— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus
Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe
e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do
Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é
Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Então Jesus
lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu:
“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de
Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está
no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu
te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será
ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo:
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“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15) “Quem
és tu, Senhor?” (At 9,5)
Os acontecimentos e, sobretudo, as pessoas que encontramos
ao longo da existência, são os que vão nos fazendo passar por contínuas
transformações. Por isso, quando narramos nossa história de vida, quase sempre
mencionamos alguém em particular que nos marcou profundamente. Já não somos
mais os mesmos depois de ter conhecido certas pessoas que se tornaram
especiais. Nosso olhar e nossa memória retornam a elas frequentemente, por sua
constante inspiração e companhia.
Por isso, a pergunta que Jesus dirige aos discípulos não é
superficial – “E vós, quem dizeis que eu sou?” Esta é a questão, a
grande pergunta de Jesus que continua ressoando em todos nós, seus(suas)
seguidores(as). Dependendo da resposta que damos, isso terá implicações
profundas em nossa existência: a centralidade do modo de ser e de agir de Jesus
em nossos compromissos, a ressonância de suas palavras em nossa vida, a
sintonia com suas grandes opções, a sensibilidade diante dos mais pobres e
excluídos, a nova relação com o Pai... Em outras palavras, o encontro com a
identidade de Jesus des-vela nossa verdadeira identidade e, por isso mesmo,
nosso modo de ser e de agir serão cristificados.
Segundo o evangelho deste domingo, só reconhecendo a identidade de
Jesus estaremos capacitados para escutar o que Ele tem a nos dizer. Por isso,
quando Pedro declarou quem era de verdade Aquele a quem tinham seguido, o
Senhor mudou seu nome – “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha
Igreja”. Só Jesus conhece bem quem somos e o que podemos realizar.
O ser humano é um ser chamado. Chegamos a ser nós mesmos
graças ao chamado, ao olhar, à palavra de outro. E na palavra e no chamado que
nos vem de Jesus, vamos percebendo que o mistério de Deus, totalmente outro e
absolutamente íntimo, nos envolve e nos fundamenta.
Não podemos definir Jesus com dogmas e doutrinas, mas também
não podemos deixar de nos fazer a per-gunta: “quem é este homem
Jesus”? Toda tentativa de responder com fórmulas fechadas não solucionará
o problema. A resposta deve ser vivencial, não teórica: “quê dizes tua
vida de mim?”, pergunta Jesus.
Nossa vida, enquanto seguidores(as), é a que deve
dizer quem é Jesus para nós. Do esforço dos primeiros cristãos por
compreender a Jesus devemos fazer nossas as perguntas que foram feitas, não as
respostas que deram. Por mais informações que recebamos sobre Ele, por mais
normas morais e ritos que aprendamos e pratiquemos, se ninguém nos convida, com
sua vida, a prolongar o estilo de vida de Jesus, tudo permanecerá superficial e
em nada nos enriquece.
Dar por definitivas as respostas dos primeiros concílios
acabam nos afundando na rotina da repetição de fórmulas. O decisivo é descobrir
a qualidade humana de Jesus e deixar que Ele desvele o que há de mais
humano em cada um de nós. Afinal, o centro da missão do Mestre de Nazaré está
em nos ajudar a sermos um pouco mais humanos, sobretudo nas relações com os
outros e com o Pai.
Se cremos que o importante é a resposta, que já está dada,
todos permanecemos em paz e acomodados; isso é grave. Hoje sabemos que o
importante é que continuemos fazendo-nos a pergunta; a resposta nos paralisa; a
pergunta nos mantém acesos e criativos, pois esta tem impacto no modo
cristificado de viver.
Uma fé, vivida sem perguntas, acaba se esvaziando daquele
mesmo impulso vital de Jesus. Somos segui-dores(as) de uma Pessoa (Jesus
Cristo) e não de respostas teológicas.
Nossa fé cristã hoje é a mesma de Pedro e
de Paulo: seguir Jesus Cristo e, em nossa maneira de viver, oferecer
o Evangelho a todos. Assim se compreende que a Igreja celebre Pedro e Paulo
numa única festa. E, por isso, não devemos nos escandalizar se, com frequência,
na Igreja aflore o “Simão”, ao invés de Pedro: as ânsias de
triunfalismos, busca de poder, medos na hora da perseguição... Também não
podemos nos escandalizar se, com frequência, aflore o “Saulo”, ao invés
de Paulo: fechamento nas próprias ideias e convicções, desembocando
na intolerância, no dogmatismo e na violência, inclusive física.
