Conheceu Adolpho Bloch numa feira de indústria gráfica, na
Alemanha, quando recebeu o convite para trabalhar na Manchete, o que aconteceu
por mais de 30 anos. Anos felizes, podemos garantir sem qualquer dúvida.
Salomão dirigiu a sucursal de São Paulo, com muita competência. Nos seus
discursos, Adolpho costumava homenagear o consagrado jornalista com o
título de “rei Salomão”. Todos riam dessa brincadeira.
Sempre tive por ele grande amizade e até uma dosagem elevada
de confidencialidade. Falávamos praticamente todos os dias, para além dos
temas meramente profissionais. Por isso é fácil imaginar o quanto senti o seu
falecimento, no último dia 6, no Hospital Albert Einstein. Apagou-se uma
inteligência fulgurante, que nos últimos anos trabalhava na Rede Band de Rádio.
Era também um amante de música, tocando piano como se fosse um profissional. A
sua falta será sentida particularmente pela Ana, pelo filho Marcelo, pelos
irmãos Nathan e Belinha, e por todos os seus incontáveis amigos.
Ainda há pouco, o governador João Dória foi homenageado com
um bonito jantar, no Rio de Janeiro. Ao me ver, a primeira coisa que
disse foi: “Como vai o nosso Salomão?” Tinha por ele também uma grande estima.
Lembro de um evento que promovi na Academia Brasileira de
Letras, quando no exercício da presidência da Casa de Machado de Assis.
Entre os convidados para falar estava o Salomão. O tema era “A contribuição dos
judeus ao desenvolvimento brasileiro”. A palestra do meu amigo, formado em
Direito e Sociologia, foi como sempre brilhante, arrancando do público
demorados aplausos. Seu tema: “A aventura de Gaspar da Gama” foi
desenvolvido com a competência de sempre:
“A história dos judeus na Península Ibérica se confunde com
a história dos descobrimentos… Sabemos que entre 1492 e 1496 os judeus
peninsulares são perseguidos, expulsos ou forçados a se converter ao
cristianismo… Apesar de tudo eles resistiram e Gaspar da Gama ou Gaspar
das Índias foi uma figura de contornos épicos… Ele descendia de uma
família de judeus poloneses, originários da cidade de Posna, de onde fugiram da
conversão obrigatória e da Inquisição. Homem de ação e não de pensamentos,
Gaspar da Gama tornou-se um dos principais nomes da história das expansões
portuguesas, chegando a ser decisivo, por exemplo, na descoberta do
Brasil. Com ele se iniciou a história do Brasil português, o que foi
muito bem descrito nos estudos pioneiros de Elias Lipiner.”
Salomão Schvartzman, excepcional ser humano, foi um grande
jornalista e também um estudioso das questões judaicas, de preciosa
contribuição à nossa cultura. Desejo que ele, onde estiver, seja feliz,
como sempre terminava suas crônicas.
Tribuna do Agreste, 15/07/2019
..............
Arnaldo Niskier - Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da ABL,
eleito em 22 de março de 1984, na sucessão de Peregrino Júnior e recebido em 17
de setembro de 1984 pela acadêmica Rachel de Queiroz. Recebeu os acadêmicos
Murilo Melo Filho, Carlos Heitor Cony e Paulo Coelho. Presidiu a Academia
Brasileira de Letras em 1998 e 1999.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário