“Caminho sinodal” — Uma Igreja sem sacerdotes?
Frankfurt — Continuamos nossa análise sobre o Caminho
sinodal ora em curso na Alemanha. Uma coisa é certa, a demolição do
sacerdócio conduzirá a uma Igreja xamânica. Vejamos.
Deve o sacerdócio ser abolido na Igreja Católica? Será que a Igreja
precisa mesmo de padres? A Assembleia sinodal
permitiu que esta questão fosse discutida. Com efeito, ao serem perguntados no
último dia 1º de outubro se deveria haver uma discussão sobre
a abolição do sacerdócio, nada menos que 95 participantes do Sínodo responderam
que “sim”.
Aconteceu que 94 outros votaram “não”, e já que a
maioria simples é suficiente nessa Assembleia, a questão poderá agora ser
discutida oficialmente no Caminho Sinodal. Ora, alguns
poderiam afirmar: “É só uma questão de discussão. Ninguém
ou quase tanto acredita seriamente que o sacerdócio possa ser abolido.
Portanto, o mais provável é que não haja exigência concreta alguma, e o assunto
pode ser deixado de lado com tranquilidade”.
Quem pensa assim, analisou o caso apenas de modo superficial, tirando
conclusões precipitadas. Ainda que o Caminho Sinodal não se
decida pela abolição do sacerdócio (ou a exija, pois a Assembleia Geral não
pode tomar tal decisão), entretanto, nos debates será discutida seriamente a
edificação de uma Igreja igualitária, na qual o padre praticamente não tem
autoridade.
Tenho salientado muitas vezes que o objetivo da revolução da Igreja
alemã é a introdução do ‘igualitarismo’ na Igreja católica, uma vez que o
progressismo odeia a sua ordenação hierárquica e tudo o que lhe é relacionado,
tal como a sacralidade, a tradição e a beleza.
O Caminho Sinodal já mostrou como o igualitarismo lhe é
importante. Por exemplo, a disposição das cadeiras na sala da assembleia é
determinada pela primeira letra do nome… Posição, cargo, função, idade, experiência,
tudo isso é irrelevante. Nenhum parlamento no mundo é tão igualitário como
este Caminho Sinodal.
Portanto, não é de surpreender que se esteja pensando no estabelecimento
de uma Igreja na qual o padre só deve intervir no estritamente indispensável,
como pronunciar as palavras da transsubstanciação na Missa, ou dar a absolvição
na confissão. O sacerdote estaria assim reduzido à sua função central, ficando
dificilmente visível o fato de que ele age em “persona Christi”.
Mas será que uma tal Igreja sobreviverá? Como deve ser a sua estrutura,
uma vez que os padres ficariam reduzidos a um papel puramente funcional? O que
manteria a unidade dos fiéis nessa Igreja? Talvez algo à maneira de “senso de
comunidade”? Uma possibilidade seria organizar a vida interna desta
pseudo-Igreja em torno de pessoas com certos carismas. Ou seja, pessoas capazes
de influenciar e convencer outras com a sua personalidade, no bom ou no mau
sentido.
Vamos a um exemplo. Alguém poderia tentar declarar Greta Thunberg ou
pessoas do estilo como porta-vozes do Espírito Santo. Tais pessoas seriam
dotadas de uma ‘aparente’ autoridade moral concedida pela mídia, e por teólogos
por ela patrocinados, as quais ditariam os modos de ser e de viver dos
católicos.
Com semelhantes figuras, pode-se-ia tentar fazer com que fosse mais
importante para os católicos levar uma vida “neutra para o clima” do que
obedecer aos Dez Mandamentos. Precisamente no meio do ativismo ambiental, podem
ser encontrados muita gente que tem certa energia pseudo-espiritual e carisma
suficiente para agir mais ou menos como xamãs.
Com sua mera presença, seu comportamento e com poucas palavras eles
apresentariam estilos de vida e imporiam intuitivamente como se deve viver.
Esses pseudo-profetas podem ser encontrados em todos os temas em voga: gênero,
diversidade, cultura do cancelamento, sobretudo na questão climática e na
ecologia.
E todos formariam uma espécie de colégio de pseudo-papas que exerceriam
influências por meio de sua visão da vida, e não por meio do que comunicam verbalmente.
Certo, também os padres poderiam desempenhar este papel xamânico, contudo o
fato de serem pessoas consagradas não teria qualquer importância.
Pois aqui se trata mais bem da apresentação de um estilo de vida
pseudo-espiritual antes ancorado no budismo, no panteísmo e nas religiões
naturais do que na teologia moral e na ascese católica.
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Texto original em http://mathias-von-gersdorff.blogspot.com
Tradução: Renato Murta de Vasconcelos
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