Péricles Capanema
O cardeal na linha de frente. O cardeal Charles Bo é
arcebispo da arquidiocese de Yangon em Myanmar. É o primeiro cardeal birmanês,
nasceu em 1948, foi bispo em 2003, cardeal em 2015, preside a Conferência da
Federação dos Bispos Asiáticos.
Localização. A antiga Birmânia, hoje República da União de
Myanmar, 678 mil km2, por volta de 55 milhões de habitantes. Cerca de 700 mil
de seus habitantes são católicos.
Declaração histórica contra o despótico PCC. O
cardeal-arcebispo, cujo país tem fronteiras com a China (quase 10 milhões de km2,
1,5 bilhão de habitantes) divulgou em fins de março, a propósito da crise do
coronavírus, corajosa e esclarecedora declaração contra o Partido Comunista
Chinês. A declaração foi entregue à imprensa, repercutiu em particular na
Europa, e encontra-se na íntegra no site da Arquidiocese. [neste site da ABIM
encontra-se a tradução no seguinte link: http://www.abim.inf.br/o-regime-chines-e-sua-culpabilidade-moral-pelo-contagio-global-covid-19/ ].
Logo no começo, afirma o Purpurado: “Vozes internacionais estão se levantando
contra a atitude negligente demonstrada pela China, especialmente por seu
despótico Partido Comunista Chinês (PCCH) liderado por seu homem forte Xi
Jinping”.
Estudos demolidores. Continua o arcebispo de Yangon: O London
Telegraph (29 de março de 2020) disse que o Ministro da Saúde local acusou
a China de esconder a verdadeira escala de coronavírus. Com choque, relatou a
reabertura dos mercados “úmidos”, que foram identificados como a causa da
propagação do vírus. James Kraska, um estimado professor de direito, escrevendo
na última edição da War on Rocks (23 de março de 2020), diz que a
China é legalmente responsável pelo COVID-19 e que poderiam ser feitas
reivindicações em trilhões (de dólares)”.
Prossegue o cardeal Bo, citando estudos: “Um modelo
epidemiológico da Universidade de Southampton descobriu que se a China tivesse
agido mais rapidamente e de maneira responsável apenas uma, duas, ou três
semanas, o número de afetados pelo vírus teria sido reduzido em 66%, 86% e 95%,
respectivamente. Seu fracasso desencadeou um contágio global matando milhares”.
O PCC é réu. Pondera o hierarca: “Ao examinarmos o dano
causado à vida em todo o mundo, devemos perguntar quem é o responsável? É claro
que críticas podem ser feitas às autoridades em todos os lugares. Muitos
governos são acusados de não se terem preparado quando viram o coronavírus
surgir em Wuhan. Mas há um governo que tem responsabilidade primária, como
resultado do que fez e do que deixou de fazer, e esse é o regime do Partido
Comunista Chinês (PCCH) em Pequim. Deixem-me esclarecer: o responsável foi o
PCCH — não o povo da China —, e ninguém deve responder a esta crise com ódio
racial contra os chineses. De fato, o povo chinês foi a primeira vítima desse
vírus e vem sendo há muito tempo a principal vítima de seu regime repressivo”.
Mentiras disseminadas, verdades escondidas. O cardeal
avança: “Quando o vírus surgiu, as autoridades da China suprimiram a
notícia. Em vez de proteger o público e apoiar os médicos, o PCCH silenciou os
denunciantes. Pior do que isso, médicos que tentaram acionar o alarme — como o
Dr. Li Wenliang no Hospital Central de Wuhan, que emitiu um aviso aos colegas
médicos em 30 de dezembro — receberam ordens da polícia para ‘parar de
fazer comentários falsos’. Li, um oftalmologista de 34 anos, foi informado de
que seria investigado por ‘espalhar boatos’ e foi forçado pela
polícia a assinar uma confissão. Mais tarde, ele morreu após contrair
coronavírus. Jornalistas jovens cidadãos que tentaram denunciar o vírus
desapareceram. Li Zehua, Chen Qiushi e Fang Bin estão entre os que se acredita
terem sido presos simplesmente por dizerem a verdade. O jurista Xu Zhiyong
também foi detido após publicar uma carta aberta criticando a resposta do
regime chinês”.
Perseguição religiosa crescente. O cardeal Charles Bo
denuncia a perseguição crescente na China: “Mentiras e propaganda
colocaram em perigo milhões de vidas em todo o mundo. A conduta do PCCH é
sintomática de sua natureza cada vez mais repressiva. Nos últimos anos, vimos
uma intensa repressão à liberdade de expressão na China. Advogados, blogueiros,
dissidentes e ativistas da sociedade civil foram presos e desapareceram. Em
particular, o regime lançou uma campanha contra a religião, resultando na destruição
de milhares de igrejas e cruzes e no encarceramento de pelo menos um
milhão de muçulmanos uigures em campos de concentração. Um tribunal
independente em Londres, presidido por Sir Geoffrey Nice, QC, que processou
Slobodan Milosevic, acusa o PCCH de extração forçada de órgãos de
prisioneiros de consciência”.
O PCC, ameaça para o mundo. O cardeal sobe o tom: “Através
de seu tratamento desumano e irresponsável do coronavírus, o PCCH provou o que
muitos pensavam anteriormente: que é uma ameaça ao mundo”.
Responsabilização lógica. E conclui: “O regime chinês
liderado pelo todo poderoso Xi e pelo Partido Comunista Chinês (PCCH) — não
pelo seu povo — nos deve um pedido de desculpas e uma compensação pela
destruição que causou. No mínimo, deve amortizar as dívidas de outros países
para cobrir os custos do Covid-19. Pelo bem de nossa humanidade comum, não
devemos ter medo de responsabilizar esse regime”.
Exemplo para ser imitado. O purpurado desafiou
perseguidores, evidenciou clareza, firmeza e coragem. É o que infelizmente
falta a sem-número de dirigentes ocidentais, comodamente instalados a milhares
de quilômetros de Pequim. Que sigam o exemplo do Purpurado birmanês, voz
desassombrada ecoando de um país fraco e limítrofe com a China. Seu brado soa
como o de guerreiro solitário resistindo investida de chusmas soldadescas. Que
Deus o proteja.
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