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quarta-feira, 15 de abril de 2020

“PROGRAMAÇÃO PREDITIVA” E A PROPAGANDA EM TEMPOS DE CRISE – Daniel Lopez


O anseio por explicações angustia a população, presa às incertezas do futuro. Uma coisa, porém, é certa: há muita manipulação em jogo, seja econômica, política ou ideológica. Em círculos mais restritos, esse processo de falsificação da realidade é chamado de “propaganda”

Daniel Lopez, teólogo e doutor em linguística: “A pandemia trouxe uma oportunidade de reflexão sobre os jogos de propaganda midiática”

Em tempos de pandemia, sentimos prazer ao observarmos a virtude humana sobressair no trabalho incansável dos profissionais dedicados a manter minimamente a ordem social em meio ao caos. Por outro lado, vícios também são revelados. Fraudes online crescem vertiginosamente, homicídios aumentam em determinados locais, ainda que, em certos casos, o indício de furtos tenha decaído, provavelmente em virtude da menor circulação de pessoas.

Multidões buscam, na internet, respostas para perguntas que nem os maiores especialistas ainda encontraram. O anseio por explicações angustia boa parte da população, presa na incerteza do que virá no futuro. Não sabemos ao certo como acabará essa história. Uma coisa, porém, é certa: há muita manipulação em jogo, seja econômica, política e ideológica. Em círculos mais restritos, esse processo de falsificação da realidade é chamado de “propaganda”. É nesse mundo da perversão dos fatos para fins particulares que se situa, por exemplo, a Programação Preditiva, conceito que aqui utilizo como ensejo para uma reflexão sobre a estranha realidade dos dias atuais.
Programação Preditiva é uma teoria – um tanto conspiratória - segundo a qual governos ou uma elite poderosa estariam usando filmes, programas televisivos e livros de ficção como ferramentas de controle das massas. O objetivo seria adestrar a população para aceitar como válidos eventos projetados para o futuro. Proposta pela primeira vez pelo pesquisador Alan Watt, a estratégia tornaria as pessoas mais propensas a aceitar uma nova realidade imposta. 
Nesse contexto, a indústria cultural funcionaria como veículo para implementar essa tática de propaganda. Isso porque, ao assistir algo que uma pessoa normalmente percebe como entretenimento, a resistência crítica é reduzida e as mensagens são recebidas com maior facilidade.
Há quem aponte uma relação entre a Programação Preditiva e a Teoria da Aprendizagem Social. A Aprendizagem Social é a capacidade de reproduzir um comportamento observado, funcionando, portanto, com base na imitação. No experimento mais popular relacionado a essa teoria, as crianças batem ou ignoram um boneco de palhaço, dependendo do comportamento que viram ser exibido por um adulto.
Muitos reputam como exagerada essa concepção da maneira como os eventos são premeditados. Um nome, porém, é capaz de trazer um fio de realidade a essa teoria. Estou me referindo a Chase Brandon. Ele trabalhou durante trinta e cinco anos como oficial de operações clandestinas da CIA. Aposentou-se em 2006, mas continua prestando consultoria para diversas instâncias da comunidade de inteligência, do Departamento de Defesa e para várias organizações estaduais e federais americanas. 
Em sua missão final, Brandon era um oficial sênior da diretoria da Agência Central de Inteligência, atuando como porta-voz da organização e - o mais importante para nós aqui - como contato oficial da CIA com a indústria do entretenimento. Ele prestou consultoria técnica a muitos filmes, séries e documentários, como Missão Impossível III, Identidade Bourne e 24 Horas, além dos canais Discovery, Learning e Military. Chase Brandon era exatamente a conexão entre os projetos do serviço de inteligência e os produtores de Hollywood. A mais poderosa indústria cultural do mundo tinha nele a ligação com a maior agência de propaganda americana.
Supondo que a Programação Preditiva não seja tão delirante, e sabendo que há um link direto dos serviços de inteligência com a indústria do entretenimento, proponho um exercício prático. Nele, analisaremos um episódio dos Simpsons, que pode funcionar como um importante exercício para entendermos o que está acontecendo no mundo hoje. Não quero dizer que o episódio previu o futuro, mas creio que serve como uma perfeita metáfora para extrairmos algumas reflexões sobre a estranha realidade que hoje nos cerca. 

O episódio em questão se chama “The Fool Mounty, e foi ao ar na vigésima segunda temporada dos Simpsons, no dia 21 de novembro de 2010. No enredo, preocupado com a queda de receita, um grupo de executivos da televisão marca um encontro secreto para descobrir como fazer as pessoas assistirem mais TV. A ideia seria criar uma crise de saúde pública, para que os telespectadores fossem forçados a voltar a assistir o noticiário em busca de informações importantes sobre a epidemia.

