1 de novembro de 2020
Manifesto publicado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira em 30-10-20
A tríplice crise resultante da COVID-19, da agitação civil e
do desastre econômico está abalando os fundamentos espirituais e materiais do
Ocidente e do mundo. Não se trata de uma crise comum, pois ela abala nossas
certezas desgastadas, ao mesmo tempo em que muda nossas rotinas diárias e
cerceia a liberdade da Igreja. Frente a essa crise, muitos ficam perplexos e se
perguntam o que deu errado. Para onde vai o Ocidente? É possível evitar o caos
que se aproxima?
Diante desse grande perigo que ameaça o Ocidente, o Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira e suas organizações co-irmãs e autônomas nos
cinco continentes — constituídas de leigos católicos que de há muito defendem a
Civilização Cristã contra os erros do comunismo e do socialismo — apresentam
uma análise dos perigos da atual situação, bem como uma mensagem de esperançosa
restauração.
I. A situação atual
A atual crise se manifesta de várias maneiras. Entretanto,
todas elas apresentam uma finalidade comum: destruir as estruturas da
Civilização Cristã ocidental que ainda resistem. Poderíamos dividi-las em três
categorias principais.
1. Uma crise sanitária que afeta todos os aspectos da vida
O mundo se confronta com uma epidemia viral suspeita
originada e propagada a partir da China. Este vírus afeta, acima de tudo, as
nações cristãs da Europa e das Américas, causando graves riscos sanitários e um
profundo impacto econômico, social e psicológico resultantes das draconianas
medidas sanitárias e lockdowns.
O assim chamado novo normal está afetando também a vida de
centenas de milhões de pessoas ao limitar a liberdade de movimento,
interrompendo o trabalho e a educação, proibindo ou limitando reuniões, eventos
culturais e finalmente restringindo o acesso à Missa dominical e aos sacramentos.
As pessoas são levadas a se acostumar com um mundo de
tristeza, isolamento e subconsumismo controlado por tecnocratas, não muito
diferente do pesadelo distópico do romance ‘1984’, de George Orwell.
2. A pandemia expõe as debilidades estruturais de nosso
mundo globalizado
Uma grave crise econômica está batendo à porta, com enormes
consequências políticas, sociais, culturais e psicológicas. Analistas de nível
mundial prevêem que será muito pior do que a Grande Depressão que começou em
1929.
A pandemia revelou a monumental dependência econômica do
Ocidente — nefasto resultado do imprudente deslocamento de sua base industrial
especialmente para a China.
O resultado é a grande fraqueza política do Ocidente. Sua
influência se encontra muito abalada no mundo “multipolar” no qual a China
comunista vem assumindo o papel de dragão. Muitos autores denunciam o declínio
inevitável e gradual do poder político, militar e diplomático do Ocidente no
cenário internacional. O mundo, como o conhecíamos, parece estar chegando ao
seu fim.
3. A agitação enfraquece ainda mais o Ocidente
O Ocidente está sendo enfraquecido por focos de agitação que surgem simultaneamente no mundo todo, como que desencadeados por uma direção comum. Tais pontos incluem:
a) Imigração descontrolada, um mal importado que favorece a
formação de quistos estrangeiros dentro das nações. Muitos recém-chegados —
especialmente migrantes muçulmanos — recusam integrar-se e assimilar-se ao país
que os recebe, criando de fato um separatismo interno. Este fenômeno transforma
o Ocidente em um “espaço aberto” multiétnico, multirreligioso e multicultural,
sem uma identidade nem objetivo comum.
b) Outro foco de agitação está no surgimento de políticas
identitárias e ideologias de esquerda que buscam varrer todos os resquícios e
estruturas do nosso passado cristão. Estes ideais sociais “desconstrucionistas”
têm como alvo a sociedade burguesa capitalista. Muitos esquerdistas se
aproveitam de diferenças raciais e culturais para promover a luta de classes
por meio de violência nas ruas e destruição urbana. Um exemplo típico são os tumultos
populares promovido pelo movimento Black Lives Matter nos Estados
Unidos [foto acima].
