12º Domingo do Tempo Comum – 20/06/2021
Anúncio do Evangelho (Mc 4,35-41)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus
discípulos: “Vamos para a outra margem!”
Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim
como estava, na barca. Havia ainda outras barcas com ele.
Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se
lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus
estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o
acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”
Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio!
Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus
perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem
é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
http://liturgia.cancaonova.com/pb/liturgia/
---
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Frei Pedro
Júnior, Ofs:
---
A força sedutora das
"margens"
imagem: pexels.com
“Vamos para a outra margem!” (Mc 4,35)
O evangelho deste domingo fala de movimento, de deslocamento
em direção a outras perspectivas, de saída dos próprios espaços de proteção e
segurança, para acolher outras vidas, outras histórias, abrir-se ao novo, ao
diferente. Que significa, para cada um, a outra margem? Desde logo,
não há resposta padrão; ela é muito pessoal, como é pessoal a adesão à pessoa
de Jesus. Convite pessoal e comunitário, de relação amistosa profunda, para
encontrar n’Ele nossa segurança e, assim, continuar a vida com mais inspiração.
É uma grande riqueza ir às margens de nossos irmãos, não
como turista, mas como peregrinos.
Jesus convida a todos nós a cruzar o mar em direção à outra
margem. Estamos tão acostumados em nossa margem rotineira que não é fácil
arriscar e fazer a travessia; nem sequer estamos convencidos de que exista
outra Margem, mais além das comodidades e das seguranças que buscamos. No
entanto, nossa meta está do outro lado do risco e do perigo. A falta de
confiança continua sendo a causa de não nos atrevermos a dar o passo;
resistimos acreditar que Ele vai em nossa própria barca.
“A nossa fé não é uma fé laboratório, mas uma fé caminho,
uma fé histórica. Deus se revelou como história, não como um compendio de
verdades abstratas... Não é preciso levar a fronteira à casa, mas viver em
fronteira e ser audazes” (Papa Francisco).
Entrar na barca com o Mestre significa “embarcar” na vida
d’Ele, correndo riscos de sofrer rejeições, abalos e tempestades.
O contexto social pós-moderno desencadeou uma complexa
turbulência em todos os domínios da vida, gerando novos desafios para a
adaptação do ser humano a seu ambiente. As pessoas sentem-se cada vez mais
ameaçadas, por realidades externas e internas, a sensação de insegurança
aumenta e torna-se mais indefinida; por conseguinte, os níveis de ansiedade e
angústia são cada vez mais elevados, conduzindo a verdadeiras situações de
ruptura e desespero.
Reforçam-se e elevam-se os gradeamentos, mudam-se e
sofisticam-se as fechaduras, as pessoas armam-se, as sociedades ficam cada dia
menos seguras e estáveis. É um círculo dramático e infernal cujo resultado é o
desenvolvimento crescente de uma espiral de medo, de violência, de stress...,
tornando as pessoas insensíveis, passivas e conformadas.
É com esta situação que temos de aprender a lidar e a
conviver. De fato, a pressão rotineira vivida cotidianamente nos diferentes
ambientes demanda uma enorme competência e uma capacidade de adaptação diante
de situações altamente adversas, agressivas e até violentas.
Como seguidores(as) de Jesus que bebemos das fontes do
Evangelho, duas são as “margens” que nos seduzem, nos mobilizam e nos
fazem chegar onde outros não chegam ou encontram dificuldades para
chegar; estas duas “margens” constituem a originalidade de nossa vivência
cristã e de nossa missão no mundo de hoje: a “margem” da interioridade e
a “margem” da universalidade. São “margens” que nos
humanizam, pois nos mobilizam a “descer” em direção àquilo que é
mais humano, em nós e na realidade que nos interpela.
Em primeiro lugar, “passar para a outra margem” nos
evoca o chamado a assumir um deslocamento social e religioso que tem um
componente de risco e mudança. Implica sair do conhecido, abandonar as próprias
seguranças; mudar de lugar, geográfico e/ou existencial, ir aonde ainda não
temos ido e enfrentar uma travessia incerta; e, por último, atrever-nos a
entrar em contato com o diferente e desconhecido e aceitar ser transformados.
