15 Abril 2020
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
Ministro entrará para a história como o homem que tentou
fritar quem o nomeou e jogou uma oportunidade única de escrever seu nome nos
anais da medicina
Por Cláudio Magnavita*
Há uma máxima na medicina de que todo o médico ortopedista é grosso, truculento
e bruto. Não é função para pessoas sensíveis e delicadas. Não se trata de
nenhum demérito à especialidade, mas um pré-requisito até para um bom
ortopedista.
Foi exatamente esta a especialidade que o acadêmico da Gama
Filho do Rio, Luiz Henrique Mandetta, escolheu para seguir a sua carreira.
Nos últimos dias ele tem exercido com perfeição o papel
truculento nas relações que emanavam a sua fonte de poder.
Nunca um brasileiro jogou fora uma oportunidade histórica
por puro egocentrismo e a incapacidade de perceber que parte da bajulação que
recebia tinha um objetivo único: ferrar o seu chefe, constranger aquele que o
ungiu ao cargo mais importante da saúde no Brasil.
Por ter tido dois mandatos de deputado e por ter tido duas
campanhas financiadas por patrocinadores, que depois viraram fornecedores do
próprio Ministério sem ter licitação, não se pode dizer que Mandetta foi um
inocente útil na mão de uma oposição velada, e por parte da mídia que quer
implodir a popularidade de Bolsonaro.
O certo é que o ministro foi inábil, partiu para o
confronto, acreditando que em plena crise ninguém seria capaz de exonerá-lo. O
apoio que recebeu de colegas e até da turma verde-amarela do Palácio se
esfacelou por pura deslealdade.
Faltou humildade a Mandetta, faltou perceber que ele não era
mais detentor de um mandato, no qual teria imunidade por fazer e desfazer ao
bel prazer.
Ele estava preso a uma cadeia de comando, a uma delegação de
poderes, a uma hierarquia que um dia o nomeou e, como falamos antes, o ungiu ao
cargo mais alto da saúde do país. E o que ele fez? Passou os últimos dias,
destruindo os tênues fios que o ainda o sustentava.
Como um médico, um brasileiro, um pseudo apaixonado pela
ciência, joga fora a maior oportunidade de sua vida por simples orgulho? Por
vaidade. Ele não poderia ter usado o seu charme para convencer o presidente dos
seus pontos de vista? Não poderia usar a sua eloqüência para equilibrar os
ritos do poder?
Por que ser irônico? Por que se aliar a inimigos? Será que o
cansaço e o esgotamento físico levou um tarimbado homem público a perde o dom
do diálogo?
Mandetta cometeu todos os pecados que um ocupante de uma
função de confiança não deveria cometer. Desafiou publicamente o chefe. Foi
desleal com os colegas que enfrentaram o presidente e avalizaram sua
permanência. Foi desleal com o seu currículo, jogando fora o juramento de
Hipócrates, pilotando o maior plano de emergência de saúde da história da
humanidade.
Ele vai sair do Governo e vai se abrigar em São Paulo ou em
Goiás, atrás de uma trincheira nitidamente de oposição. Será julgado pela
história não pela sua capacidade de tentar acertar, mas de não ter a humildade
e o jogo de cintura para permanecer em uma função que o destino lhe deu e que,
por burrice política, deixou escapar pelas mãos.
A história será implacável, mas o carimbo de traidor e
sobretudo de ingrato está fixado em seu currículo. Um ministro que durante
semanas fritou o seu próprio presidente e que foi incapaz de perceber que
estava fazendo o jogo de uma oposição inconformada de ter no Palácio do
Planalto um homem disposto a quebrar paradigmas, acabar com privilégios e que,
pela primeira vez, deu carta branca e porteira fechada a todos os seus
ministros. Infelizmente, no caso do ortopedista Luiz Henrique Mandetta, ele não
soube usar.
*Cláudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário