21 de agosto de 2019
Dom Tomás Balduíno com o anel de tucum
Depois que, na biografia sobre seu compatriota cardeal
Godfried Daneels, os jornalistas belgas Jürgen Mettepenningen e Karim Schelkens
revelaram a existência de uma “máfia de São Gallen”, que teria
contribuído de modo determinante na eleição do Papa Bergoglio, o católico médio
tomou consciência da força dos grupos de pressão dentro da Igreja.
Mas historiadores e especialistas conhecem há muito tempo o
peso que os lobbies tiveram sobre a vida eclesial. Imediatamente após
o encerramento do Concílio Vaticano II, por exemplo, soube-se do papel
desempenhado pela rede midiática IDO-C (Centro Internacional de Informação e
Documentação sobre a Igreja Conciliar) para criar o “conselho de jornalistas”,
o “conselho dos meios de comunicação”, que era praticamente um concílio à
parte, como disse Bento XVI em seu último discurso na véspera do dia em que
daria sua renúncia.
Leonardo Boff com o anel de tucum
Não muito tempo atrás, tornou-se conhecido o papel
desempenhado por um grupo de padres conciliares, reunidos sob a denominação de
“Igreja dos Pobres”, que firmou um secreto “Pacto das Catacumbas”, que parece
estar atingindo sua plena realização em âmbito universal com o pontificado do
Papa Bergoglio.
O antigo núncio em Washington, EUA, Dom Carlo Maria Viganò,
causou comoção denunciando a existência de uma rede homossexual, cujos membros
se ajudam mutuamente e que garantem o progresso na carreira eclesiástica (e a
cobertura em caso de envolvimento em escândalos).
Para serem eficazes, esses grupos de pressão com interesses
pessoais ou ideológicos devem agir de maneira coordenada, mas sempre nas
sombras, imitando o trabalho da Maçonaria, com seus misteriosos sinais de
reconhecimento mútuo entre irmãos que não pertencem à mesma loja.
É famosa a passagem em que Marcel Proust traça um paralelo
entre a ação dos “irmãos” e a dos homossexuais de seu tempo, da qual ele falou
por conhecimento direto: “[Eles] formam uma maçonaria muito mais extensa e
eficaz, e menos suspeita do que a das lojas, uma vez que responde a uma
identidade de gostos, necessidades, hábitos, riscos, aprendizado, conhecimento,
tráfego, glossário, e em que os membros que desejam não ser reconhecidos
imediatamente o fazem através de sinais naturais ou convencionais”.
Seguramente, no futuro, conheceremos o impacto na próxima
Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica do grupo de
bispos e missionários engajados na Teologia Indígena, versão mais atualizada da
Teologia da Libertação, que já adotou o chamado “anel de tucum” como
sinal convencional de reconhecimento.
Tucumã é o nome de uma árvore amazônica de cuja madeira se
origina um anel preto, supostamente usado pelos escravos na época do Império,
na falta de recursos para portar o anel de ouro dos senhores. Teria
servido como um símbolo de matrimônio, amizade ou resistência. “Era um
símbolo clandestino cujo significado só os escravos conheciam”, afirma o blogue
da Pastoral da Juventude da Diocese de Piracicaba.
Nos anos 70, dois órgãos da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT) adotaram o anel de tucum como símbolo de compromisso na
luta de classes e nas chamadas “lutas sociais”.
Dom Casaldáliga com o anel de tucum
Parece ter sido Dom Pedro Casaldáliga – religioso
claretiano catalão nomeado bispo de São Félix do Araguaia pelo Papa Paulo VI e
promotor do CIMI e do CPT – a popularizar o símbolo. Assim relata outro
representante da Teologia da Libertação, Dom Tomás Balduino, bispo emérito
de Goiás Velho e por muitos anos presidente do CIMI:
“Pedro foi consagrado bispo em 1971, na cidade de São Félix,
cercado pelos pobres daquela região. Ele recebeu símbolos litúrgicos
adaptados às culturas dos povos indígenas e camponeses. A mitra era um
chapéu de palha, o cajado um remo de tapirapé e o anel de tucum, que em seus
dedos e nos de muitos agentes pastorais tornou-se um sinal do compromisso da
caminhada rumo à libertação”.
