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sábado, 5 de novembro de 2016

ATÉ ONDE VAI SUA CULPA? - Antonio Nunes de Souza

Até onde vai sua culpa?

Para que você possa avaliar quanto tem de culpa nesses resultados tão cruéis, torna-se importante, ler, atentamente, esse fictício depoimento na delegacia de polícia que, com algum esforço e tristeza, que farei abaixo, mostrando grandes verdades existentes, os motivos, as culpabilidades, a persistência de comportamentos, e o pior de tudo, os desastrosos resultados!
Durante o relato, será usado um linguajar normal e natural usado na criminalidade e nas favelas, inclusive com erros de concordâncias, palavras, abreviaturas, etc., sem também que sejam usados nomes considerados feios e chulos, mas, comumente e corriqueiramente usados no dia-a-dia da marginalia!
Em frente ao paciente dr. Antonio Carlos Santana, delegado do Terceiro Distrito Policial, estava o bandido e criminoso José Nilton da Silva, 17 anos, prestando o seu depoimento para, posteriormente, ser entregue a justiça para as devidas providências!
- Dotô reconheço tudo que dissero de mim e não nego que roubei, matei e já cometi outros crime desde meus 14 ano. Não tenho nenhum rependimento e se duvidar, quando saie dessa, sou capaz de continuar da merma forma, roubando e apagando gente, basta que seja preciso. Mermo com minha pouca idade, quem vive em favela envelhece rápido, toma conhecimento das coisas muitas vez até apulso ou pela necessidade, basta que ele sinta na carne e na pele o desprezo e nojo que a sociedade tem por nois, tratando agente como bichos ou animais nojentos e perigosos.
Sou filho de pai desconhecido, já criança via minha mãe transar com vários homens, para conseguir o pirão dos 3 filhos. Ela comprava drops e chocolate batom para agente vender nos sinais, para ajudar em casa, e o que eu sofria era ver a grande maioria fechar o vidro em nossas cara, nos xingar, seus filhos no banco de traz com risadas de deboches darem adeus. Mostrando com isso as suas superioridades e nos desprezando como se estivéssemos ofendendo, já que apenas agente queria ganhar uma merreca para ajudar nas despesa. Na minha favela, como em muitas outras, a escola era uma merda, cheia de goteiras, sem merenda, professores putos da vida por seus salários serem pouco e sempre atrasados. Não tinha condições de comprar livros e cadernos, então frequentar aula pra que? Era melhor fazer entrega de drogas para os traficantes que nos tratavam bem e a grana era certa. Resolvi voltar a ser honesto e fui para os faróis com um litro de água e um limpador para lavar os para-brisas! Foi pior ainda, pois não ganhava porra nenhuma e ainda éramos xingados de filhos da puta e que se afastasse do carro. Então passei a ser sacana e me vingava desses merdas colocando um prego e quando ela acelerava ia levando um bonito arranhão na pintura. Achando pouco, pelas ofensas e desprezos recebidos, passei a usar uma garrafinha de mineral cheia de solução de bateria que jogava um pouco nos tetos e com o sol queimava a pintura. Uma vingança filho da puta, mais essa raça de sacanas merecia.
Fui crescendo sem nenhuma oportunidade, morando numa merda de um barraco de madeira e flandes, complementado com papelão, dormindo 4 pessoas no mesmo quartos. Sem emprego, faltando tudo, as vezes apareciam uma porrada de madames dondocas com um fotografo de revista e TV, levando umas merdas de roupas velhas, apenas para aparecerem como notícias. Grande tropa de putas descaradas, achando que estavam colaborando até mais do que podiam!
Dos meus 16 anos em diante comecei a entrar no crime pesado, roubando, assaltando, vendendo drogas nas portas de escolas para os riquinhos descarados que tinham tudo e se metiam em vícios. Já devo ter matado várias pessoas ou atirado apenas por ódio e raiva, desse tratamento podre que recebi e o povo pobre continua recebendo dessa sociedade falsa e mais bandida que nois, que só cuida dos seus interesses. Os pobres que vão para as putas que lhes pariu!
Não atinando eles que, com esse comportamento escroto, estão a cada dia criando pessoas iguais a mim, que eles, cinicamente, chamam de monstros. Não percebendo que somos apenas frutos do que eles plantam e continuam plantando e, vergonhosamente, só fazem colocar a culpa nas costas do governo!
Dou risadas largas em ver esses sacanas trancados em casa, com medo de sair nas ruas, se cagando de medo de morrerem e nois livres e fazendo tudo que eles merecem e procedendo como os bichos que eles mesmo criaram. Enquanto esses filhos da puta forrem ruins, nos procuraremos ser piores. Sei que a qualquer hora vou morrer, então, aproveito,  ganho dinheiro e, imediatamente, gasto com bebidas e as putas.
Com minha idade, devo tirar 3 ou dois anos de cadeia e, certamente, voltar as mesmas façanhas, já que a podre sociedade e a política não muda em nada. Com essa puta cegueira eles se fodem e nois botamos pra foder! “Quem planta cactos tem que colher é espinhos!”
Terminado o depoimento, o escrivão que fazia a lavratura, olhou para o delegado e deu por encerrado, tirando duas cópias na impressora!
O delegado chamou um policial e mandou que essa fera fosse posta na jaula, sabendo ele, que milhares iguais estão circulando pelas ruas das cidades. Seria bom que essa acomodada e idiota sociedade lessem esse depoimento, passassem um filme em suas memórias e vissem quantas vezes se comportaram dessa forma descrita pelo marginal, e sintam “ATÉ ONDE VAI A SUA CULPA”!

Antonio Nunes de Souza, escritor.
Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL 
antoniodaagral26@hotmail,com

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Um comentário:

  1. Querida amiga e confreira Eglê, muitíssimo obrigado por divulgar essas minha crônica, pois, verdadeiramente,
    mesmo sendo fictícia e criada por mim, tenho certeza que muitas semelhantes ocorrem no dia-a-dia pelo Brasil e pelo mundo. E é claro que vale a pena as pessoas lerem e mudem seus comportamentos desumanos, para que tornem essas pessoas mais humanas e sintam-se respeitadas como gente! Um grande abraço de agradecimento, pois sei que seu Itabuna Centenária tem uma grande vertente de leitores!

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