Foto ICAL
A verdadeira história do rio de Itabuna. Todos os
historiadores que escreveram depois sobre o Rio Cachoeira "esqueceram-se" de citar essa fonte
fidedigna. (ICAL)
O rio Cachoeira
Nasce nas fraldas da serra de Itaraca, no município de Vitória da Conquista. Depois de banhar parte deste município, entra em terras de Itambé, penetrando no município de Itabuna com a denominação de Rio Colônia, nome que lhe deram os Capuchinhos italianos, que fizeram trabalho de catequese em meados do século XVIII.
Como “Colônia” banha o município de Itaju do Colônia, e depois de receber as águas do Rio Salgado, o seu mais importante afluente, pouco acima de Itapé, passa a ser o Rio Cachoeira até desaguar no oceano Atlântico. Antes, na entrada do porto de Ilhéus, une-se ao rio Santana e ao rio Fundão, formando a chamada “Coroa Grande”.
Nesse percurso da serra de Itaraca até o Atlântico, através mais de 300 quilômetros, as suas águas regam uma das mais importantes regiões da Bahia, sendo o fator principal para a subsistência de duas grandes riquezas do Estado: Cacau e Pecuária.
Curiosamente, apesar de seu nome, o rio não possui, ao longo de seu curso, nenhuma cachoeira importante. Muitas ilhas, por outro lado, pontilhavam o seu leito: Mutucugê, Marimbeta hoje a popular “Ilha do Jegue”, Sequeiro Grande, Bananeiras, Sempre Viva, Quiricós e outras. De todas essas ilhas, existem apenas vestígios.
O principal afluente do Rio Cachoeira é o “Salgado”, que antes de lhe despejar suas águas banha as terras de Ibicaraí, Floresta Azul, Firmino Alves, Itororó e Santa Cruz da Vitória. São ainda seus afluentes, Piabanha”, “Catolé”, “Duas Barras”, “Sucuriuba”, “Ponte” “Sapucaia” “Areia”, “Primavera”, “Jacarandá” e “Itaúna”, este último entre “Salobrinho” e “Cachoeira”, o qual para alguns, passa por ter sido a origem do atual nome de Itabuna.
A história do rio Cachoeira começa justamente onde termina o
seu curso: à entrada do porto de Ilhéus. Ali, em 1535, suas águas foram
testemunhas da chegada de Francisco Romero, que vinha tomar posse das cinquenta
léguas de terras doadas por D. João III, pela Carta Régia de 25 de abril de
1534, ao escrivão da Corte de Portugal, Jorge de Figueiredo Correia e que se
constituía na Capitania de São Jorge dos Ilhéus.
Esse rio assistiu e acompanhou, ainda, as lutas dos
donatários e ouvidores da capitania, contra os terríveis Aimorés, Tupiniquins e
Guerens, guardando na lembrança das suas águas os nomes de Lucas Giraldes, D.
Helena de Castro, Brás Fragoso, Vasco Fernandes Coutinho, Antônio da Costa
Camelo, Luiz Freire de Véras, Francisco Nunes Costa, Balthazar da Silva e
outros.
Em 1595 suas águas deram passagem aos hereges franceses, que
saquearam e devastaram a pequena aldeia de Ilhéus. Mais tarde, abrigariam também, os soldados da esquadra do
almirante Lichthardt, que desembarcaram no Pontal, fazendo dali a cabeça de
praia para o assalto e saque a Ilhéus. Em ambas as invasões, os estrangeiros
foram heroicamente repelidos pelos poucos habitantes da Vila, com a intercessão
da Virgem Maria, originando-se daí a lenda e culto de N.S. das Vitórias.
Segundo o Dr. Francisco Borges de Barros, no livro “Memórias do Município de Ilhéus”, edição de 1915, foi em 1553 que tiveram início as explorações nas margens do Cachoeira. Apenas uma parte, a que era navegável, ou seja o trecho entre Ilhéus e Banco da Vitória era conhecida e explorada. Já nesse tempo, o padre Luiz Soares de Araújo, referindo-se ao rio escrevia: “Caudaloso rio chamado o da Cachoeyra da Vila, capaz de navegar sumacas, barcas, lanxas e canoas; não há quem lhe saiba o seu princípio, por vir muito de dentro do Sertão e que todos afirmam que vem das minas...”
A incumbência de exploração e catequese nas margens do
Cachoeira coube ao Padre Manoel da Nóbrega, juntamente com os catequistas
Francisco Pires, Aspicuelta Navarro, Manoel Chaves e outros.
Os trabalhos dos jesuítas se desenvolveram mais para as
regiões de Porto Seguro, Itacaré, “Boipeba”, Cairu e Canavieiras, mas alguns
deles se ocuparam dos índios que viviam nas margens do rio, no seu referido
trecho navegável.
Mais tarde, em 1570, durante a época das “bandeiras”, uma
dessas expedições, chefiada por Martins Carvalho, penetrou pelas margens do rio
indo até a um ponto além do Banco da Vitória.