Estes dois grandes personagens (Simão e Saulo) passaram por
uma profunda transformação, a partir do encontro com a pessoa de Jesus Cristo;
foi um processo lento, sendo lapidados pela graça de Deus até redescobrirem uma
nova identidade escondida debaixo das cinzas do auto-centramento e da
prepotência; identidade que agora se expressa em novos
nomes: Pedro e Paulo.
Como distinguir, na Igreja, “Simão” de “Pedro”?; como
distinguir “Saulo” de “Paulo”? Onde estão as fronteiras, se, ao mesmo tempo,
Simão é Pedro e Pedro é Simão? Onde estão os limites, se, ao mesmo tempo, Saulo
é Paulo e Paulo é Saulo?
Estes dois personagens nos fazem ter acesso à nossa condição
humana: somos barro, frágeis, inconstantes...
mas carregamos um tesouro que nos dignifica. Nas profundezas
de nosso ser, há um “pedro” e um “paulo” escondidos, esperando uma oportunidade
para se manifestar. Exteriormente, talvez tenhamos sido muito mais “simão” e
“saulo”, mas, o que decide nossa vida, é a nossa interioridade, morada do
“Pedro” e do “Paulo”. É ali que a Graça de Deus trabalha em nós, fazendo
emergir, junto a estes dois personagens, o que é mais nobre e mais divino em
nós. Deus, na sua eterna paciência, espera momentos especiais para dar o seu
“toque” em nosso eu profundo, e assim despertar o “pedro” e “paulo” que ainda
dormem.
Diante de nós está Jesus Cristo para nos dar
a “chave” como a deu a Pedro; ela nos facilitará o acesso ao mistério
insondável da Vida. Na perspectiva bíblica “céus” significa vida em
profundidade, vida expansiva, vida que nunca se acaba. Como dinamismo
humanizador, a chave da interioridade é mola mestra que movimenta
grandes intuições e sonhos, retira-nos do individualismo, cultiva a
solidariedade, corrige rotas de vida, excita a imaginação, realça o poder
criativo...
Temos em nossas mãos as chaves da vida. O que
fazemos com elas? Podemos abrir ou fechar, ligar ou desligar, atar ou
desatar.... “Ter a chave da vida”: abrir ou fechar as portas do futuro, das
relações, dos sonhos, da missão... Dar direção à vida. Atar e desatar os nós que
bloqueiam o fluir da vida.... Aqui está o grande desafio: abrir-nos ou
fechar-nos; abrir-nos à vida, ao novo, ao outro, ao desafiante ou diferente...
ou fechar-nos no medo, no conhecido, no rotineiro...
Deus confiou e colocou em nossas mãos a “chave da
vida”. Ele não impõe, não obriga. Corre o risco de nos criar livres. Aqui
está nossa grandeza, enquanto seres humanos: optar por uma vida aberta ou
fechada, ser nó ou desatar, ligar ou desligar, expandir ou retrair...
Sempre há o perigo de construir, dentro de nós, um
condomínio onde portas se fecham, chaves se perdem, segredos são esquecidos...
e, com isso, mergulhamos na mais profunda solidão.
Nossa própria interioridade é a rocha consistente
e firme (“tu és Pedro”), bem talhada e preciosa que cada um de nós tem, para
encontrar segurança e caminhar na vida superando os desafios e as inevitáveis
resistências na vivência do seguimento de Jesus.
É no “eu mais profundo” que as forças
vitais se acham disponíveis para nos ajudar a crescer dia-a-dia,
tornando-nos aquilo para o qual fomos chamados a ser. Trata-se da dimensão mais
verdadeira de nós mesmos, a sede das decisões vitais, o lugar
das riquezas pessoais, onde vivemos o melhor de nós mesmos,
onde se encontram os dinamismos do nosso crescimento, de onde partem
as nossas aspirações e desejos fundamentais, onde
percebemos as dimensões do Absoluto e do Infinito da nossa
vida.
Texto bíblico: Mt 16,13-19
Na oração: A oração nos torna-nos diáfanos
(transparentes); ela deixa transparecer o “simão” e o “pedro” de nossa
interioridade; ela des-vela o “saulo” e o “paulo” que atuam em nós.
A interioridade é espaço aberto, onde, a intimidade com Deus
não anula nossa personalidade, mas nos capacita a fazer uma contínua passagem
do “simão para o Pedro”, do “saulo para o Paulo”.
- O que tem predominado em sua vida: “simão ou Pedro”?
“saulo ou Paulo”?
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