Fidel Castro por ocasião de seu aniversário, quando completou 90 anos
em agosto passado. Certamente uma das últimas fotos do tirano em público,
ladeado por Raul Castro e Nicolás Maduro.
A morte de Fidel Castro e suas “carpideiras”
28 de novembro de 2016
Paulo Roberto Campos
A choradeira das esquerdas nacionais e internacionais —
tanto do âmbito temporal quanto religioso — chegou ao auge e beira ao ridículo
com a morte do “coma-andante” Fidel Castro. Este representava para as
esquerdas uma utopia que precisava a todo custo sobreviver, apesar de ser tão
velha quanto o próprio tirano da Ilha-presídio. Mas a Providência Divina o
chamou para prestar suas contas no Supremo Tribunal de Deus.
Enquanto rolam as lágrimas das novas “carpideiras” do século
XXI — os companheiros de Fidel e a mídia camarada dele —, o autêntico povo
cubano comemora [fotos ao lado e abaixo]. Os cubanos celebram a expectativa do
início do esperado fim do tirânico regime comunista que torturou de modo tão
cruel, física e psicologicamente, lançando-os escravizados na mais negra
miséria moral e material.
Sobretudo os cubanos no exílio, longe das garras do regime
opressor, comemoraram euforicamente o dia 25 de novembro; celebrações que em
Cuba foram evidentemente mais comedidas — aí daqueles que manifestarem grande
alegria…. O luto é imposto e obrigatório! “Hay que llorar”…
Para os cubanos
autênticos, “No hay que llorar”…
Da obra intitulada “O Livro Negro do Comunismo —
crimes, terror e repressão”(1999) [capa ao lado], muito bem documentada e de
autores insuspeitos(*), pois pertencentes à ala esquerdista, no capítulo “Cuba.
O interminável totalitarismo tropical” (entre as págs. 769 a 789), copiei
para nossos leitores alguns trechinhos que demonstram que não há razão para
lamentos e prantos. Marquei em negrito algumas frases.
“[...] Em 8 de janeiro de 1959, Castro, Guevara e os barbudos fazem
uma entrada triunfal na capital. Desde a tomada do poder, as prisões de Cabana,
em Havana, e de Santa Clara foram palco de execuções em massa. De
acordo com a imprensa estrangeira, essa depuração sumária fez 600 vítimas entre
os partidários de Batista, em cinco meses. Organizaram-se tribunais
de exceção, criados unicamente para pronunciar condenações. ‘As formas dos
processos e os princípios sobre os quais o direito foi concebido eram altamente
significativos: a natureza totalitária do regime estava ali inscrita desde o
início’, comprova Jeannine Verdès-Leroux. Realizaram-se simulacros de
julgamentos num ambiente de feira: uma multidão de 18.000 pessoas reunidas no
Palácio dos Desportos ‘julga’ o comandante batistiano Jesus Sosa Blanco,
acusado de vários assassinatos, apontando os polegares para o chão. ‘É
digno da antiga Roma!’, exclamou. Ele foi logo fuzilado.
[...]
“Desde a tomada do poder, surdas lutas viscerais minaram o
jovem governo revolucionário. Em 15 de fevereiro de 1959, o primeiro-ministro
Miro Cardona demitiu-se. Já comandante-chefe do exército, Castro substituiu-o.
Em junho, decidiu anular o projeto de organizar eleições livres,
anteriormente prometidas para um prazo de 18 meses. Perante os habitantes de
Havana, justificou a sua decisão através desta interpelação: ‘Eleições!
Para quê?’ Negava desse modo um dos pontos fundamentais inscritos no
programa dos revolucionários anti-Batista. Além disso, suspendeu a
Constituição de 1940, que garantia os direitos fundamentais, para governar
exclusivamente por decreto — antes de impor, em 1976, uma Constituição
inspirada na da URSS. Teve igualmente o cuidado de promulgar dois textos
legais, a Lei nº 54 e a Lei nº 53 (texto relativo à lei sobre as associações),
que limitavam o direito dos cidadãos a associarem-se livremente.