Um personagem de destaque nas expedições ao longo das
margens do Cachoeira foi o capitão português João Gonçalves da Costa. Contam-se
várias histórias a respeito da ação devastadora contra os índios, destacando a
sua crueldade contra os mesmos, a ponto de A. de Saint Hilaire, no seu
relatório “Voyage ou Perou,” assim se expressar: “o quadro de destruição e os
atos de selvageria praticados por João Gonçalves da Costa, contra os fracos
restos de índios das margens do Cachoeira e Rio de Contas, desafia ao mesmo
tempo a sensibilidade do homem de coração bem formado”.
Em “Capitania de São Jorge dos Ilhéus”, o doutor João da
Silva Campos registra também a ação devastadora
praticada contra os índios Guerens pelos paulistas, chefiados por João
Amaro, especialmente contratados pelo governador da Província, Afonso Furtado
de Mendonça.
Muito sangue, muita crueldade e as vidas de milhares de
índios foi o preço da conquista e exploração das margens do Cachoeira.
No princípio do século XVIII, os frades capuchinhos deram
início à catequese dos poucos índios que sobreviveram às carnificinas de João
Gonçalves e João Amaro.
Do trabalho catequético desses piedosos e bravos frades,
foram surgindo ao longo do curso do Rio Cachoeira, aldeias, povoados, colônias
e missões, entre estas: Banco da Vitória, Cachoeira de Itabuna, Ferradas,
Cachimbos, Catolé e outras.
Uma destas povoações muito progrediu, foi a de Cachoeira de
Itabuna, no tempo de Weyll e Samaraker, colonos estrangeiros que fundaram ali
nas margens do Cachoeira e seu afluente “Itaúna”, uma colônia que ficou muito
afamada pelo desenvolvimento da cultura de cana de açúcar arroz, cacau e fumo,
produtos que chegaram a ganhar medalhas de ouro nas exposições de Viena, Turim
e na Corte do Brasil.
Também a povoação do Banco da Vitória conheceu um surto de
progresso, servindo como o nosso primeiro Porto fluvial.
Entre os muitos que morreram afogados nas águas do
Cachoeira, um deles ficou na história, foi o nobre frade capuchinho Luiz de
Grava, no dia 19 de abril de 1875, quando viajava de canoa com destino ao
arraial de Tabocas.
Entre as ilhas formadas pelo Cachoeira, uma delas tem uma
história muito nossa conhecida. É a Ilha do Jegue, que já se chamou “Ilha da
Marimbêta”, “Ilha dp Temistocles” e “Ilha do Capitão Aristeu”, porque ela foi
testemunha da chegada de Félix Severino e Manoel Constantino, pioneiros da corrente
migratória sergipana rumo a Itabuna, ouvindo bem próximo de si o barulho da
derruba da primeira árvore que serviu de marco de uma cidade que cresceu com o
tempo e se transformou na grande e bela cidade de Itabuna.
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Em 1914, registra-se a primeira grande enchente do Rio
Cachoeira. Fortes chuvas desabaram sobre a região, durante 11 dias, resultando
num alagamento geral e destruição de tudo que existia próximo às suas margens,
sofrendo com isso Itabuna, que começava a surgir, a perda de suas primeiras
ruas. Foi a maior enchente até poucos dias.
Muitas e muitas enchentes seguiram-se a esta, uma delas,
entretanto ficou famosa: a de 1920, porque batizou a nossa falada ilha. A “Ilha
do Capitão Aristeu”, passou a ser chamada “Ilha do Jegue”. Um jumento ficara
preso na dita ilha, sendo alvo da compaixão e curiosidade públicas, durante
quatro dias, sendo salvo depois que as águas baixaram e recebido por uma grande
multidão que lhe deu as honras de um “herói”.
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Em 1947, a ponte Lacerda, recém-construída, serviu de
barragem para grande quantidade de “baronesas”, capim “amazonas” e outros
vegetais que o rio transportava.
As águas represadas invadiram as partes mais baixas da
cidade. Foi grande a destruição na Mangabinha, Burundanga, Bananeira, Berilo e
outros bairros ribeirinhos.
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Em 1964, novamente as águas do rio Cachoeira estiveram em
fase de enchente, voltando a causar prejuízos nos mesmos lugares anteriormente
atingidos.
Um ano depois, ou seja, em 1965, mês de novembro, o
Cachoeira pegava novamente Itabuna, chegando a alagar a Avenida do
Cinquentenário. Foram grandes os prejuízos.
Ultimamente, dezembro de 1967, segundo registros históricos,
muito superior a todas as enchentes foi esta última, cujos efeitos ainda estão
bem vivos na memória de todos.
(DOCUMENTÁRIO HISTÓRICO E ILUSTRADO DE ITABUNA 1ª Edição -
1968)
José Dantas de Andrade
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