Uma rosa é uma rosa
Cyro de Mattos
Uma
rosa é uma rosa é uma rosa, uma das frases mais famosa da literatura, foi
escrita por Gertrude Stein (1874-1946), escritora e poeta feminista, mensageira
de uma poesia inovadora nos Estados Unidos. A frase motivou ao longo dos anos
várias versões e variações através de músicas, óperas, filmes e paródias.
Artistas famosos usaram-na em suas criações e, entre eles, Ernest Hemingway,
Charles Chaplin, Aldous Huxley, Stephen King e Vinícius de Moraes com seu
Rancho das Flores.
Precisamos
nesse momento de elogio ao sublime ser íntimos de outra rosa, que nos faz
sentir como a vida é bela quando a encontramos formosa no jardim da cidade ou
no da sua casa. É feita de seda e fragrância, gosta de acontecer no momento
singular da natureza. Em ritual de carícia, ilumina o ar quando se entreabre no
sonho suave da flora.
Gostaria que
fosse duradoura, não fugaz como acontece, pois em seu destino frágil de rosa
fica murcha mal desponta. Assim se apresenta na sua aparição ligeira, vocação
para que seja admirada em terna nervura, provocando suspiros e desejos, sugerindo
a ideia de que o amor entre os seus protagonistas se faz necessário que seja bafejado
com os ares da rosa.
Se você
quiser ver sua mulher sorrir de contente, diga, quando sentar à mesa para a
refeição matinal, que ela amanheceu bonita como uma rosa. Se ela quiser saber
de onde foi que você achou essa rosa, que se parece com ela, não hesite em
dizer que foi no Jardim de Dona Bela, só o seu coração conhecia, amava visitá-la
todos os dias. Acrescente que de repente encontrou com aquela rosa agora, ali
mesmo em sua frente, sentada à cabeceira da mesa. Radiante apresentava-se em
ritual de amor fazendo com que seu coração tivesse a sensação de que sua casa
fosse de fato na manhã formosa um jardim, igual ao de Dona Bela.
Os poucos
leitores dessa crônica já perceberam que dentro de mim habita uma rosa, que
sopra seu hálito delicado mal a manhã desperta. Justamente é essa, que nunca
some, dadivosa em ritmo de cores e sons na alma flora. Tem habituais cuidados
comigo, acha nesse instante que eu não deva prosseguir com a crônica, tentando
dizer sobre o que é uma rosa. Ora, uma rosa é uma rosa com sua beleza
fascinante, observa, será que alguém vai conseguir descrevê-la dentro da
perfeição de suas linhas harmoniosas? Desenhada pelos dedos de Deus, nunca na minha
escrita pobre vou chegar perto de sua beleza provinda da natureza, que é inimitável,
sua delicadeza com finas saliências, seu jeito iluminado que trescala um
sentimento que perfuma e encanta.
Verdade,
nunca saberei decifrar o quanto essa rosa que acalma os olhos é misteriosa,
seja qual for a cor que expresse o seu estar na vida, em qualquer estação,
embora dê preferência que aconteça na primavera quando há trinados e voos
alegres para celebrar esse dom da flora. Se uma rosa é uma rosa, uma só vale
todos os poemas escritos pelos melhores poetas de todos os tempos. Inalcançável
é a sua perfeita aparição, sem concorrente entre as flores não se presta ao
decalque da mais apurada sensibilidade do poeta genial, tendo em vista que suas particularidades formadas por pétala e
sonho pertencem somente a ela.
Rosa no verde é felicidade, no branco sinal de
tranquilidade. Ambas as duas são generosas. Rosas no peito são bem-vindas, tão queridas,
acariciam o coração ao toque do violão suave. A essa altura, em que tento
mostrar minha admiração pela rainha das flores, penso que posso encerrar essa
crônica recorrendo a Ataulfo Alves, poeta de nosso cancioneiro popular, que
gostava de cantar o amor embalado com a beleza da rosa. Ele disse: “Quando
morrer não quero choro nem vela, quero uma rosa amarela, gravada com o nome
dela. “
Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro Titular da
Academia de Letras da Bahia e do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris
Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Um dos idealizadores da Academia
de Letras de Itabuna (ALITA).
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