“Castro, que trabalhava então em estreita relação com os
seus próximos, tratou de afastar os democratas do governo e, para
conseguir esse objetivo, apoiou-se no seu irmão Raul (membro do Partido
Socialista Popular, isto é, do PC) e em Guevara, sovietófilo convicto. Em
junho de 1959, cristalizava-se a oposição entre liberais e radicais acerca da reforma
agrária lançada em 17 de maio. O projeto inicial visava constituir uma
média burguesia fundiária através de uma redistribuição de terras. Castro
escolheu uma política mais radical, sob a égide do Instituto Nacional de
Reforma Agraria (INRA), confiado a marxistas ortodoxos e do qual ele foi o
primeiro presidente. Rapidamente, anulou o plano proposto pelo ministro da
Agricultura, Humberto Sori Marin. Em junho de 1959, e para acelerar a
reforma agrária, ordenou ao exército que tornasse o controle de cem latifúndios na
província de Camagiiey.
[...]
“A violência do regime penitenciário atingiu tanto
os presos políticos quanto os de direito comum. Começava com os interrogatórios
conduzidos pelo Departemento Técnico de Investigaciones, a seção
encarregada dos inquéritos. O DTI utilizava o isolamento e explorava as fobias
dos detidos: uma mulher que tinha horror a insetos foi encarcerada numa cela
infestada de baratas. O DTI usou pressões físicas violentas: havia prisioneiros
que eram forçados a subir escadas calçando sapatos recheados com chumbo, e em
seguida eram atirados degraus abaixo. À tortura física juntava-se a
tortura psíquica, frequentemente com acompanhamento médico; os guardas
utilizavam o pentotal e outras drogas, a fim de manter os presos
acordados. No hospital de Mazzora, os eletrochoques eram usados com
fins repressivos, sem qualquer restrição. Os guardas empregavam cães de
guarda, procediam a simulações de execução; as celas disciplinares não
tinham água nem eletricidade; o detido que se pretendia despersonalizar era
mantido em completo isolamento.
[...]
“A prisão mais tristemente célebre foi, durante muito tempo,
a de Cabana [foto ao lado], onde foram executados Sori Marin e
Carreras. Ainda em 1982, cerca de cem prisioneiros foram ali fuzilados. A
‘especialidade’ de Cabana eram as masmorras de reduzidas
dimensões chamadas ratoneras (buracos de rato). Ela foi desativada em
1985. Mas as execuções prosseguem em Columbio, em Boniato, prisão de
alta segurança onde reina uma violência sem limites e onde dezenas de políticos
são mortos de fome. Para não serem violentados pelos presos de direito
comum, alguns se lambuzam com excrementos. Boniato continua a ser
ainda hoje a prisão dos condenados à morte, sejam políticos ou de direito
comum. É célebre pelas suas celas de rede de arame, as tapiadas. Por falta
de assistência médica, dezenas de prisioneiros encontraram a morte nessas
celas. Os poetas Jorge Valls, que devia cumprir 7.340 dias de prisão, e Ernesto
Diaz Rodriguez, assim como o comandante Eloy Guttierrez Menoyo, testemunharam
as condições particularmente duras que ali vigoram. Em agosto de 1995, ocorreu
uma greve de fome lançada conjuntamente pelos presos políticos e pelos de
direito comum, a fim de denunciar as condições de vida deploráveis: alimentação
péssima e doenças infecciosas (tifo, leptospirose). A greve durou quase um
mês.
“Algumas prisões voltaram a pôr em vigor as jaulas de
ferro. No fim dos anos 60, na prisão de Três Macios dei Oriente,
as gavetas (celas), destinadas originalmente aos presos de direito
comum, foram ocupadas pelos presos políticos. Tratava-se de uma cela de 1
metro de largura por 1,8 metro de altura, e com um comprimento de uma dezena de
metros. Nesse universo fechado, em que a promiscuidade é dificilmente
suportável, sem água nem higiene, os prisioneiros permaneciam semanas, às vezes
vários meses.
[...]
“As visitas dos familiares proporcionavam aos guardas o
ensejo de humilhar os detidos. Em Cabana, eles deviam se apresentar
nus perante a família. Os maridos encarcerados eram obrigados a assistir à
revista íntima das esposas.
“No universo carcerário de Cuba, a situação das
mulheres é especialmente dramática, uma vez que elas são entregues sem defesa
ao sadismo dos guardas. Mais de 1.100 mulheres foram condenadas por
motivos políticos desde 1959. Em 1963 elas eram encarceradas na prisão de Guanajay.
