As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada,
Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...
RAIMUNDO CORREIA
ANTOLOGIA NACIONAL,
de Fausto
Barreto e Carlos de Laet, 31ª ed.,
Livraria
Francisco Alves,
São Paulo, 1954.
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Era um
introvertido, uma alma inquieta e torturada pelo sentido transitório e doloroso
da vida; daí o travo de amargo pessimismo que sentimos nos seus poemas.
Mas, a par
desse traço característico da poesia do poeta juiz, avulta um inigualável
colorido descritivo, que mais se acentua diante da melancolia e dos aspectos
fugitivos da paisagem.
Raimundo
Correia, que escreveu alguns dos sonetos mais belos da língua portuguesa,
figura entre os maiores poetas parnasianos, ao lado de Olavo Bilac, com o qual
irmanou-se no culto da forma perfeita.
Sua obra
poética resume-se nos seguintes livros: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias
(1882), Versos e Versões (1887), Aleluias (1891) e Poesias (1898).
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Raimundo Correia foi o fundador da cadeira 5 da Academia
Brasileira de Letras (ABL) e foi sucedido por Osvaldo Cruz.
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