23 de outubro de 2019
Péricles Capanema
Vou tratar tema relevante, que já não transita nas
manchetes. Justifico-me, o assunto tem importância perene, vale mais que
notícias palpitantes, tantas vezes irrelevantes e efêmeras. Mais ainda, no
Brasil tem atualidade candente, por baixo desde uns 40 anos, infelizmente para
vergonha, desgraça e tristeza dos católicos.
Com efeito, CNBB, CPT, CIMI e entidades afins têm sido
pertinazes companheiros de viagem das mais radicais correntes revolucionárias
que sem trégua trabalham para arruinar o Brasil. As entidades acima referidas,
nascidas no seio da Igreja Católica, de há muito bamboleiam pateticamente atrás
das bandeiras de luta do PT, PC do B, MST. Lá na ponta, se tiverem êxito, vão
conseguir transformar o país numa Cuba, numa Venezuela, numa Coréia do Norte,
paraísos, como todos sabem, dos pobres (e dos quais, por razões desconhecidas,
lutam por todos os meios para escapar).
Tem muito de misterioso essa obstinação de amplos, por vezes
decisivos, setores eclesiásticos por causas gritantemente ateias e flagelo
contínuo para os pobres. Presenciamos décadas de terrificante opção
preferencial pela miséria (moral e material). Não espanta, muitos anos atrás,
Paulo VI denunciou que a Igreja padecia “misterioso processo de autodemolição”
(1968) e que “por alguma fresta, a fumaça de Satanás” (1972) havia penetrado
n’Ela.
Vou tratar de tema relevante, disse acima, está no sermão de
12 de outubro último, proferido por Dom Orlando Brandes, arcebispo de
Aparecida. As palavras do Arcebispo, permitam-me o desabafo, despejadas sobre
os ouvintes em cambulhada, são um charivari desconexo. Em nada evocam o Padre
Antônio Vieira, “o imperador de nossa língua”, na bonita afirmação de Fernando
Pessoa, nem ecoam os ditos do inteligente e culto Dom Geraldo Penido, cuja mesa
frequentei, antecessor seu na sede episcopal.
Recordam contudo, é quase forçoso o paralelo, a confusão
mental da ex-presidente Dilma Rousseff quando se metia em improvisos. Aqui vai
uma proposta dela, exposta em Nova York, para auditório que a ouvia com horror
divertido. “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata.
Em termos do que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser
gratuita. I da genti podê istocá. Cê, o vento podia sê isso também, mas ocê num
conseguiu ainda tecnologia pra istocá vento. Então se a contribuição dos outros
países, vamos supô que seja, desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na
eólica istocá, ter uma forma docê istocá, porque o vento ele é diferente em
horas do dia, então vamos supô que vente mais à noite, cumé queu faria pra
istocá isso. Hoje nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de
lá pra lá, pra podê capturá isso, mais si tivé uma tecnologia desenvolvida
nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”
Transcrevo alguns extratos do sermão do arcebispo de
Aparecida para não pensarem que exagero (a íntegra está na rede): “Primeira
leitura: órfã, adotada, pobre e principalmente, vivendo fora do seu país,
exiliada, e se tornou rainha, esperança para os pobres. […] Pequenina, eu sou a
pequena serva do Senhor, se tornou então rainha do Brasil. […] . Mãe Aparecida,
precisamos sim da vida ecológica, da vida natural, da casa comum, bendito seja
o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles
rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações. […] A mãe quer
vida intrauterina, porque ela é a Imaculada Concepção.” Chega, né?
Coloco agora o texto que desejo em particular reproduzir e
comentar rapidamente: “A segunda leitura mostrou o dragão. É claro que nas
escrituras o dragão é o demônio, é o dragão, é o diabo, é o mal que se organiza
no mundo. […] Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é
injusta, estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo.
Parece que não queremos vida, o Concílio Vaticano segundo, o evangelho, porque
ninguém de nós duvida que está é a grande razão do sínodo, do concílio, deste
santuário, a não ser a vida, como já falei.” Como se vê, o orador empilha
numa montoeira confusa várias realidades distintas, mas o objetivo fica claro:
odeia o tradicionalismo, odeia a direita.
Contrasto o texto perturbador do confuso arcebispo de
Aparecida com a clareza apaziguadora de um bispo como ele — São Pio X
(1835-1914) — que ascendeu ao Trono de São Pedro e de lá iluminou o mundo com
seus ensinamentos e santidade: “De todos os tempos, a Igreja e o Estado,
em feliz acordo, suscitaram para isto organizações fecundas; que a Igreja, que
jamais traiu a felicidade do povo em alianças comprometedoras, não precisa
livrar-se do passado, bastando-lhe retomar, com o auxílio de verdadeiros
operários da restauração social, os organismos quebrados pela Revolução,
adaptando-os, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo ambiente
criado pela evolução material da sociedade contemporânea; porque os
verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas
tradicionalistas”. Constam da “Notre Charge Apostolique”, orientação atemporal
para todos os fiéis, em especial para os católicos franceses.
Os revolucionários, adverte o Papa santo, não são amigos do
povo, oportuna lembrança para a CNBB. O Pontífice não queria ver os bispos
traindo a “felicidade do povo em alianças comprometedoras”. A admoestação
seguinte contrasta com o que proclamou Dom Orlando Brandes: “os
verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”.
Contudo, para decepção nossa, parece que Dom Orlando deu as costas para São Pio
X.
Termino. Tema relevante? Da maior importância. Tivéssemos
entre nós vivo o ensinamento do santo Pontífice e, para felicidade do povo,
seria inteiramente outra a história do Brasil.
* * *
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