Quando uma virgem morre, uma estrela
aparece,
Nova, no velho engaste azul do firmamento:
E a alma da que morreu, de momento em
momento,
Na luz da que nasceu palpita e
resplandece.
Ó vós, que no silêncio e no recolhimento
Do campo, conversais a sós, quando anoitece,
Cuidado! – o que dizeis, como um rumor
de prece,
Vai sussurrar no céu, levado pelo
vento…
Namorados, que andais, com a boca transbordando
De beijos, perturbando o campo sossegado
E o casto coração das flores
inflamando,
- Piedade! Elas veem tudo entre as moitas escuras…
Piedade! Esse impudor ofende o olhar gelado
Das que viveram sós, das que morreram
puras!
Olavo Bilac
Poesias, pag. 162
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Olavo Brás Martins da Silva dos Guimarães Bilac, considerado, já no seu tempo, “o
príncipe dos poetas brasileiros”, foi, efetivamente, dos maiores da língua.
Pertenceu à escola parnasiana, de que foi um dos chefes. Nasceu
no Rio de Janeiro em 16/12/1865 e aí faleceu em 28/12/1918.
Jornalista, ensaísta, conferencista, deixou também livros
didáticos, crônicas e versos humorísticos.
Reuniu todos os seus versos sob a denominação de Poesias (1ª ed.
1888), obra aumentada em 2ª ed. (1902) e várias vezes reeditada (23ª ed. 1949).
Deixou, além desse, um mimoso livro de Poesias infantis, muito lido e
divulgado, cuja 16ª ed. Data de 1946, e também: Crítica e fantasia (1904), Conferências literárias (1906), Últimas conferências e discursos (1924) e Ironia e Piedade (1916).
Seus sonetos são dos mais célebres da língua portuguesa e
distinguem-se pelo apuro e casticismo da forma.
Foi um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras,
tendo escolhido por patrono a Gonçalves Dias (Cadeira nº 15), e como sucessor
Amadeu Amaral.
(OS MAIS CÉLEBRES SONETOS DA LÍNGUA PORTUGUESA)
José Schiavo
EDIÇÕES DE OURO - 1963.
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