Os testemunhos reunidos estabelecem o uso de sessões de espancamento e de
humilhações diversas. Um exemplo: antes de passarem pela ducha, as detidas
deviam despir-se diante dos guardas, que lhes batiam. No campo de Potosi, na
zona de Lãs Victorias de Ias Tunas, contavam-se, em 1986(**), três mil
mulheres encarceradas — estando misturadas delinquentes, prostitutas e
políticas. Em Havana, a prisão de Nuevo Amenacer continua a ser a
mais importante. Amiga de Castro de longa data, representante de Cuba na UNESCO
nos anos 70, a doutora Martha Frayde descreveu assim esse centro carcerário,
onde as condições de vida eram particularmente duras:
‘A minha cela tinha seis metros por cinco. cinco. Éramos 22
dormindo em catres sobrepostos a dois ou a três. [...] Na nossa cela, chegou a
acontecer de sermos 42. [...] As condições de higiene tornavam-se totalmente
insuportáveis. As tinas onde devíamos nos lavar estavam cheias de imundícies.
Tornara-se absolutamente impossível fazer a nossa toilette. [...] Começou a
faltar água. A limpeza dos banheiros tornou-se impossível. Primeiro encheram e
depois transbordaram. Formou-se uma camada de excrementos que invadiu as nossas
celas. Depois, como uma onda irreprimível, atingiu o corredor e depois a
escada, escoando-se até o jardim’.[...]
“No decorrer do verão de 1994, Havana foi palco, pela
primeira vez desde 1959, de violentos tumultos. Candidatos à partida, não
podendo embarcar nas balsas, as jangadas improvisadas [foto ao lado],
confrontaram-se com a polícia. Nas ruas do bairro Colomb, a avenida
marginal — o Malecón — foi saqueada. O restabelecimento da ordem implicou
várias dezenas de detenções, mas, finalmente, Castro autorizou novo êxodo de 25
mil pessoas. Posteriormente, as partidas não cessaram, e as bases americanas de
Guantánamo e do Panamá estão saturadas de exilados voluntários. Castro
tentou igualmente travar essas fugas em jangadas, enviando helicópteros
para bombardear as frágeis embarcações com sacos de areia. Cerca de sete
mil pessoas pereceram no mar durante o verão de 1994. Ao todo, estima-se
que um terço dos balseros morreu durante a fuga. Em 30 anos, teriam
sido entre 25 mil e 35 mil os cubanos que tentaram a fuga pelo mar. No
total, os diversos êxodos fazem com que Cuba tenha atualmente 20% dos seus
cidadãos no exílio. Numa população global de 11 milhões de habitantes, perto de 2
milhões de cubanos vivem fora da ilha. O exílio desarticulou as famílias, e são
incontáveis as que estão dispersas entre Havana, Miami, Espanha ou Porto Rico…
[...]
“Em 1978, havia entre 15.000 e 20.000 prisioneiros de
opinião. Muitos vinham do M-26, dos movimentos estudantis antibatistianos,
das guerrilhas de Escambray ou dos antigos da baía dos Porcos. Em 1986,
estimava-se de 12.000 a 15.000 o número de prisioneiros políticos encarcerados
em 50 prisões ‘regionais’ distribuídas por toda a ilha.
“Desde 1959, mais de cem mil cubanos conheceram os campos,
as prisões ou as frentes abertas. Entre 15.000 e 17.000 pessoas foram
fuziladas. [...]”.
(Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, Andrzej
Paczkowski, Karel Bartosek, Jean-Louis Margolin, ”O livro negro do
comunismo. Crimes, terror e repressão”, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro).
*
* *
Como acima mencionei, os autores do “O Livro Negro do
Comunismo” são esquerdistas. Assim sendo, as cifras por eles citadas devem
ser ampliadas, pois, o número de prisioneiros, torturados, fuzilados no famoso
“paredón” está baseado em registros oficiais. Mas quantos infelizes
“desapareceram” sem nenhum registro? Há outras informações seguras — por
exemplo, as que constam no livro “Cuba comunista: vergonha de nosso tempo
e de nosso continente” (1997), de autoria do cubano Sergio F. de Paz —
denunciando que quase 500.000 de seus conterrâneos foram encarcerados ou
passaram por campos de trabalho forçado. Sem falar de dezenas de milhares de
cubanos afogados nas tentativas de fuga pelo mar. Também sem registrar que,
devido à ideologia materialista do regime comunista, Cuba conta com altos
índices de suicídios e abortos. A respeito, recomendo outro excelente livro “Hasta
cuándo las Américas tolerarán al dictador Castro, el implacable stalinista que
continua oprimiendo al pueblo cubano, y amenazando a naciones Hermanas?”, publicado
em 1990 por iniciativa de “Cubanos Desterrados” (Miami). [Foto acima].