Dom Pedro Casaldáliga
Com inegáveis dotes poéticos, o prelado resumiu assim o
significado desta “caminhada” no seguinte poema: “Com um calo por anel, /
monsenhor corta o arroz / Monsenhor “foice e martelo”? / Eles vão me
chamar de subversivo. / E eu direi a eles: Eu sou / Pelo meu povo em luta,
eu vivo. / Com o meu pessoal em movimento, eu vou. Eu tenho fé de
guerrilheiro / e amor à revolução”.
O anel de Tucum identificou tanto a personalidade e a agenda
revolucionária do bispo de São Félix do Araguaia, e uma das teses escritas
sobre ele, defendida por Agnaldo Divino Gonzaga no Departamento de Teologia da
Universidade Católica de Goiás, intitula-se, precisamente, “Anel de tucum:
a missão evangelizadora de Pedro Casaldáliga”.
D. Casaldáliga com sua mitra (chapéu de palha), seu báculo
(um remo) e o seu anel (de tucum…)
Prova ainda mais eloquente da importância que a Teologia
Indígena confere ao anel de tucum é a história que o jornal Alvorada, órgão de
conscientização da Prelazia de São Félix, fez sobre a cerimônia em que
Dom Pedro Casaldáliga transmitiu o governo diocesano ao seu sucessor,
Dom Leonardo Steiner:
“Pedro, ao entregar o anel de tucum a Leonardo, lembrou que
as causas que defendemos definem quem somos e que as causas desta Igreja são
conhecidas de todos: opção pelos pobres, defesa dos povos indígenas,
compromisso com os trabalhadores e sem terra, formação de comunidades
inculturadas e participativas, experiência efetiva de solidariedade”.
Em uma página do Facebook das Comunidades de Base do Brasil,
lemos este verso de um poema em homenagem ao anel de tucum: “Dos povos
excluídos / sois sinal da nova aliança”.
Em 1994 foi lançado o filme “O anel do tucum”, uma novela em
que um grupo de fazendeiros infiltra um jornalista nas Comunidades Eclesiais de
Base em uma tentativa de provar seu caráter comunista e subversivo, mas acaba
se convertendo à causa da CEB. Na cena culminante, na qual ocorre a
conversão, o jornalista-pesquisador tem este diálogo com Dom Casaldáliga (que
interpreta a parte de si mesmo no filme):
“– Uma curiosidade, dom Pedro: O que o anel preto significa?
— É o anel de tucum, uma palmeira do Amazonas, com espinhos
um tanto duros. Sinal da aliança com a causa dos indígenas, com as causas
populares. Quem quer que use normalmente quer expressar que faz suas essas
causas e suas consequências. Você pode trazer o anel? Você pode fazer
isso?
— Eu posso fazer isso.
— Olha, é exigente, hein? Queima. Muitos, muitos
por essa causa, por esse compromisso, chegaram ao ponto da morte. Nós
mesmos aqui, na igreja de São Félix do Araguaia, temos os santuários dos
mártires do caminho”.
A mesma pergunta sobre o significado desse anel foi
formulada em 2012 pelo jornalista Edoardo Salles de Lima ao já citado
Dom Tomás Balduino, na véspera do seu nonagésimo aniversário. Ele
respondeu:
“Representa o casamento com a causa indígena. Este
objeto foi feito pelos índios Tapirapé e se pode facilmente ver como é bonito,
até brilha. Adotamos como um elo com a causa indígena, mas não só com ela,
mas com toda causa de mudança, de transformação, na busca pelo Brasil que
queremos”.
A função “identificadora” do anel foi destacada ao público,
mas sobretudo para aqueles que se comprometeram com a Teologia da Libertação,
do missionário comboniano italiano Padre Giampietro Baresi, já falecido, na
revista “Brasil de Fato”:
“– O que esse anel em sua mão significa? – É a opção
pelos pobres. […] É lealdade por essa opção. Por que eu uso
isso? Para tornar conhecido o que eles são. O anel de tucum é a
solidariedade para com os pobres. […] Quando vejo o anel em alguém,
reconheço uma visão similar, um compromisso similar”.
