O Laço de Fita
Castro Alves
Não sabes,
criança? ‘Stou louco de amores...
Prendi meus
afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No
templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na relva
sombria das tuas madeixas,
Nos negros
cabelos de moça bonita,
Fingindo a
serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso
enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que
voava nas luzes da festa,
Qual o
pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de
repente cativo, submisso
Rolar
prisioneiro
Num laço de fita.
E agora
enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma
se embate, se irrita...
O braço, que
rompe cadeias de ferro,
Não quebra
teus elos,
O laço de fita.
Meu Deus! As
falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos
repousam nas penas brilhantes...
Mas tu...
tens por asas
Um laço de fita.
Há pouco
voavas na célere valsa,
Na valsa que
anseia, que estua e palpita.
Por que é
que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te
apenas...
Teu laço de fita.
Mas ai! Findo
o baile, despindo os adornos
N’alcova onde
a vela ciosa... crepita,
Talvez da
cadeia libertes as tranças
Mas eu...
fico preso
No laço de fita.
Pois bem!
Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a
cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca
meus louros da fronte,
E dá-me por
c’roa...
Teu laço de fita.
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Antônio de Castro Alves nasceu na comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril de 1847, sendo filho do médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília da Silva Castro. Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na expressão de Afrânio Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu sentimento e, num tempo em que a miséria da escravidão não comovia ninguém, despertou com os seus poemas arrebatadores, piedosos ou indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que, vinte anos mais tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome invejável de Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não há grande homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava a outra glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não importaria...
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