Fidel Castro — palavras inesquecíveis
Com tal “curriculum” nas costas, acumulado por quase 50 anos
de tirania comunista, não causa surpresa a declaração de Fidel Castro ao
jornalista Jean-Luc Mano, da revista “Paris Match”, em 29-10-1994:
“Eu irei para o inferno, e sei que o calor ali será
insuportável… E lá chegando, encontrarei Marx, Engels, Lenine. E também
encontrarei você, porque os capitalistas também vão para o inferno, sobretudo
se desejam gozar a vida”.
Não se pode desejar o Inferno para ninguém. Convém,
entretanto, lembrar que Fidel sabia perfeitamente da existência do Céu e do
Inferno, pois estudou em colégio dos Padres Jesuítas, onde fez o catecismo.
Com o desaparecimento de sua única figura carismática e
“legendária”, como a esquerda sobreviverá? Como tentará manter-se viva após a
morte do tirano? Surgirá algum líder esquerdista substituto ao qual ela possa
agarrar-se para não naufragar? Tal homem será do mundo laico ou do mundo
eclesial? Conseguirá esse novo líder manter Cuba num regime castrista sem
Castro? Quem viver, verá!
Mas, considerado sob outro aspecto, a choradeira dos
companheiros do velho tirano é compreensível. Eles temem que um dia Cuba se
veja totalmente livre do regime comunista e, desse modo, a antiga “Pérola do
Caribe” volte à prosperidade de que outrora gozava.
Encerro transcrevendo o artigo abaixo, que explica esse
temor das esquerdas e aponta o papel que Cuba exerce (exercia?) para o
comunismo internacional. Seu autor é Plinio Corrêa de Oliveira — o líder
anticomunista que mais se dedicou na defesa do povo cubano — e foi divulgado
pela “Agência Boa Imprensa” em julho de 1992, ano em que a URSS desmoronava.
Cuba e o submarino
Plinio Corrêa de Oliveira
Se há no mundo atual um reduto revolucionário onde a
bandeira comunista parece insultar os raios do sol com sua presença, esse
reduto é Cuba.
Um pouco por toda parte, os comunistas ficaram estarrecidos
e desconcertados com a espetacular degringolada do bloco soviético. Ora, o
constatar que a Rússia soviética de repente se pulveriza, representou um baque
psicológico espantoso para os comunistas no mundo inteiro.
Entretanto, é um fator de alento para todos eles ver que, na
pequenina Cuba, ainda arde uma Tróia comunista, irradiando para as três
Américas os seus malfazejos eflúvios eletro-políticos.
A Ilha-Prisão das Antilhas, porém, está imersa no caos.
Castro parece estar com ‘falta de ar’, e a única saída possível para a sua
delicada situação é o apoio propagandístico que lhe venha do exterior. Nesse
sentido, caravanas faceiras de forâneos não têm faltado para lhe dar o
indispensável respaldo.
Alegres próceres da esquerda católica brasileira,
como Frei Betto [na foto ao lado, à esq. de Fidel Castro], Frei Boff e
quejandos, lá estiveram. Fazendo coro com ecologistas e tribalistas, esses
homens-show da teologia da libertação entregaram-se à mesma lenga-lenga de
sempre, cujos termos são mais ou menos os seguintes: Em Cuba, vive-se
feliz. Lá há miséria, é verdade. Mas qual é a diferença entre miséria e
pobreza? E, no total, uma suportável pobreza não será melhor do que o
consumismo?
Não podendo fazer outra defesa da ilha-cárcere, seus
propugnadores entregam-se a essas desajeitadas defesas do miserabilismo. E
pouco se incomodam de, por essa forma, concorrerem para que ali se perpetuem as
brutalidades, as inclemências e os crimes do comunismo staliniano, fracassado
no Leste europeu.
Tudo isso não obstante, o melhor proveito da presente
situação cubana para os interesses do comunismo internacional, ainda acaba
sendo aquele de porta-bandeira.
Só para comparar, afigure-se o leitor um submarino no qual o
periscópio, ademais de sua função ótica, exercesse também outra, à maneira de
escafandro, sendo responsável pela introdução do ar no interior da nave.
Pois bem, Cuba, de momento, representa o papel desse
periscópio hipotético. Em meio à tripulação comunista sub-aquática, imersa nas
águas da miséria, minguada, desanimada e asfixiada à vista do naufrágio do
comunismo russo, ela introduz o ar nesses pulmões. De maneira que, se eles
ainda respiram, é porque Cuba respira. E isso é de muito grande alcance.
Nenhum comentário:
Postar um comentário