Eles decidiram que uma epidemia causada por uma "gripe do gato doméstico” traria o resultado esperado, uma vez que causaria medo a um grande número de pessoas. O agente da gripe foi testado pela primeira vez num representante da emissora NBC, e provou ser eficaz, quando a “cobaia” sofreu uma morte horrível e dolorosa. A notícia da gripe doméstica foi anunciada na TV. As pessoas ficaram com medo de seus gatos, e algumas até tomaram medidas extremas, como queimar todos os itens que seus animais domésticos haviam tocado.

Mais tarde, uma vacina foi anunciada e as pessoas enfrentavam longas filas para obtê-la. Porém, como meio para manter o pânico (e impedir que a audiência caísse), a vacina foi racionada para uma criança por família. No final da história, não se sabe como a epidemia foi resolvida ou se o público descobriu o que a causou.

O mais curioso, porém, está nos diálogos. Quando olhamos as falas dos personagens no episódio em questão, alguns detalhes curiosos saltam aos olhos. No topo da Estátua da Liberdade, acontece a reunião secreta dos donos de todas as grandes empresas de mídia dos Estados Unidos. O líder da reunião diz: “Eu telefonei para vocês para reunir este grupo secreto dos impérios da mídia americana. Estamos aqui para apresentar a próxima crise falsa para colocar os americanos de volta onde eles pertencem - em salas escuras, colados às suas televisões, aterrorizados demais para pular os comerciais”. O chefe continua dizendo: "Eu acho que devemos usar a velha estratégia de criar uma crise de saúde”.

Neste momento, uma das mulheres participantes diz: "Uma nova doença! Ninguém está imune! É como o Verão do Tubarão, exceto que, em vez de um tubarão, é uma epidemia. E, em vez do verão, é o tempo todo!”. Permitam-me abrir um parêntesis aqui para explicar um detalhe.

O “Verão do Tubarão" refere-se à cobertura de ataques de tubarão pela mídia americana no verão de 2001. A abordagem sensacionalista começou após um incidente no fim de semana de quatro de julho, que vitimou Jessie Arbogast, um menino de 8 anos, e continuou quase inabalável - apesar de não haver evidências de um aumento real dos ataques - até quando aconteceu da derrubada das Torres Gêmeas no dia onze de setembro, que desviou a atenção da mídia. Desde então, o “Verão do Tubarão" é lembrado como um exemplo de sensacionalismo televisivo, que perpetua uma história sem fundamento como parte de uma estratégia para aumentar a audiência.

Voltando aos diálogos do episódio dos Simpsons, temos, agora, o detalhe mais importante. Um dos homens diz: “Olha eu odeio ser o cara que que estraga a festa, mas nós temos padrões. Isso não pode ser uma doença inventada. A única coisa moral a fazer é lançar um vírus mortal no público em geral". O líder da reunião responde o seguinte: "Temos algo em que estamos trabalhando, mas ainda não foi testado”.

Ele então injeta uma seringa no representante da NBC, que cai, aparentemente morto. Todos na sala dizem: "Uau. Uau! Oh sim! Então, nós temos nossa doença mortal. Agora só temos que culpar algo que está em todas as casas, algo que as pessoas já têm um pouco de medo”. Logo em seguida, corta para uma notícia urgente na televisão, em que o apresentador diz: "A gripe do gato doméstico está chegando, pessoal! O Centro de Desinformação de Doenças prevê com algum grau de probabilidade que a gripe do gato doméstico irá espalhar-se de forma rápida”. E o programa segue com o desenrolar da história.

Comparando com o que estamos vivendo hoje, será que se trata de um exemplo da Programação Preditiva em ação?

Não. Mas tais coincidências nos oferecem uma oportunidade de reflexão sobre os jogos de propaganda midiática que estamos vendo diante de nossos olhos. Enquanto americanos culpam a China, e chineses afirmam que foi o Pentágono que levou o vírus a Wuhan durante os Jogos Mundial Militares em outubro de 2019, a mídia segue aumentando sua audiência. Em vez do gato doméstico, temos o morcego, o pangolim e até um tigre do zoológico de Nova York. O problema é real, vidas estão sendo perdidas e ainda não sabemos como isso vai terminar. Mas uma coisa é certa: a guerra de propaganda segue forte como nunca.

Daniel Lopez (@Daniel_L_Lopez no Twitter)
Teólogo, doutor em linguística e pastor da Bola de Neve

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