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quarta-feira, 21 de junho de 2017

JUNHO - MÊS DE MACHADO DE ASSIS (XIV)

21 de Junho: Dia de Machado de Assis!
Última Folha


Musa, desce do alto da montanha 

Onde aspiraste o aroma da poesia, 
E deixa ao eco dos sagrados ermos 
          A última harmonia. 

Dos teus cabelos de ouro, que beijavam 
Na amena tarde as virações perdidas, 
Deixa cair ao chão as alvas rosas 
          E as alvas margaridas. 

Vês? Não é noite, não, este ar sombrio 
Que nos esconde o céu. Inda no poente 
Não quebra os raios pálidos e frios 
          O sol resplandecente. 

Vês? Lá ao fundo o vale árido e seco 
Abre-se, como um leito mortuário; 
Espera-te o silêncio da planície, 
          Como um frio sudário. 

Desce. Virá um dia em que mais bela, 
Mais alegre, mais cheia de harmonias, 
Voltes a procurar a voz cadente 
          Dos teus primeiros dias. 

Então coroarás a ingênua fronte 
Das flores da manhã, — e ao monte agreste, 
Como a noiva fantástica dos ermos, 
          Irás, musa celeste! 

Então, nas horas solenes 
Em que o místico himeneu 
Une em abraço divino 
Verde a terra, azul o céu; 

Quando, já finda a tormenta 
Que a natureza enlutou, 
Bafeja a brisa suave 
Cedros que o vento abalou; 

E o rio, a árvore e o campo, 
A areia, a face do mar, 
Parecem, como um concerto, 
Palpitar, sorrir, orar; 

Então sim, alma de poeta, 
Nos teus sonhos cantarás 
A glória da natureza, 
A ventura, o amor e a paz! 

Ah! mas então será mais alto ainda; 
          Lá onde a alma do vate 
          Possa escutar os anjos, 
E onde não chegue o vão rumor dos homens; 

Lá onde, abrindo as asas ambiciosas, 
Possa adejar no espaço luminoso, 
Viver de luz mais viva e de ar mais puro, 
          Fartar-se do infinito! 

Musa, desce do alto da montanha 
Onde aspiraste o aroma da poesia, 
E deixa ao eco dos sagrados ermos 
          A última harmonia! 

Machado de Assis, in 'Crisálidas' 



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Citações:
Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.
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Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la.
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Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.
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Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.
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Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.
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As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
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O tempo é um químico invisível, que dissolve, compõe, extrai e transforma todas as substâncias morais.
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A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.
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Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.
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Lágrimas não são argumentos.
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Não se ama duas vezes a mesma mulher.
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Não há decepções possíveis para um viajante, que apenas vê de passagem o lado belo da natureza humana e não ganha tempo de conhecer-lhe o lado feio.
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A mentira é muita vez tão involuntária como a respiração.
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Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...
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Descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.
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O amor é o egoísmo duplicado.
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O coração é a região do inesperado.
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O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento.
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Porque não há raciocínio nem documento que nos explique melhor a intenção de um acto do que o próprio autor do acto.
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A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente.





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