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Castro Alves
Era no Dois de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos serros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
“Neste lençol tão largo, tão extenso,
“Como um pedaço roto do infinito …
O mundo perguntava erguendo um grito:
“Qual dos gigantes morto rolará?!…
Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dois povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dois povos que abalavam
Naquele instante o solo ensanguentado…
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão!…
No entanto a luta crescia indômita...
As bandeiras – como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!...
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Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — irmã do Sol!…
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a colúmbia Terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!...
(São Paulo, junho de 1868)
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Antônio
de Castro Alves nasceu na comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril
de 1847, sendo filho do médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília
da Silva Castro. Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na
expressão de Afrânio Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu
sentimento e, num tempo em que a miséria da escravidão não comovia
ninguém, despertou com os seus poemas arrebatadores, piedosos ou
indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que, vinte anos mais
tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome invejável de
Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não há grande
homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava a outra
glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não importaria...
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