Péricles Capanema
Pote de ouro enterrado. A Venezuela tem o maior volume de reservas de petróleo comprovadas na Terra. Nesse aspecto, reservas de petróleo, é a nação mais rica do mundo. Estão por volta de 300 bilhões de barris de petróleo as reservas comprovadas. Em segundo lugar vem a Arábia Saudita, com 270 bilhões. Têm 39 bilhões de barris comprovados os Estados Unidos. O Brasil, 16 bilhões de barris. Em números redondos, a riqueza de petróleo comprovada da Venezuela é quase 20 vezes superior à do Brasil. São aproximativos os números, variam segundo as fontes consultadas, mas um ponto é comum entre elas: a Venezuela está em primeiro lugar. É preciso ainda considerar que o custo de extração por barril na Venezuela é maior que o da Arábia Saudita, o que diminui a vantagem do país sul-americano. Façam as contas, o barril de petróleo está por volta de 80 dólares; pode subir muito ainda. Para a Venezuela, adiantou muito ser assim o passado, adianta quase nada hoje. Afunda sem parar já faz uns dez anos. Logo abaixo, a causa.
Prosperidade passada. A Venezuela foi chamada de
“Venezuela saudita”, “o país que mais consome uísque no mundo”. A riqueza
jorrava. Caracas maravilhava pelos prédios modernos. Sua renda per
capita em 1998 beirava 16 mil dólares, logo atrás da renda per capita dos
argentinos, então no primeiro lugar da América do Sul. É o passado; dele, pensa
a maioria esmagadora do país, nada ficou, além das lembranças de uma era
dourada.
Desgraça presente; pote de ouro que não serve para nada.
O Haiti sempre foi o país mais pobre da América Latina. Não é mais. Quando 2021
acabou, segundo projeções do FMI, ele entrou no penúltimo da lista, com
renda per capita de 1.690 dólares. Agora é a Venezuela, com
renda per capita de 1.627 dólares, o país mais pobre da
América Latina. O país tem mais de 4 milhões de refugiados — venezuelanos que
fogem da fome, da perseguição política, do desemprego, da vida sem futuro. Está
no oitavo ano consecutivo de recessão, desde 2013 a economia encolheu 80%. Por
causa da hiperinflação já cortou 14 zeros da moeda. Na prática, o povo
abandonou a moeda nacional e dolarizou a economia. Tudo é comprado e vendido
com cotação em dólares. Oito milhões de pessoas estão desempregadas em
população de pouco menos de 30 milhões.
O socialismo do século XXI destruiu a Venezuela. A causa, agora. O chavismo [ou socialismo bolivariano] do coronel Hugo Chávez [na foto, com Fidel Castro] estraçalhou a Venezuela, reduzindo-a a frangalhos. Ela hoje vive dos apoios de Cuba, Nicarágua, China, Rússia. No Brasil, tem um apoio fervoroso, o PT, sempre firme em sua defesa mitomaníaca da igualdade, não importa o sofrimento popular. O PT ocupa hoje no Brasil espaço político similar ao que foi tomado ao longo do século XX pelos PCs de orientação soviética em muitos dos países ocidentais. A propósito das eleições venezuelanas de novembro passado, o PT divulgou comunicado de apoio ao pleito venezuelano, fraudulento e autoritário: “o processo eleitoral ocorreu em total respeito às regras democráticas e concedeu a vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) em vinte estados, tendo a oposição vencido nos três restantes”. O presente governo estimula a corrupção entre altos oficiais da Forças Armadas (de onde vem parte de seu apoio) e mantém laços com o tráfico de drogas. Tal situação repercute no Brasil, repercutirá ainda mais, se a situação se perenizar na Venezuela, em especial em nossa região norte. E repercutirá de forma devastadora, se o PT sair vitorioso nas eleições de 2022. É inafastável a constatação: a aplicação das políticas preconizadas pelo PT (parecidas com as políticas do chavismo) precipitará o Brasil em situação semelhante à da Venezuela.
Passividade suicida. A situação dantesca que, sem
perspectiva de mudança rápida, padecem Venezuela e Cuba, é mortal entre nós
para os objetivos eleitorais do PT? Pode “pegar mal” no povo, já que Venezuela
e Cuba são hoje o que poderemos ser amanhã, caso o PT volte e se aninhe no
poder.
Acoitados no poder. Cuba, Nicarágua, Venezuela,
China, perenidades infernais. São modelos para a ação petista. A esquerda deixa
o poder? Certo, admito, essa realidade trágica pode prejudicar a força
eleitoral do PT. O prejuízo será mortal para seus objetivos? Tenho minhas
dúvidas. Lula e Dilma sempre apoiaram Fidel Castro [modelo de Hugo Chávez e
Nicolás Maduro] e ganharam quatro eleições presidenciais. E os deputados do PT
formam bancada forte, apesar de sempre terem apoiado o socialismo cubano e
venezuelano. O dinheiro brasileiro jorrou solto para os dois países e ninguém
acha que um dia voltará. O escândalo não tem sido mortal para os objetivos
petistas. Sei que há muitos fatores que atenuam a gravidade, e até a
culpabilidade, presentes em tomadas de posição do público em geral.
Alarma regenerador. Contudo, fato é que alarmam os
atuais índices obtidos por Lula nas presentes pesquisas (passageiros, pouco
consolidados, até em parte falseados, concedo). Tendo-os como fundamento de
análise, o Brasil pode ter quatro, oito anos, até mais, de governos que admiram
sem rebuços a tortura infligida pelos chavistas ao povo venezuelano. De outro
lado, tal fato triste e trágico pode ser alarma regenerador, toque de rebate
para o começo de atitudes de reconquista. O que será necessário? Em primeiro
lugar, entendo, ver com clareza, sem ilusões, a situação, mesmo em seus pontos
mais débeis e preocupantes. A seguir, energia e pertinácia, o que implica
emprego intenso e arguto dos instrumentos lícitos, sempre na lei e na ordem.
Sem coordenação de esforços dificilmente se evitará a tragédia. Adiante do
Brasil que presta estão meses de batalha para evitar que a epidemia socialista
tome conta do país. Seria atitude de reconquista. Pois parte do público, hoje
passiva, letárgica, indiferente, iludida até, precisa ser reconquistada.
Exemplo de reação salvadora. Winston Churchill foi
grande condutor político, sempre traz bons exemplos para horas difíceis e
estamos em uma delas. Em situação grave da Inglaterra, até desesperadora, o
dirigente não escolheu enfiar a cabeça na areia. Fez o contrário. Pintou com
cores sombrias (e reais) para o povo inglês o quadro geral. Lembro palavras
suas aos britânicos: “Estamos diante de uma das maiores batalhas da
História. Digo para a Câmara dos Comuns o que disse para os que apoiaram o
governo. Só vos prometo sangue, fadigas, lágrimas e suor. Temos diante de nós
muitos longos meses de luta e sofrimento. Vocês perguntam, qual é nossa
política. Digo, fazer a guerra por mar, terra e ar, com todo nosso poder e com
toda a força que Deus nos dê, fazer a guerra contra uma tirania monstruosa,
nunca ultrapassada no negro e lamentável catálogo do crime humano. Esta é nossa
política. Perguntam qual é nosso objetivo. Respondo com uma palavra: vitória.
Vitória, não importam os custos”.
Ad augusta per angusta. Vitória não vem sem lutas. E
clareza de vistas. Que Deus nos ajude.
https://www.abim.inf.br/sentada-num-pote-de-ouro/
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