Entre outras consequências, esta agitação leva a um
radicalismo que, com a ajuda da mídia, assusta e paralisa a maioria silenciosa.
Em países onde esta maioria reage, a consequente polarização ideológica leva a
uma paralisia das instituições democráticas, e muitos observadores chegam a
mencionar o risco de guerra civil.
II. O homem ocidental face a este panorama
O Ocidente não está preparado para enfrentar esta tríplice
crise. Seus alicerces estão corroídos pela terrível fraqueza estrutural causada
por uma revolução cultural massiva, como se pode ver, por exemplo, com a crise
na família, a cultura da morte representada pelo aborto, e a ideologia LGBT
agressiva que vem se impondo a toda a sociedade, até mesmo a crianças
inocentes.
Acima de tudo, o Ocidente está enfraquecido por uma crise
espiritual. Muitos abandonam a Fé e vivem sem respeitar a lei de Deus,
ignorando sua graça e a vida sacramental. Enfraquecidos por esta decadência
moral, passamos a esquecer nossas raízes cristãs.
Privados de apoio espiritual e social, muitos reagem à esta
tríplice crise com perplexidade e incredulidade. Muitos psicólogos chamam isso
de “trauma coletivo”. Nosso mundo, poderoso, sólido, tecnologicamente
“perfeito” e seguro de si, foi abalado até os alicerces pelo novo coronavírus.
Em poucos meses, muitas certezas ruíram junto com a economia
ocidental. Tais certezas alimentavam nas massas um otimismo de progresso
indefinido. Hoje, essa crise corroeu a confiança na mídia, na ciência, nas
autoridades políticas e até nos líderes religiosos.
O otimismo, traço característico de nosso tempo, que havia
resistido a duas guerras mundiais, está desaparecendo e levando a uma crescente
ansiedade pelo futuro.
Nesse contexto preocupante, muitos começam a questionar as
premissas do Ocidente, perguntando: O que deu errado? Existe uma solução, uma
luz que possa nos guiar nesta tempestade, consolando e restaurando a confiança
no futuro?
Tais perguntas trazem consigo uma semente de remorso e de um
vago anseio pela retomada do caminho abandonado da virtude.
III. Uma imensa orfandade espiritual
Em meio à crise, seria bom voltarmos à fonte da cultura cristã e redescobrirmos os valores espirituais que formam a base de nossa civilização. É desta fonte espiritual que virão a ordem, as instituições e as graças que nos salvarão desta crise tríplice. Somente um retorno de filhos pródigos à casa paterna pode regenerar a sociedade na medida e profundidade necessárias.
No entanto, nossa incapacidade de lidar com esta tríplice
crise decorre do fato de que nossas certezas, princípios e valores foram
minados pela crise que se desenvolveu paralelamente dentro da própria Igreja.
Essa crise espiritual é muito mais destrutiva, pois nos priva dos meios que nos
ajudariam a encontrar soluções.
Nesta hora de supremo perigo para o Cristianismo, os fiéis
naturalmente alçariam seu olhar para a Cátedra de Pedro, Suprema Autoridade da
Igreja Católica, buscando uma palavra de conforto e orientação. No entanto, em
vez de se portar como baluarte do Ocidente, a Santa Sé parece indiferente ao seu
destino. Às vezes parece até favorecer as forças que atacam o Ocidente com
intensidade cada vez maior. O aspecto mais terrível da situação atual é a
imensa orfandade espiritual em que se encontra o Ocidente.
Consideremos estes fatos recentes — entre muitos que
poderiam ser citados — que solapam os fundamentos da fé:
1. Enquanto o Catecismo da Igreja Católica reitera
que os atos homossexuais “são contrários à lei natural” e “não podem, em caso
algum, ser aprovados” (no. 2357), e uma posterior declaração emitida pelo
Vaticano em 2003, condena “o reconhecimento legal das uniões homossexuais”.
Contudo, uma recente declaração do Papa Francisco afirma que “os homossexuais
têm direito de fazer parte de uma família (…). O que precisamos criar é uma lei
de convivência civil. Eles têm o direito de estarem cobertos legalmente”.
