O filósofo da baianidade, o grande governador Otávio
Mangabeira, gostava de dizer que “a Bahia está tão atrasada que, quando o mundo
se acabar, os baianos só vão saber cinco anos depois”.
Mangabeira estava
correto, só errou no cálculo. A Bahia está muito mais que cinco anos atrasada.
A explicação? A expressiva votação com mais de 75% no atual governador e de
mais de 60% no candidato derrotado à Presidência da República, ambos do Partido
dos Trabalhadores, dá conta de que os influxos da ruptura ainda não nos
atingiram. Expliquemo-nos:
No plano nacional, a Bahia, juntamente com o Piauí e
Maranhão, foram os Estados que registraram maior percentual de votos em Haddad,
todos com percentual acima de 60%.
Bastou esse fato para que esquerdistas, em geral, e petistas
entoassem o mantra da resistência. A retórica não poderia ser mais tola – são
simplesmente três dos Estados mais pobres da Federação, ocupando, os três, as
seis últimas posições do índice de desenvolvimento humano – IDH.
Ademais, Maranhão e Piauí são também as unidades onde a
relação entre pessoas que dependem do bolsa-família em comparação à população
total é maior, respectivamente 48 e 39% , enquanto a Bahia, por seu turno, é o
Estado com o maior número de beneficiários e maior aporte de recursos em termos
absolutos.
Retomando o foco no Estado da Bahia, um erro de avaliação
muito frequente no mundo das estatísticas é tomar o efeito pela causa. Enquanto
a ampliação de programas de transferência de renda deveria ser interpretada
como sintoma de atraso e subdesenvolvimento, curiosamente, em terrae brasilis,
é compreendido como o contrário. Logo, a maior dependência de uma população a
benefícios governamentais, ao reverso do que propõe a esquerda, apenas expõe a
incompetência dos gestores em modificar o panorama socioeconômico.
No caso da Bahia, em especial, a contradição ganha contornos
de esquizofrenia na medida em que diversos outros dados logram demonstrar a
queda vertiginosa do Estado em índices oficiais comparativos. Em relação à
Segurança Pública, temos nada menos que cinco das dez cidades mais violentas do
País; na Educação, outro importante parâmetro de IDH, estamos na rabeira, tendo
alcançado o inacreditável penúltimo lugar na última avaliação do MEC; no
Turismo, histórico setor produtivo e arrecadador, nosso desempenho vem
minguando ano a ano a olhos vistos, com o fechamento de um sem-número de hotéis
tradicionais, diminuição de voos, culminando com a ruína do único centro de
convenções do Estado no ano de 2016. A situação é tão vexatória, que se
registrou em 2018 a Bahia como o Estado de pior desempenho no setor no Brasil;
e, por fim, a saúde está na UTI. Dos 28 estados, segundo a análise de alguns
dados, a Bahia ocupa a 22ª posição, sendo sucedida por nada menos que Piauí
(24º) e Maranhão (28º). Há quem veja mera coincidência, mas não é.
Comecei com ele e terminarei rememorando o saudoso Otávio
Mangabeira em mais uma passagem: “pense num absurdo: na Bahia tem precedentes”!
Pessoas letradas e bem formadas fazem desse cenário tenebroso a construção de
um arquétipo completamente irreal e delirante, tratando a Bahia como um modelo
de resistência frente ao novo Brasil que desponta. Não há resistência, mas
teimosia e histeria, reflexo de personalidades mimadas, que apenas aceitam as
regras do jogo quando estão vencendo, além de manipuladoras, por proclamarem
uma autoridade moral pela visão de mundo que defendem.
Infelizmente, 12 anos de petismo na Bahia conduziram as
pessoas à completa perda do referencial. Doze anos formaram uma geração inteira
de jovens percebendo o caos social como algo natural e trivial. E, diante de
tantas incertezas, o bolsa-família é a única certeza de muitos de que algo pior
não irá acontecer. A quem interessa a mudança quando a “resistência” escolhe um
lado? A Bahia não é resistência; a Bahia é símbolo do atraso."
Texto de Bernardo Guimarães Ribeiro
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