A nocividade do uso do anel de tucum pelos militantes da
Teologia da Libertação foi denunciada há muitos anos por Dom Amaury
Castanho, bispo emérito de Jundiaí, nas páginas do jornal “Testemunho da Fé”,
órgão oficial da arquidiocese do Rio de Janeiro.
Em seu artigo, o prelado começou enfatizando que “sempre
houve e sempre haverá tensões mais ou menos graves dentro da Igreja”. Depois
do Concílio Vaticano II, “uma terrível tempestade atingiu a barca de
Pedro”, e a “Teologia da Libertação, de estilo marxista, radicalizou
suas posições extremistas e contestatórias, ideológicas e partidárias”.
Missa pelo “Dia do Maçom” na Diocese de Pesqueira, pelo Pe.
Magela (com o anel de tucum…)
Em um artigo seguinte, Dom. Amaury Castanho voltou a
atacar com acusações de sectarismo:
Em seguida, ele atacou o sinal do reconhecimento mútuo de
seus promotores: “O curioso anel de tucum, feito do centro de uma palmeira do
Nordeste, é hoje um sinal de contestação na Igreja. Um dos sinais, talvez
o mais sério. Ele é encontrado nas mãos de um bom número de sacerdotes e
seminaristas, religiosos e leigos. Se é verdade que alguém, inadvertidamente,
usa-o – mesmo na Igreja sempre haverá ‘inocentes úteis’ – é igualmente verdade
que a maioria o toma como uma afirmação provocativa de uma clara opção por uma
eclesiologia que certamente não é a da ‘Lumem Gentium’, do Concílio Vaticano
II.
“O anel de tucum traz consigo, implícita e explicitamente,
opções heterodoxas em favor de uma Igreja considerada uma Igreja popular, em
oposição à Igreja hierárquica, a única estabelecida por Cristo. Exprime uma
discutível e já condenada opção ‘excludente e exclusiva’ pelos pobres,
marginalizando quem não o é, como se fosse um opressor. A partir dessa análise
marxista e parcial da realidade, aqueles que usam o anel de tucum não hesitam
em propor soluções revolucionárias, lutas de classes, guerrilhas, violência e
terrorismo, que nada têm de evangélico e cristão. […]
“É a divisão dentro da Igreja de Cristo, que a enfraquece,
que distancia as ovelhas dos pastores, que opõem os bispos ao Papa, os bispos
entre si, os sacerdotes e os leigos aos bispos […].
“Enquanto isso, os inimigos da Igreja se divertem, aplaudem,
cumprimentam-se. O que eles querem está acontecendo: uma Igreja que não é
uma comunidade de amor, que une os fiéis a Cristo entre si e seus pastores”.
“O artigo sobre o anel de tucum, que escrevi há alguns dias,
causou comoção. De fato, provocou uma controvérsia. Muitos gostaram e
acreditam que chegou a hora de alguém ir ao fundo do problema, revelando o
sentido mais exato e total do uso daquele anel. Outros se chatearam, porque
o usavam apenas como sinal de opção pelos pobres. Retiraram-lhe de seus
dedos! Eles queriam viver em plena comunhão com os pastores da Igreja, que
é, por vontade de Cristo, hierárquica. Eles me parabenizaram, culparam-me,
interrogaram-me várias vezes no anel de tucum.
“Falando com um certo presbítero que usava o anel de tucum,
dei-lhe mais informações para esclarecer suas ideias. Entre outras coisas,
eu disse a ele que não é apenas a minha interpretação. Anos atrás, li um
livro de um bispo zeloso e inteligente do Maranhão. Em um capítulo
inteiro, ele chegou às mesmas conclusões: o anel de tucum é um traço visível de
união entre aqueles que, além da “opção pelos pobres”, também defendem a Igreja
‘popular’”.
Pode-se então afirmar que, enquanto trato de união visível
de uma corrente revolucionária que desempenha o papel de quinta coluna na
Igreja, o anel de tucum tem um valor análogo aos sinais identificadores da
Maçonaria.
Cabe a nós observar quantos participantes do próximo Sínodo
vão usá-lo… Então saberemos se a assembleia foi amazônica ou maçônica!
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