Aprendi em Paraitinga
Carmem e Marcelo
Mercadante, médicos e amigos, ligaram: 'Aqui, em São Luiz do Paraitinga, começa
uma feira literária, a primeira. Passem o fim de semana conosco'. Nem tinham
desligado, estávamos lá com o compositor Hélio Ziskind e Carla, influencer,
minha cunhada.
Nesse meio tempo, o
casal tinha entrado em contato com Suzana Salles, a cantora, que se comunicou
com Alexandre Gennari e outros curadores, de modo que cheguei como
autor-surpresa. A Feira. Pequena, impecável. Quando se quer, se faz, não chora.
A prefeita Ana
Lúcia Bilard Sicherle presente na primeira fila. Terceiro mandato de uma
mulher. Três dias com Marcelino Freire, Penélope Martins, Leusa Araujo, Rubia
Konstantyn, Alice Ruiz, Milton Hatoum, Tati Bernardi e eu. Mais escritores da
região, essenciais.
Sei disso, saí do
interior. Auditórios lotados - gente espalhada pelo chão - em todas as sessões.
Professores das proximidades. O antigo clima de alegria das festas literárias
recomposto.
A cidade é
conhecida por sua resiliência desde a enchente de 2010, catástrofe vencida pela
população. Na fala de Milton Hatoum, sujeito sóbrio, corajoso, o mediador fez
uma pergunta complexa sobre tempos atuais, inteligência artificial, redes
sociais, GPT, etc. Milton, tranquilo: 'Não sei responder'. Foi aplaudido.
Aos 86 anos,
aprendi uma lição. Aprende-se em qualquer idade, estando disposto. Posso
responder não sei. Mas, e a vaidade? A coragem? Admitir a incapacidade ou
tentar enrolar?
Vi em São Luiz que
a plateia gosta de sinceridade. Marcelino Freire e Tati Bernardi corajosamente
falaram de suas famílias, mães e pais, e tias, amigos, tocaram pela coragem de
admitir neuras, loucuras, esquizofrenices. Porque na plateia sempre tem uma
história esquisita igual à nossa.
Alice Ruiz revelou
como é fácil escrever um poema e uma letra de música. Mas vá fazer sua letra,
seu poema. Dureza, sensibilidade.
Esteve tão bem e
encantadora a Festa Literária de São Luiz que até os cães gostaram. Em todas as
sessões, um vira-lata entrou, passeou pela primeira fila, achou um lugar, se
acomodou ficou até o final. Compenetrado. Disseram-me que acompanha todas as
procissões da cidade, que é lindinha. O cão só não tinha crachá!
Abh, cães! Quase me
esqueço. Carmem e Marcelo abrigam em seu sítio duas cadelas, Pitanga e Canela.
No dia em que chegamos, as duas tiveram um entrevero, Pitanga caiu de um deck,
machucou-se. Marcelo, que é ortopedista, já tratei a lombar com ele, cuidou,
enfaixou. Pitanga passou a mancar e todo mundo a agradava com afagos e comidas.
Duas horas depois, Canela também estava mancando, esperando agrados. Cães são
iguais a nós.
É JORNALISTA E
ESCRITOR, AUTOR DE 'ZERO' E 'NÃO VERÁS PAÍS NENHUM'.
Jornal O Estado de
S. Paulo, 07/05/2023
https://www.academia.org.br/artigos/aprendi-em-paraitinga
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Ignácio de Loyola Brandão - Décimo ocupante da Cadeira 11da ABL, eleito em 14 de março de 2019 na sucessão do Acadêmico Helio Jaguaribe.
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