Outra lira
Meu instrumento a Verdade,
Será o Eterno meu canto.
Voarei à Divindade,
Unge meus lábios, Senhor!
A lira, que à flor dos anos
Consagrei, cantando objetos
Tão fúteis como indiscretos,
Hoje é só vestígio e danos,
Encontra só desenganos
Quem busca em trevas amor;
Mas eu pressinto o calor
De nova luz que me inspira;
Agora dá-me outra lira!
Unge meus lábios, Senhor!
Manda a luz que aponta a lei,
Dá-me o tom que o plectro afaga,
Os caracteres apaga
Que eu por delírio gravei.
Também quantos entoei
Hinos de amor ou vaidade:
Segundo a luz da verdade,
Que brilha de quando em quando,
Ao pó da terra escapando,
Voarei à Divindade.
Heróis, fortuna, grandeza
Que o tempo leva e consome,
Graças que morrem sem nome,
Atrativos da beleza,
Tudo é pó, tudo é fraqueza,
É tudo miséria e pranto,
Ou desdobre a noite o manto,
Ou desponte a luz do dia,
Desenvolvendo a harmonia,
Será o eterno meu canto.
Do que a terra e os céus me’inspiram,
Os pregoeiros são estes,
Todos os corpos celestes,
Que em curvas órbitas giram,
Que inúmeros sóis se viram;
No centro da imensidade,
Na extensão da Eternidade.
Se eu abrangesse a harmonia
A luz meu eco seria,
Meu instrumento a Verdade.
....
José Elói Ottoni
Poeta
José Elói Ottoni foi um poeta e político brasileiro. Poeta,
político e professor, foi o primeiro filho do fundidor da Real Casa de Fundição
do Serro, Manuel Vieira Ottoni, de descendência genoveza, e da paulista D. Ana
Felizarda Pais Leme.
Nascimento: 1
de dezembro de 1764
Falecimento: 3
de outubro de 1851
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