32º Domingo do Tempo Comum – 08/11/2020
Anúncio do Evangelho (Mt 25,1-13)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta
parábola: “O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram
suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram
imprevidentes e as outras cinco eram previdentes. As imprevidentes pegaram
as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. As previdentes, porém,
levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas. O noivo estava demorando,
e todas elas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um
grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’ Então as dez jovens
se levantaram e prepararam as lâmpadas.
As imprevidentes disseram às previdentes: ‘Dai-nos um pouco
de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando’. As previdentes
responderam: ‘De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e
para vós. É melhor irdes comprar dos vendedores’. Enquanto elas foram
comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram com ele para
a festa de casamento. E a porta se fechou.
Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram:
‘Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!’ Ele, porém, respondeu: ‘Em verdade eu
vos digo: Não vos conheço!’ Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual
será o dia nem a hora”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
https://liturgia.cancaonova.com/pb/
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger
Araújo:
https://www.youtube.com/watch?v=dxqu6QHlzQk&feature=emb_logo
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Não podemos viver de
"luz emprestada"...
“Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando” (Mt 25,8)
As parábolas são relatos provocadores, que revelam
o sentido da vida a partir de uma perspectiva diferente. Não são histórias
edificantes, nem meditações piedosas, mas enigmas para pensar, decifrar e
decidir o horizonte da vida. As parábolas não fecham a mensagem (não são
dogmas, nem demonstrações), pois são sinais que cada um deve interpretar e
resolver a partir de sua própria vida.
Frente às parábolas, uma pessoa pode rebelar-se, outra pode
descobrir o lado oculto de sua vida... Por isso, são imagens interativas que
não tem a solução dada de antemão. É surpreendente a insistência com que
Jesus fala da vigilância; são numerosas as parábolas que nos convidam
a adotar uma atitude desperta e atenta frente à existência, para que esta tenha
um sentido.
Interpretar a parábola deste domingo no sentido de que
devemos estar preparados para o dia da morte, é falsificar o evangelho. A
parábola não está centrada no fim, mas na inutilidade de uma espera que não é
acompanhada de uma atitude de amor e de serviço. As lâmpadas devem
estar sempre acesas, para ajudar a acolher as gratas surpresas da vida e poder
participar da festa d’Aquele que continuamente vem ao nosso encontro. Se não
queremos ser insensatos (sem sentido, sem direção), precisamos estar alertas,
para entrar em sintonia com a realidade e viver a vida como deve ser
vivida.
Nossa maior insensatez seria viver “sem horizonte”, sem
desejos e sonhos, sem uma causa mobilizadora... Submergimos no presente sem
outra perspectiva mais ampla; e assim afogamos nossa vocação de infinitos na
vulgaridade de uma vida superficial e satisfeita. Se estamos adormecidos, é
preciso despertar, porque, do contrário, perderemos a oportunidade de entrar na
festa das núpcias. Portanto, ser “imprudentes” significa viver
“dispersos”, “distraídos”... deixando apagar a lâmpada de nossa fé e de nossa
esperança, e sem o azeite de reposição.
A lamparina que arde é a prática da mensagem de Jesus; o
azeite que alimenta a chama, é o amor manifestado. Assim entendemos porque as
jovens prudentes não podem compartilhar o azeite com as imprudentes. Não se
trata de egoísmo; é impossível amar em nome de outra pessoa ou considerar como
própria a entrega que o outro realizou. A lamparina não pode queimar com o
azeite de outro; a chama não pode ser acesa com azeite comprado ou emprestado.
A parábola do Evangelho nos fala daqueles que não cultivam
sua esperança hoje e pretendem viver do azeite das lâmpadas dos outros. E
ninguém pode viver da fé do outro, nem da esperança do outro. O sentido de
toda uma vida não pode ser improvisado em um instante. Somente a partir da luz
de Deus em nós, descoberta, reconhecida e ativada, poderemos viver antenados
com o melhor que há em nosso interior (azeite) e com a realidade que nos
envolve, cheia de surpresas.
Todos nós somos portadores de uma lâmpada e todos
somos convidados à festa. Podemos inspirar-nos mutuamente a viver a partir de
nossa verdade mais profunda, a partir da luz que nos habita; mas, no
final, a falta ou não de azeite para a nossa lâmpada depende de cada um(a), de
nossa responsabilidade, de nossa previsão, do cuidado delicado e agradecido
diante de tudo o que foi recebido, da capacidade para sustentar a esperança nas
noites escuras e, sobretudo, do amor e da alegria que alimentamos no desejo de
nos encontrar, dia a dia, com o Noivo, seguros de que Ele sempre vem.