2. A fim de construir um “mundo novo” multipolar, o Papa Francisco lançou Fratelli Tutti, uma encíclica que, do ponto de vista religioso, coloca a Igreja Católica e a Sagrada Escritura em pé de igualdade com outras religiões e suas crenças fundamentais. Em nome de uma fraternidade universal naturalista e da “amizade social” correspondente, Fratelli Tutti fornece as bases doutrinárias e psicológicas para um “mundo aberto” sem princípios nem fronteiras, sem religião definida, em que os recursos estariam igualmente disponíveis a todos, e em que os conflitos devem ser resolvidos por meio do “diálogo”.
3. A encíclica favorece a invasão descontrolada de
migrantes no Ocidente — no caso da Europa, são principalmente muçulmanos.
Conclama os países a se submeterem a organismos internacionais como as Nações
Unidas, que supostamente resolveriam problemas mundiais, e especialmente os
relacionados ao clima e ao meio ambiente.
4. Além disso, contradizendo a doutrina social da
Igreja, Fratelli Tutti cerceia de tal maneira a propriedade privada e
a economia de livre mercado que, na prática, nega a liceidade moral desses dois
fundamentos da economia ocidental. Outros pontos da encíclica também preocupam.
O Papa Francisco os repetiu ao longo de seu pontificado e provavelmente o fará
novamente durante os eventos do Pacto Global sobre a Educação e
da Economia de Francesco. Por exemplo, promoverá um “decrescimento
sustentável”, uma economia de ‘energia sem carbono’ — isto é, o miserabilismo
como padrão de consumo — e a propriedade e gestão comunitária praticada por
movimentos populares de esquerda.
5. A isso se somam os anseios indígenistas propostos na encíclica Laudato Si e na Exortação Apostólica Querida Amazonia, que apresentam o modo de vida tribal como modelo sustentável e comunitário. Sem mencionar os horrendos atos de adoração à Pachamama no Vaticano [foto ao lado]. Ambos documentos confirmam tragicamente as previsões do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre as tendências miserabilistas e tribalistas de setores da Igreja, contidas no livro Revolução e Contra-Revolução, edição de 1976, e na obra Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, de 1977.
6. A passividade da Hierarquia durante a crise
sanitária ficou evidente quando muitas autoridades religiosas foram além das
determinações civis. Inicialmente impondo a comunhão na mão e depois chegando a
cancelar a celebração das missas. Pela primeira vez na história, o clero
católico celebrou a Páscoa sem fiéis. Muitos destes não estão voltando para a
Igreja, agravando assim uma crescente apostasia.
IV. Tem-se o direito de resistir a um papa que abandona a
Cristandade?
Como diz seu próprio nome, a Igreja Católica é universal. Sua missão é batizar todos os povos, ensinando-as a observar o que Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou (Mt 28:19-20). Nesse sentido, Ela não se fica circunscrita com esta ou aquela área geográfica, etnia ou cultura. Por dois mil anos a Civilização Cristã ocidental vem sendo o fruto mais visível e duradouro do apostolado da Igreja. A santidade de sua doutrina, o espírito evangelizador, a profundidade filosófica e teológica, a criação de hospitais, universidades, obras de caridade, o efeito florescente na economia, nas artes e ciências levaram o Papa Leão XIII a escrever nestes termos a Cristandade medieval:
“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os
Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina
penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias
e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo,
solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte
era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos
Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma
feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a
sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória
subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que
artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer” (Encíclica
“Imortale Dei”, nº 28).
Os Soberanos Pontífices, que precederam os Papas
conciliares, sempre reconheceram a civilização cristã ocidental como “a única
ordem verdadeira entre os homens” (RCR, parte I, cap VII, 1, E), e procuraram
defendê-la. Que mãe desnaturada seria a Igreja se, vendo esta ordem em perigo
de morte, lhe voltasse as costas. Pior ainda, seria se colaborasse com seus
inimigos a agredir esta ordem até que pereça. Se assim o fizesse, a Igreja
estaria agindo como um falso pastor que entrega o rebanho aos lobos vorazes que
o querem devorar. Lamentavelmente é esta a atitude demonstrada por muitas das
nossas mais altas autoridades eclesiásticas.
