"Prezada colega,
Em resposta à sua perplexidade confirmo o meu apoio à
candidatura de Jair Bolsonaro, não é fake. Nas eleições de 2014, concorri pela Bahia
ao Senado, estando filiada simbolicamente à Rede que, sem oficialização,
abrigou-se no PSB de Eduardo Campos. O nosso sonho, à época, era cavar a
terceira via para em, 2018, termos condições de vencer as eleições: era sabido
que Dilma não tinha condições de governar o pais por mais quatro anos, terminou
acontecendo.
Infelizmente, Eduardo Campos, que despontou como um líder
crescente, ameaçando o PT, acabou morrendo tragicamente e Marina Silva,
massacrada publicamente pelo partido da situação não chegou ao segundo turno.
Diante do que vivenciei, dentro dos partidos políticos, dos
boicotes aos seus próprios filiados por venda da bandeira partidária a outros
partidos, decidi afastar-me da política em definitivo, voltando a me filiar à Rede
nas proximidades das eleições de agora, por insistência de Marina, mas sem
candidatura.
Com o resultado do primeiro turno, tive algumas surpresas. A
mais agradável, a maturidade do eleitor brasileiro que, do Oiapoque ao Chuí
varreu antigas lideranças, arquivou velhas raposas e deu espaço a novos e
jovens candidatos que concorreram sem dinheiro e sem espaço partidário, usando
simplesmente as redes sociais e a inteligência. Quero dizer com orgulho que até
o Nordeste recebeu esses novos ventos, com algumas poucas exceções, sendo a
Bahia um caso à parte, digno de um estudo sociológico em separado.
A segunda grande surpresa foi a manutenção do PT no segundo
turno, um partido que, depois de dezesseis anos no poder, deixou o Brasil em
frangalhos, foi publicamente desmascarado como abrigo da quadrilha que devastou
os cofres públicos, saqueou as estatais e aparelhou o serviço público, o que
valeu a prisão de toda a cúpula, inclusive do seu chefe maior, em julgamento de
lisura absoluta, acompanhado ao vivo e a cores por toda a nação. Para
completar, seguiu-se o afastamento da ex-Presidente da República, também
petista, por um Congresso majoritariamente filiado ao partido da situação,
seguindo-se a posse de um vice escolhido pelo PT e por ele apresentado como
conveniente, eleito democraticamente na dobradinha da chapa Dilma x Temer.
Esse episódio político foi considerado pelo partido como
golpe. Como golpe? Certamente um golpe democrático e constitucionalmente
previsto, o que ocorreu porque o impeachment fugiu ao controle das forças
dominadoras, que não contavam com o desenrolar dos fatos e a atuação parlamentar,
acuada com a mobilização de uma população enfurecida com a escancarada
corrupção.
Depois de desfilar aos nossos olhos os bilhões dos saques e
as consequências nas políticas públicas, volta o PT com um candidato que me
repugna, como magistrada de carreira, espectadora política e cidadã. Assisti-lo
debochando da nação, desrespeitando o Judiciário, empunhando na propaganda
eleitoral uma máscara de um presidiário que, submetido em três instâncias a
julgamentos, inclusive por magistrados que conheço de perto e sei da lisura e
competência, anuncia sorridente que no dia 1º de janeiro subirá a rampa do
Palácio do Planalto com ele, para governarem o Brasil.
Mas não é só. O partido dito dos trabalhadores, ao sentir
que não foi bem sucedido no deboche caricato de Lula-Haddad, Haddad-Lula,
rapidamente mudou de tática ou de marqueteiro, passou a abolir a cor vermelha e
a estrela da corrupção, aderindo às cores da bandeira brasileira e com o seu
candidato posando de bom moço junto a uma destrambelhada garota desajuizada,
que não sabe sequer articular as ideias, mesmo que sejam elas boas ou ruins,
não diz nada que tenha lógica.
Bolsonaro não seria a minha escolha primeira, mas foi o que restou de decência e pudor ao
povo brasileiro, diante do que ficou. Acusam-no de fascista porque é militar? E
o radicalismo do Partido dos Trabalhadores, o que é? E o apoio dado a
conhecidas ditaduras da América Latina e a outras mais longínquas, em
detrimento das nossas necessidades básicas de saúde, segurança e educação? Qual
o nome que se pode dar a esse fenômeno dito democrático?
Não posso mais me enganar, colega, já sei o que é o PT, convivo com ele há16 anos e sofro as consequências de um pais destroçado
financeira e eticamente, desacreditado e desmoralizado fora das nossa
fronteiras. Tenho hoje pudor em dizer que pertenço a um país que tem a
desfaçatez de permitir que as linhas mestras da política sejam dadas por dois
presidiários, ou melhor, dois condenados por corrupção e lavagem de dinheiro,
Lula e José Dirceu, usando mais uma vez a técnica dos factoides, Fernando
Haddad e Manoela
D´Ávila, dois bobalhões que se submetem ao ridículo com
naturalidade.
Esta é a primeira vez que estou revelando as razões de minha
postura política. É também um desabafo, o primeiro que faço desde que, na
quarta-feira, dia 11 de outubro, atendi ao convite para participar da campanha
de um candidato de um partido minúsculo, sem fundo partidário, sem dinheiro de
empresário e sem recursos dos cofres públicos, em favor de um candidato ficha
limpa que há mais de 30 anos é político e nunca se misturou com a podridão
parlamentar usada pelo PT como seu passaporte para os milionários desfalques. Não
consegui encontrar na vida do candidato nada que possa denegrir a sua imagem,
senão tolas fases soltas, até pueris ou em tom de bravata, quando se viu acuado
pelos adversários e pela mídia que sequer respeitam o seu estado de saúde.
Estou tranquila, estou em paz com a minha consciência e,
tenha a certeza: farei o que estiver ao meu alcance, para que o Brasil
experimente o novo, o mais adequado para esse momento em que estamos
pretendendo inaugurar um país com moralidade e dignidade cívica, ingredientes
sem os quais de nada valerá fortalecer a economia. Os valores da nação precisam
voltar aos seus lugares.
Obrigada, colega, pela oportunidade que me deu de falar com
o coração e dizer, com tranquilidade, que escolhi o que melhor me pareceu sem
estar influenciada por mídia alguma, senão pela minha experiência de vida.
Afinal, “o diabo é sabido não por ser diabo, mas porque é
velho”.
Em sáb, 13 de out de 2018 às 22:30,
Eliana Calmon"
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