A vacina é o único socorro de esperança contra a ameaça da
Covid. Já falei mais de uma vez do cálculo de Malthus sobre a expansão da
Humanidade e da narrativa que Jared Diamond faz da ascensão e queda das
civilizações: nos cenários, guerras e germes. A história das pragas é uma
desgraça: desde as sete pragas do Egito, que são dez, o que se vê são as
populações dizimadas. Dizimadas não: o decimatio castigava um em cada
dez soldados, mas as pestes sempre foram mais radicais. A praga de Justiniano
matou mais da metade da Humanidade; a peste negra, um quarto.
Para uma doença virar epidemia ou pandemia, ela precisa ser
contagiosa e viajar. Assim nossas cidades marítimas não escaparam da
reviravolta da natureza — pois é isso o que acontece quando mexemos com o meio
ambiente, mesmo na “inocente” domesticação de rebanhos. Varíola, gripe,
malária, dengue, febre amarela, SARS passaram por aqui. Houve a gripe suína,
que era em parte aviária, mas tinha até fragmentos dos vírus da gripe
espanhola; esta, com bagagem de 100 milhões de mortos, matou Rodrigues Alves,
que acabara com a febre amarela; doença que o africano Aedes
aegypti trouxe em 1685/6 para Recife e Salvador; mosquito que nós
erradicamos duas vezes, mas continua matando com a dengue. A colheita das
pragas é grande, e temos algumas vitórias e muitas derrotas. A maior, o
impaludismo, nos bate há 10 mil anos.
O Brasil tinha uma história de vacinação. A primeira foi em
1804. Em 1811 tivemos mesmo uma Junta Vacínica. Com o uso direto do vírus
ativo, acontecia de ser pior que o soneto. Um século depois, Rodrigues Alves
chamou Osvaldo Cruz, jovem médico a quem não conhecia, para acabar com a febre
amarela e a varíola. A imprensa, um grupo de médicos negacionistas e alguns
conspiradores militares ficaram contra ele. Consideravam absurdo que os
mata-mosquitos pudessem entrar nas casas para acabar com o Aedes.
A Lei 1261/1904 tornou obrigatória a vacina contra a varíola.
A conspiração positivista, que faria chefe da ditadura a Lauro Sodré, partiu
para a ação. Revoltou-se o Rio de Janeiro. O dia 14 de novembro foi de conflito
armado. O governo dominou, com dificuldade, a situação. Na discussão do pedido
de estado de sítio, Rui Barbosa, nosso maior intelectual, numa posição
incompreensível, ataca: “Não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a
temeridade, a violência, a tirania a que ele se aventura… a me envenenar, com a
introdução, no meu sangue, de um vírus… condutor da moléstia, ou da morte.” E
apoia o governo, elogia o desbaratamento do golpe!!!
No Maranhão a história é outra. Cláudio Amaral Júnior,
grande nome da vacinação no País, conduziu a campanha que em oito meses
erradicou a varíola. Fiz o possível para ajudá-lo: acionei a estrutura das
escolas comunitárias “João de Barro”, fazíamos os “Comícios da Saúde”, 15 dias
de campanha preparatória e promovi a “vacinação num só dia”. Na Praça João
Lisboa vacinamos 40 mil pessoas de uma levada, trabalhando até meia-noite. Essa
experiência foi levada por ele e pela OMS para outros países.
Contra a Covid o caminho é claro: precisamos da vacinação em
massa, alcançando indiscriminadamente dos mais ricos aos mais pobres. O Brasil
tem instituições que são capazes de produzir rapidamente as vacinas que tenham
sucesso. Aqui no Maranhão temos que nos preparar para aplicar as vacinas.
Levantar voluntariado, treinar e organizar equipes, fazer um trabalho
coordenado com os municípios, chegar aos povoados mais remotos.
O Estado do Maranhão, 20/09/2020
https://www.academia.org.br/artigos/todo-poder-vacina
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José Sarney - Sexto ocupante da Cadeira nº 38 da ABL, eleito
em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6
de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos
Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.
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