Diante de tal panorama apocalíptico, uma pergunta lancinante
surge na alma de inúmeros católicos: é lícito reagir e defender com altaneria a
Civilização Cristã, suas tradições religiosas e temporais mesmo quando
contrarie orientações emanadas de altas autoridades? É lícito resistir às
políticas adotadas pelo Papa Francisco que ameaçam a integridade, segurança e
identidades culturais do Ocidente?
Não tememos continuar em estado de resistência porque o Papa Paulo VI e numerosas autoridades eclesiásticas implicitamente reconheceram — por seu silêncio — a liceidade moral da declaração da TFP sobre a política de distensão do Vaticano com os regimes comunistas, de 1974. O documento [fac-símile acima], da autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, foi assinado e publicado por todas as TFPs então existentes. Nele se lê:
“Neste ato filial, dizemos ao Pastor dos Pastores: Nossa
alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos
mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto
nossa consciência se opõe.
Sim, Santo Padre — continuamos — São Pedro nos ensina que é
necessário ‘obedecer a Deus antes que aos homens’ (At. V, 29). Sois assistido
pelo Espírito Santo e até confortado — nas condições definidas pelo Vaticano I
— pelo privilégio da infalibilidade. O que não impede que em certas matérias ou
circunstâncias a fraqueza a que estão sujeitos todos os homens possa
influenciar e até determinar Vossa atuação. Uma dessas é — talvez por
excelência — a diplomacia. E aqui se situa a Vossa política de distensão com os
governos comunistas.
Aí o que fazer? As laudas da presente declaração seriam
insuficientes para conter o elenco de todos os Padres da Igreja, Doutores,
moralistas e canonistas — muitos deles elevados à honra dos altares — que
afirmam a legitimidade da resistência. Uma resistência que não é separação, não
é revolta, não é acrimônia, não é irreverência. Pelo contrário, é fidelidade, é
união, é amor, é submissão”.
V. Resistência
Resistir significa que vamos encorajar os católicos a reafirmar seu amor pela Civilização Cristã ocidental, defendendo seu legado e sua cultura. Além disso, trabalharemos para que eles sejam restaurados com ainda maior brilho e solidez para que o Ocidente recupere a liderança mundial que merece, não por ser ocidental, mas por ser católico. A civilização cristã ocidental é erigida em um passado bimilenar e no fato de ter seu centro em Roma, a Sé de Pedro.
Resistir significa incentivar os líderes e povos
ocidentais a reconhecer as profundas razões do seu declínio, analisadas
em Revolução e Contra-Revolução, obra-prima do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira [foto], e aplicar os remédios que sugere para livrar o Ocidente desta
crise existencial.
Resistir significa não nos conformarmos com a morte do
Ocidente. Pois, como nos ensinou o líder católico brasileiro no mesmo
livro: “Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as
maravilhas da Historia que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é
a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga,
são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições
de alma de que os povos são também suscetíveis. Ressurreições invencíveis,
porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus”.
Resistir significa manifestar respeitosamente nossa
análise e juízo diante de pronunciamentos como a encíclica Fratelli Tutti ou
o endosso do Papa Francisco ao reconhecimento legal das uniões homossexuais —
um golpe mortal no que ainda resta da civilização cristã ocidental.
Resistir significa denunciar com franqueza filial e
respeitosa a perigosa contradição entre o tratamento privilegiado dispensado
pela Santa Sé à China vermelha — cujo regime comunista não condena — e o
desprezo do Papa Francisco pelos grandes países da Europa e das Américas. Ele
ataca impiedosamente suas soberanias e sistema econômico, baseados na livre
iniciativa e na propriedade privada e inteiramente alinhados com a lei natural,
os Dez Mandamentos e o ensino bimilenar dos papas, como se pode ver no Supremo
Magistério da Santa Madre Igreja.
Resistir significa proclamar com indomável confiança
que, para além das tempestades espirituais, dos desafios materiais e de todos
os ataques de seus inimigos, o Ocidente e a Civilização Cristã reerguer-se-ão,
cumprindo as palavras proféticas de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, o
meu Imaculado Coração triunfará!”
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