Só espero que não se repita mais o que aconteceu este ano, quando, por causa da pandemia, não pude abraçar meu netos Alice e Eric nos seus aniversários. Beijar, então, nem pensar. Até o parabéns teve que ser cantado com máscara. É fácil imaginar o que foi para um beijoqueiro que, como diz minha mulher, beija até cachorro na rua.
Realmente, afeto para mim se confunde com afago, se traduz
em gesto, é tátil. Quando recebo um telefonema ou e-mail de uma amiga ou amigo,
a sensação de falta, ou seja, a saudade aumenta. Entendo o que Gilberto Gil
disse uma vez — que só sentia saudade das pessoas quando as encontrava. Aliás,
vocês se lembram do resultado da pesquisa que Ancelmo publicou? Mais de 80%
responderam que o abraço dos parentes e amigos era do que mais sentiam falta. O
que talvez vocês não saibam (eu não sabia) é que existe a “síndrome da cabana”,
um estresse que pode acometer as pessoas que estão voltando ao trabalho, ao
“normal”, depois, por exemplo, de sete meses confinados em casa.
O fenômeno foi descrito pela primeira vez em 1900 nos EUA,
referindo-se aos caçadores que no inverno ficavam muito tempo trancados em suas
cabanas e que em seguida retomavam o convívio social. Não é uma boa notícia
para todos nós que passamos sete meses isolados e sonhando em retornar à velha
rotina. Será que vamos sentir falta do confinamento? Acho que não. Embora
pessoal e diretamente não tenhamos sido atingidos pela pandemia, é impossível
não ser afetado pelo desfile mórbido que aumenta a cada dia. No momento em que
escrevo são mais de 150 mil pessoas, que serão mais quando vocês estiverem
lendo.
Acaba de sair o livro “A bailarina da morte”, de Lilia
Schwarcz e Heloisa Starling, sobre a gripe espanhola, que, entre 1918-19, matou
mais do que a Primeira Guerra, cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, e, só
no Brasil, entre 35 mil e 50 mil. É de imprescindível leitura não só porque é
um admirável trabalho de pesquisa sobre o que aconteceu naquele período tão mal
estudado como porque mostra que o país teve um século para aprender e aprendeu
pouco.
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Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL, eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do
Acadêmico Ariano Suassuna, e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica
Cleonice Berardinelli.
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