Só assim seremos luz verdadeira para os outros,
iluminaremos – humildemente – as obscuridades que nos envolvem, e contagiaremos
a alegria de sabermos que fomos convidados à festa. O que permanece em
nosso interior é o fulgor (luz) que vivemos (que brilha) por dentro, ao fazer
memória da nossa vida, esse “eu profundo” que é mais “eu” que eu
mesmo: “eu” original, iluminado, santo, intocável, faísca de luz que se volta
para Aquele que é Fonte de toda luz.
O “ego” é como um planeta do sistema solar; não
tem luz própria. Adquire sua luz emprestada e, portanto, vive no engano de que
pode continuar sempre assim, no tempo e no espaço. Por isso, o ego inflado
com a luz que não é própria, busca, de maneira desenfreada, apoderar-se de tudo
aquilo que lhe dá a ilusão de brilhar: poder, riqueza, vaidade... Falsas luzes
que um dia se apagarão.
O “eu original”, no entanto, vai ao encontro da luz
verdadeira, presente no próprio interior, e deixa-se iluminar por ela; é esta
pequena chama que o conduz em direção Àquele que é a Luz, para entrar e
participar do seu festim iluminado. Por isso, nós somos, ao mesmo tempo,
a lâmpada, o azeite e a luz. Ninguém pode nos
emprestá-los, porque é nossa própria vida. Toda vida se move a partir de
dentro.
Dentro de nós devemos descobrir a luz que iluminará nossos
passos; essa chama, se é autêntica, não pode se ocultar, pois iluminará também
a todos os outros. Uma luz que acende outras luzes. Contemplai admirados
essa luz que somos! E, mesmo nosso pequeno “ego” brilhará, atravessado por essa
luz como o sereno pelo sol do amanhecer.
A parábola deste domingo, portanto, nos provoca a uma tomada
de posição: “em qual dos dois grupos eu me encontro? Em qual deles desejo
estar?” A narração usa as imagens das lâmpadas e do azeite como símbolos
que marcam a diferença entre um grupo e outro.
Nossa vida, enraizada na Vida d’Aquele que é a Luz do mundo,
é chamada a irradiar luz, a iluminar a realidade na qual habitamos, embora,
muitas vezes, a noite escura nos envolve.
“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14).
“Em que situação se encontra minha lâmpada? E minha reserva
de azeite? De que modo colaboro para que o Noivo possa celebrar a festa? Como
sou luz em meio a tantas noites de ódio e violência pelas quais nosso mundo
atravessa?” Na realidade, de acordo com a parábola, todas as jovens
carregavam suas lâmpadas; todas elas tinham sido convidadas à festa; todas
alimentavam o mesmo desejo: aguardar a chegada do noivo. O fato de pertencer a
um grupo ou a outro não se impõe a partir de fora. Cada uma das personagens da
parábola, no fundo, foi livre e decidiu com sua atitude (previdente e sábia, ou
imprudente e descuidada), em quê grupo situar-se.
Hoje em dia existem, nas igrejas e capelas, as velas para
todos os gostos; existem aquelas eletrônicas, que são ativadas com uma moeda; e
existem até aquelas que podem ser acesas a longa distância, pela internet. Mas,
velas originais são aquelas que se consomem na nobre missão de iluminar.
Simbolizam a travessia da própria existência: queima-se a cera como nós vamos
nos queimando, diminuindo-nos com a passagem do tempo, as dificuldades e as
alegrias de nossa travessia humana.
Quando acendemos a chama, é como se tomássemos consciência
de que somos luz na medida em que vamos nos gastando em iluminar nosso entorno
e chegar a ser cera derretida um dia, tarde ou cedo; passar de luz natural a
reencontrar-nos com a Luz total da qual procedemos.
Texto bíblico: Mt 25,1-13
Na oração: A esperança mantém sempre acesa
a faísca de luz que todos carregamos dentro. É ela que nos faz
cair na conta que somos “luz do mundo”, uma chama que nunca se apaga;
somos “sarça ardente” para os outros, consumindo-nos constantemente,
através da vida doada; somos uma lamparina humilde, brilhando na janela da
nossa pobre casa, indicando aos outros o caminho da segurança e do aconchego.
- Como você deixa transparecer a luz no seu agir
cotidiano? Qual é o azeite que brota do seu coração e que alimenta a
luz de sua humilde lamparina?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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