Para alguns estudiosos, mudança de regime foi produto de um
golpe que uniu militares, escravocratas e a Maçonaria
Por Fábio Costa | Portal Gazetaweb.com
15/11/2018
Nesta quinta-feira (15), o Brasil comemora o aniversário da
implantação do regime republicano, que encerrou 67 anos de período monárquico
no País. A República brasileira foi instalada pelas mãos dos militares em 1889,
tendo à frente o marechal alagoano Deodoro da Fonseca.
Passados 129 anos, a mudança de regime ainda suscita muitos
debates e vem passando por um processo de revisão histórica. Para o movimento
monarquista, a proclamação foi, ao contrário do que diz a história oficial, um
golpe de uma minoria escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos
militares, a segmentos da Igreja e da Maçonaria. A tese do golpe é apoiada, por
exemplo, pelo historiador José Murilo de Carvalho, que escreveu o livro "O
pecado original da República".
Como em outros períodos da história do Brasil, foi um
movimento ao qual a maior parte da população permaneceu alheia. Os civis
republicanos eram uma escassa minoria espalhada pelo País, mas souberam
explorar os constantes atritos que o Exército passou a ter com os governos
imperiais.
O jornalista e historiador Laurentino Gomes, autor do livro
"1889", afirma que, na época da proclamação, a campanha republicana
não tinha ressonância nas urnas. De fato, em 1884, cinco anos antes da data
histórica, apenas três republicanos conseguiram se eleger para a Câmara dos
Deputados e, eleição seguinte, somente um.
Laurentino diz que Deodoro foi usado pelos conspiradores e
deu um golpe na Monarquia mais por um ressentimento pessoal do que por
convicções republicanos. Afinal, o marechal alagoano era muito amigo do
imperador D. Pedro II.
Segundo o historiador, em nenhum momento do dia 15 de
novembro Deodoro proclamou a República, ao contrário do que diz a História
oficial. "Aparentemente, o objetivo inicial dele não era derrubar a
monarquia, mas apenas destituir o ministro da Guerra, o Visconde de Ouro Preto.
Ele só muda de opinião na madrugada do dia 16, ao saber que o imperador havia
convidado para chefiar o ministério o seu principal adversário, o senador
Gaspar da Silveira Martins, um liberal do Rio Grande do Sul. Os dois eram
adversários não só na vida política, mas também na vida pessoal", relata.
Mocidade militar
A República brasileira teve como catalisador um grupo de
oficiais de patentes inferiores do Exército que possuíam educação superior ou
"científica" obtida durante o curso da Escola Militar, então
localizada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Era a chamada "mocidade
militar", fortemente influenciada pelas ideias do francês Auguste Comte,
considerado o pai do positivismo. Comte apoiava os ideais da Revolução
Francesa, que incluíam o fim da Monarquia, a ampliação dos direitos individuais
e a separação entre Estado e religião.
Ainda na avaliação de Laurentino Gomes, a própria monarquia
plantou a semente de sua destruição. "O império caiu inerte. Não houve
quem defendesse a monarquia no Brasil, nem o próprio imperador, que achava que
aquilo não ia dar em nada", afirmou o historiador em entrevista ao jornal
O Globo.
Segundo eles, vários fatores se somaram para a queda da
monarquia. Após a Guerra do Paraguai, cresceu a insatisfação no Exército, que
se sentia desprestigiado. Os embates entre a Igreja Católica e a Maçonaria
também respingaram no império.
Possivelmente, o golpe fatal foi dado com a
abolição da escravatura, que gerou grande descontentamento dos grandes
fazendeiros, grande base de apoio do regime. A partir daí, foi só uma questão
de tempo para o fim do império, sem nenhuma resistência.
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