À sombra do encontro entre Maria e Isabel e contemplando o
modo de visitar e de ser visitado, agradecemos o tecido relacional que
configura nossas vidas. É um tempo para orar os encontros, para considerar
aqueles que precisamos continuar alimentando e aqueles que se romperam e que
queremos reparar. Agradecer os encontros que nutrem nossa vida. Trazer ao
coração as pessoas significativas que nos fizeram provar o sabor do amor em nós
e seus bons efeitos. Recolher agradecidamente os pequenos gestos de amor, de
carinho, de escuta, de confiança, de paciência... que tiveram conosco.
Há visitas que não significam muito: só servem para matar o
tempo e “jogar conversa fora”. E há visitas que despertam vida, que faz saltar
a vida divina que carregamos dentro de nós. Por isso, todos somos seres
carentes de “mais visitações”. Visitações que despertem nossas possibilidades e
sonhos, visitações que nos façam saltar de alegria, visitações que nos ajudem a
reconhecer as maravilhas que Deus realiza em nós e nos outros.
Isabel e Maria se fazem valer mutuamente e despertam o
melhor que há em cada uma. Viveram uma história de agradecimento e de
libertação, se encontraram a partir da alma, a partir do mais profundo de si
mesmas e se ofereceram mutuamente palavras amigas, palavras de encorajamento e
de sabedoria. Elas nos ajudam a nos perguntar: Quê tipo de história relacional
queremos viver? Uma história a partir do ego ou a partir interioridade?
Texto bíblico: Lc 1,39-45
Na oração: sua casa, lugar de visitação e encontro, espaço
humano de partilha, convivência, festa, ajuda...?
Ou, casa cercada de parafernália eletrônica de segurança,
com entrada rigorosamente controlada..., impedindo o acesso até mesmo dos mais
próximos (parentes, amigos)?
- Seja uma casa sempre aberta: “entrada franca”;
Casa, lugar do lava-pés, do mandamento novo, da amizade, da
visitação...
Casa, lugar de unção-acolhida, serviço e cuidado...
Casa, lugar da gestação de novas vidas, da experiência de
nascimentos permanentes...
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Campinas-SP
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