Esse desafio hoje nos sacode e pode gerar em nós inquietude e desassossego,
como a tormenta que ameaça os discípulos depois de entrarem na barca.
Precisamos também fazer a travessia em direção à outra
margem de nós mesmos, aquela que não costumamos visitar. Descobrir nosso
tesouro escondido: a quantidade de qualidades e recursos que ativamos com
mediocridade, ou simplesmente não usamos. Porque, se nos níveis mental e
emocional tendemos a nos instalar, no mais profundo, no entanto, nos habita o
desejo do “mais”, que nos impulsiona, a partir de dentro, numa expansão aberta
a horizontes cada vez maiores.
A “outra margem” é a novidade do presente, a descoberta
incessante, a amplitude sem limites. Mas só poderemos começar a cruzá-la se
estivermos dispostos a deixar nossos caminhos trilhados e nos entregarmos com
docilidade à Vida – outro nome de nosso “mestre interior”.
O primeiro desejo de chegar à outra margem nasce
de dentro, do coração, que entende sua missão como busca e peregrinação
interior, como um colocar-se em movimento... Sair da margem conhecida,
“velha”, rotineira... para encontrar a nova margem: lugar de relação,
de questionamento, de criatividade, de encontro com o novo e
diferente…
A outra margem, lugar provocador,
incitador, que desperta curiosidade... Aqui brotam as grandes experiências
religiosas, as intuições, projetos, ideais vitais.
Caminhar para a outra margem é sair do centro,
da segurança, da acomodação... e ir em busca das surpresas, das
novas descobertas; implica arriscar, ter ousadia, não
ter medo de caminhar para os “confins da terra”, para regiões
desconhecidas em seu próprio interior...
Precisamos, para isso, ativar nossa “inteligência
espiritual”, como a capacidade que nos permite acessar e conectar com essa
dimensão profunda, à qual nos referimos com o termo “espiritualidade”.
Aderir à pessoa de Jesus, portanto, é arriscar-nos à
travessia do mar da vida; não estamos sozinhos; talvez nos encontramos perdidos
em alto mar esperando resgate e não somos capazes de perceber que no interior
de nossa barca há uma presença que nos pacifica. Ao chegarmos à outra margem
descobriremos uma experiência pessoal e comunitária de fé na pessoa de Jesus,
que nos ressuscita por dentro, que nos injeta vida nova e alegria profunda.
No entanto, é na vivência da adversidade que se dá
o encontro das oportunidades para o crescimento.
Muitas vezes, são justamente as circunstâncias adversas,
extremamente difíceis, que despertam na pessoa as condições mais criativas, que
enriquecem suas possibilidades práticas de atuar sobre a realidade em que vive
e transformá-la ou transformar-se.
Isto quer dizer que, diante da adversidade, a
pessoa mobiliza um conjunto de recursos dos quais não tinha consciência
anterior, mas cujo efeito é potencializador de crescimento e enriquecimento
pessoal.
Texto bíblico: Mc. 4,35-41
Na oração: Nas nossas vidas acontece algo
de verdadeiro e belo quando nos dispomos a buscar dentro de nós
mesmos a razão da nossa existência.
- A nossa vida é um êxodo, um sair
constante de uma realidade para entrar em uma outra realidade nova.
O peregrinar é o elemento
determinante e com maior valor simbólico para toda a vida.
- Existem ainda céus por explorar, aventuras por
empreender, pensamentos por experimentar e experiências por
aceitar; falta-nos ainda muito por saber, por ver, por sentir, por
desfrutar...
- No “mapa espiritual” de nosso
interior ainda existe uma “terra desconhecida”, que desperta
interesse à vida, suscita curiosidade, nos põe a caminho... Grandes
surpresas interiores estão à nossa espera, e a capacidade de continuar buscando
é que dá sentido ao esforço e vigor à vida.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário