O cineasta Carlos (Cacá) Diegues tomou posse nesta
sexta-feira, dia 12 de abril, na Cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, em
solenidade no Salão Nobre do Petit Trianon, na sucessão do Acadêmico e cineasta
Nelson Pereira dos Santos (falecido no dia 21 de abril do ano passado). O novo
Acadêmico foi eleito no dia 30 de agosto do ano passado.
Cacá Diegues foi recebido, em nome da ABL, pelo
Acadêmico, poeta e tradutor Geraldo Carneiro, que destacou: “Carlos José Fontes
Diegues – o nosso Cacá – já nasceu assinalado pela brasilidade. Tudo o que faz,
como artista e intelectual, traz a marca do Brasil. Em resposta aos tempos
negros da ditadura militar, Cacá Diegues fez de seu cinema um lugar de
celebração da vida e da cultura brasileira. Desde os anos 60, Carlos Diegues se
distingue também como jornalista, intelectual e pensador. Mas parece que seu
destino é mesmo o de fundir o cinema e a poesia. Por mais que a realidade seja
sua parceira, seu tempo é sempre o tempo da utopia”.
Em seu discurso de posse, o novo Acadêmico afirmou: “O
Cinema Novo brasileiro não foi, senão, a chegada tardia do modernismo ao nosso
cinema. Era preciso produzir um cinema para a nação, mas também inventar uma
nação no cinema. Nossas melhores cabeças do século XX sonharam com esse projeto
de Brasil. Agora, os tempos são outros. Temos sofrido um vendaval de paixões
polarizadas e histéricas. Há um desejo latente de valorizar a vulgaridade e o
homem dito “normal”, aquele que só reproduz os piores valores de nossa
ignorância, sem sonhos nem fantasias, num horizonte sombrio e sem surpresas. A
criação, hoje, corre o risco de se tornar prisioneira dessa consagração da
platitude, onde o único valor reconhecido e respeitado é o da morte elevada a
uma desimportância consagradora”.
Após o discurso, o Presidente da ABL convidou o Acadêmico
Merval Pereira para fazer a aposição do colar; o Acadêmico Arnaldo Niskier
(decano presente) para entregar a espada; e o Acadêmico Zuenir Ventura para
entregar o diploma. O Presidente, então, declarou empossado o novo Acadêmico.
Os ocupantes anteriores da cadeira 7, além de Nelson Pereira dos Santos, foram:
Valentim Magalhães (fundador) – que escolheu como patrono Castro Alves –,
Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de
Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.
O NOVO ACADÊMICO
Cacá nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 19 de maio de
1940, filho do antropólogo Manuel Diegues Jr. e de Zaira Fontes Diegues.
Cinéfilo desde a adolescência, também era poeta e trabalhava como jornalista.
Foi eleito para a Cadeira 7 da ABL, no dia 30 de agosto deste ano, na sucessão
do Acadêmico e cineasta Nelson Pereira dos Santos.
Em 1958, aos 18 nos de idade, teve seus poemas publicados
no Jornal do Brasil pelo ensaísta e crítico Mario Faustino, que o
apresentou como uma revelação na poesia brasileira. Por essa mesma época,
participou ativamente do movimento cineclubista no Rio de Janeiro, quando se
integrou à nova geração de cineastas que buscava registrar a verdadeira imagem
do Brasil, num movimento que seria conhecido como Cinema Novo, sob a liderança
de Nelson Pereira dos Santos.
Depois de realizar alguns curta metragens, Cacá estreou
profissionalmente em 1962, dirigindo um dos episódios do filme “Cinco vezes
Favela”, produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE – um filme que
se tornaria uma das obras inaugurais do Cinema Novo.
Ao longo de sua carreira de cineasta, realizou mais de 20
filmes de longa-metragem, entre os quais “Ganga Zumba” (1964), “Os herdeiros”
(1969), “Joanna Francesa” (1973), “Xica da Silva” (1976), “Chuvas de verão”
(1978), “Bye Bye Brasil” (1980), “Quilombo” (1984), “Um trem para as estrelas”
(1987), “Tieta do Agreste” (1995), “Orfeu” (1999), “Deus é brasileiro” (2003),
“O maior amor do mundo” (2005) e agora “O grande circo místico” (2018),
inspirado na obra do poeta Jorge de Lima. Todos esses filmes foram lançados
comercialmente em diferentes países do mundo, nas salas de cinema e na
televisão, além de sua presença e de prêmios nos festivais internacionais mais
importantes, como Cannes, Veneza, Berlim, San Sebastian, Toronto, Nova York,
Mar del Plata e outros.
O novo Acadêmico publicou alguns livros, nem sempre sobre
cinema, tendo começado com “Ideias e Imagens”, de 1988. Seus livros mais
recentes são "Vida de Cinema”, mais de 600 páginas sobre o Cinema Novo, e
“Todo Domingo”, uma coletânea de seus textos publicados semanalmente no
jornal Globo. Recebeu homenagens de diversas naturezas, no Brasil e no
mundo, entre as quais o titulo de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres,
do governo francês; o Prix de la Célebration du Centenaire du Cinématographe,
do Instituto Lumière de Lyon; o Golden Reel Award, do Grupo HBO; o Lifetime
Achievement Award, concedido pela cidade de Chicago; o Prêmio Roberto
Rosselini, pelo conjunto de sua obra, dado pela Associação Nacional dos
Críticos de Cinema da Itália; eleito Personalidade do Cinema Latino-Americano,
pela Associação Internacional de Críticos (Fipresci); Ordem do Mérito Cultural
de Portugal; Comendador da Ordem de Rio Branco, do governo brasileiro;
Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Brasil; e outros. Casado com a
produtora de cinema Renata Magalhães, Cacá tem um filho e três filhas.
12/04/2019
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