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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

10 DE AGOSTO: DIA DE JORGE AMADO – barba



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(Bahia, 1985 – barba)

             Márcio Tavares d’Amaral, filósofo e poeta, ilustre professor universitário, grave catedrático, letrado familiar de Joyce e de Kafka, incorrigível líder estudantil, saudoso das passeatas e das molequeiras, com as mãos sobre a boca imita sons de saxofone, as sirenes dos carros de polícia e das ambulâncias, com acento alfacinha canta músicas de protesto de Sérgio Godinho. Está hospedado na casa do Rio Vermelho com Teresa, flor dos Costa, conversamos enquanto ele faz a barba.

            Conversa longa, Márcio não leva menos de meia hora a barbear-se: um dia demorei apenas vinte e cinco minutos, mas aconteceu somente naquela vez, me diz. Eu não gasto mais de cinco minutos, admiro-me de diferença tamanha, Márcio me explica:

            - Você conhece o verbo escanhoar? É o que eu uso. Você conjuga outro: raspar a barba, para ser sincero uma xucrice.

            Conto-lhe que Graciliano Ramos fazia a barba com navalha antiga, nunca usou gilete. Os olhos de Márcio se iluminam:

            - Isso é o supra-sumo, não chego a tanto.

            Barba escanhoada, Márcio aproxima-se do muro, desata a sirena da polícia na rua Alagoinhas: vizinhos saem portas a fora a ver o que ocorre. O riso de Teresa tranquiliza os passarinhos.


(NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)
Jorge Amado

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            “Sou de um tempo em que ao ouvir bater na porta se dizia: Se é de paz pode entrar. Quem bate à porta é de paz e de amizade, o ator Zé Trindade, artista de cinema e de televisão, celebridade desde os tempos das chanchadas, agora percorre o interior do país, faz a alegria das plateias das cidadezinhas.

            Com as empregadas da casa aprendo a humildade, a não me vangloriar, a importância é sempre relativa, dou-me conta. Ouço a cozinheira Agripina dizer a Eunice*, que vem lhe informar quem chamou à porta e ela fez entrar:

            - Zé Trindade? Não me diga! Seu Jorge é mesmo importante, é amigo de Zé Trindade.

             Tem razão. Zé Trindade na TV, na tela do cinema, no rádio, em pessoa é ídolo popular queiram ou não os elitistas da cultura, uns bestalhões, sua amizade me dá status, importância. Agripina, Eunice, Detinha vêm espiá-lo do corredor, a meu convite entram na sala, se aproximam deslumbradas, estendem as mãos a Zé Trindade, ele as abraça, repete um bordão de rádio, careta cômica de televisão, o riso se espraia.

 *Eunice Ferreira, arrumadeira na
 casa de JA
           
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JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.

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