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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

BANHO DE RIO – Rita Dantas

Foto Itabuna Centenária-ICAL

Foto Charles Henri
Zefa sonhava com a água fria daquele rio amado – O Cachoeira.

Às escondidas conseguia nadar naquelas águas com as companheiras meninas e esquecer a vida. Fizera isso desde pequenina, apesar das recordações, dos avisos, das referências a mães-d’água e outras coisas mais.

Agora, casada, Vó-menina sonha com a água do Velho Rio, com as companheiras, com as brincadeiras de fim de tarde. E não recua. Foge, encontra, lança-se às águas e volta de mansinho, com ar de anjo tristinho, para que não se descubra o seu segredo. Dias a fio, dias e mais dias.

Pouco a pouco ela vai se colorindo, adquirindo um tom de denúncia e o seu segredo conhecido. Flaviano, velho, ciumento, não entende aquela ansiedade infantil. Briga, resmunga, castiga, leva-a à roça e a amedronta com caiporas e sacis. E a menina volta, mas não esquece o rio.

Pensa no casamento sem amor, no doar de uma criança a um velho promissor e não entende. Relembra a liberdade, a alegria das brincadeiras infantis e foge desta vez, de vez.
Volta à casa antiga, aos folguedos, brincadeiras, aos sonhos.
Volta ao Velho Rio, aos seus braços e reinicia a infância.

(“Bença, Vó!”)

Ritinha Dantas
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RITINHA DANTAS – Licenciada em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Ensinou na Universidade de Brasília. “Curriculum Implementation in the “First Grade”: a case study from Bahia” é a sua tese defendida no Instituto de Educação da Universidade de Londres como requisito para a concessão do título de Mestre em Filosofia – área de Educação.Nasceu em Itabuna a 14 de maio de 1939. Autora de “Bença Vó”, relatos de oitiva e de vida, que foram vivenciados pela autora em torno da avó Zefa. Pequeno e comovente livro que se inscreve, de maneira significativa, na memória lírica da região cacaueira da Bahia. Emoção e prosa ágil na linguagem simples são elementos presentes no texto. Densidade poética emerge dos capítulos breves, sugere um teor literário rico, alcança vibrações líricas na narrativa que transmite emoções, verdades e sentimentos. Bons momentos dessa narrativa podem ser destacados nos capítulos “Bordando Vó”, “Zombando até o Fim” e “Bença, Vó”, este último fecha o livro em tons oníricos com impressionante calor de vida.

Da coletânea ITABUNA, CHÃO DE MINHAS RAÍZES de Cyro de Mattos

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