Covardia e medo
Em crônica da semana retrasada, lembrei que o ex-presidente
Jânio Quadros chamou de "poltrão" o ano que então se acabava. Ele
próprio não sabia que era também um poltrão, daí que renunciou sete meses
depois de ter tomado posse na Presidência da República, dando o pontapé inicial
à ditadura militar.
Para ser sincero, eu desconfiava que "poltrão" era
alguma coisa pejorativa, mas não sabia bem o seu significado. Fui depois ao
mestre Aurélio e verifiquei que a palavra significava covarde e medroso.
Certamente, ela pode ter significados piores. Mesmo assim se deve classificar
como poltrão o ano que passou.
Um ano que foi medroso e covarde. Não teve medo de rebaixar
o Brasil à condição de país quase falido e certamente de país onde a corrupção
se instalou oficiosamente. No passado, o Brasil era considerado o país do café,
de Pelé e de Carmen Miranda. Hoje é o país da corrupção e da violência urbana.
Para ter direito a ser considerado "poltrão" no
sentido que lhe deu o mestre Aurélio, o ano também foi covarde, não tomando as
medidas que foram prometidas na campanha de dona Dilma e Temer. Dou um exemplo:
quando nomeou Lula para a Casa Civil, para livrá-lo da Lava Jato, ela voltou
atrás sem coragem de enfrentar a oposição generalizada que provocou.
Parente próximo da covardia, 2016 marcou o país que deixou
de ser do futuro para se tornar o país de um presente escandaloso e com
perspectivas sombrias. Sendo uma República Federativa, tem agora grandes
Estados (Rio, Minas, Rio Grande do Sul etc.) em petição de miséria, sem pagar
seus funcionários e fornecedores.
Jânio Quadros renunciou porque tentou proibir as brigas de
galo e os biquínis das mulheres. Junto com os votos de próspero Ano-Novo,
espero que o governo atual não repita a "poltronice" do
ex-presidente.
Folha de S.Paulo (RJ),
01/01/2017
Carlos Heitor Cony
- Quinto ocupante da Cadeira nº 3 da ABL, eleito em 23 de março de
2000, na sucessão de Herberto Sales e recebido em 31 de maio de 2000 pelo
acadêmico Arnaldo Niskier.
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