O show de horrores da moda da década de 1970
Sabe os "anos
dourados"? São sempre aqueles de 30 anos atrás. Entre outras, porque você
tinha 30 anos a menos e já se esqueceu das agruras e amarguras que viveu
naquele tempo. Se isso é verdade, significa que, hoje, os anos dourados foram a
década de 1990. Só que, na década de 1990, as pessoas também situavam os
"anos dourados" 30 anos antes, ou seja, na década de 1960. E assim
por diante. Nunca ouvi alguém dizer: "Que maravilha! Estamos vivendo nos
anos dourados!"
O contrário
acontece muito: você odiar o tempo em que vive e se referir a ele como medíocre,
hediondo, intolerável. No Brasil dos anos 1970, por exemplo, estávamos na
ditadura, o que já era suficiente para nos fazer detestá-los. Mas ainda havia
outro motivo: a moda masculina. Em nenhuma época do século 20, ela foi tão
pavorosa e cafona. Qualquer evento para o qual as pessoas se
"vestissem" tornava-se um show de horrores.
Tudo era
tremendamente exagerado. Os paletós tinham lapelas gigantes, o que obrigava os
colarinhos a serem também enormes e as gravatas, os famosos gravatões, a terem
nós maiores que um punho fechado. Foi também a moda das gravatas-borboleta, do
tamanho das borboletas da Amazônia. Os paletós eram cintados, com o que todo
homem parecia ter ancas, e vinham em padrão xadrez, de listras ou de pespontos,
em cores como verde-abacate e azul-bebê.
As calças tinham
cintura alta e bocas de sino. Os sapatos eram de salto alto, o que nos obrigava
a andar na ponta dos pés. Os penteados eram do tipo usado hoje pelos cantores
sertanejos. E havia um chique-esporte: os inacreditáveis conjuntos safári.
Entendeu o que estou querendo dizer?
Por que estou me
lembrando disso? Porque, de uma pilha de revistas antigas, me caiu um catálogo
da Ducal para 1973. Era outra forma de ditadura —as lojas só vendiam esse tipo
de roupa. A alternativa, já possível em certos círculos, era andar nu.
Folha de São Paulo,
24/09/2023
https://www.academia.org.br/artigos/o-show-de-horrores-da-moda-da-decada-de-1970
Ruy Castro - Nono ocupante da Cadeira nº 13, eleito em 6 de
outubro de 2022, na sucessão de Sergio Paulo Rounet e recebido em 3 de março de
2023 pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin.
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