Total de visualizações de página

terça-feira, 21 de agosto de 2018

DIÁRIO DE VIAGEM Francisco - Benício dos Santos (12)


BORDO DO Pedro II

31º DIA (Continuação)

Post anterior - clique no link abaixo: 


No mesmo “Hudson”, o navio que me trouxe de Valparaíso, embarco com destino ao México, via Canal do Panamá. Quito.
O navio demorou poucas horas no porto. Não saltei.
Caracas. Venezuela.
Desembarco.
Percorro a cidade de automóvel e visito os pontos principais.
Palácio Mira Flores, Museu Nacional...
Estamos no Panamá.
O navio é medido e revistado para poder penetrar no canal propriamente dito.
Maravilhosa obra de arte e de engenharia que assombrou o mundo e superou todas as realizações do engenho humano.
Via de comunicação segura entre o Pacífico e o Atlântico, sem os perigos e os riscos da travessia pelo estreito de Magalhães.
O homem aqui venceu a natureza e superou-a.
A língua que se fala e que se ouve é somente a inglesa.
Tudo americanizado.
O dólar é o imperador.
De comporta em comporta, ordens, contraordens, tudo mecanicamente, militarmente disciplinado...
Vamos sulcando as águas protegidas e tranquilas do canal.
Fortificações monstruosas dos Estados Unidos de uma e outra margem do canal.
No Pacífico a frota de guerra americana faz exercício de tiro.
Ondas de aviões passam ensurdecendo tudo com o ruído dos seus possantes motores.
E os tiros espaçados dos couraçados são ouvidos ritmadamente.
É o poderio e a potência da bandeira estrelada.
Cinquenta quilômetros de travessia e o espetáculo solene da entrada do “Hudson” no Oceano Atlântico.
Um apito, um tiro de canhão,  e a marcha livre do transatlântico no leito macio das águas atlânticas.
Rumo ao México, sem escala.
Na costa, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e, no meio do Atlântico, como um oásis de bem-aventurança e fartura – Cuba.
Amanhecemos tendo Vera Cruz em nossa frente.
O sol dardejava latejadas de luz sobre  os metais dos navios, tirando chispas e queimando a epiderme cor de camarão torrado dos marinheiros “ianques”, desnudos, a fazerem a lavagem do tombadilho, metidos em botas de borracha, dorso nu e, na cabeça um minúsculo gorro branco com a aparência  exótica.
Saltamos.
Viagem para o México de automóvel.
Estou instalado na capital da República do México – o término e o ponto final  da minha excursão – viagem-prêmio.

As visitas protocolares de praxe.
Hotel Juarez

Uma surpresa:

Uma carta de Nísia por intermédio da Embaixada do Brasil, avisando-me da próxima chegada da Embaixada que em viagem de retorno, breve estariam nesta capital.
A alegria foi indescritível.
Era o remate final, com chave de ouro.
A terra de Juarez e dos astecas, quíchuas, é verdadeiramente impressionante.
Ruínas e vestígios de um passado importante e de uma civilização maravilhosa observa-se a cada passo.
Templos e escombros de cidades que diziam da magnificência destruída.
Lembranças me vêm à mente, dos morticínios perpetrados por Cortez, cuja cobiça e rapinagem destruíram um povo e uma civilização pacífica e interessante.
Quanto sangue, quanta miséria, quanta destruição perpetradas em nome de uma religião que queria salvar as gentes das garras do paganismo!...
Oh! Espanha criminosa, Espanha inimiga do progresso, ah, Espanha fradesca e inquisitorial.
Tu manchaste a terra com o sangue das vítimas inocentes, imoladas ao altar dos teus inconfessáveis desejos.
Hás de pagar um dia perante a história, as tuas culpas e os teus crimes.
O sangue dos habitantes do México e do Peru clama contra ti e a justiça é tardia, mas um dia chegará.
Maximiliano pagou e era culto e bom.
Os descendentes do intrépido Juarez estão se multiplicando e com eles o grito de vingança e de revolta contra esta Europa cínica e criminosa, egoísta e idólatra.

Chegada da Embaixada acadêmica brasileira.

Faz hoje sessenta dias de viagem, viagem em que estou a fazer um “S” pelas Américas.
O cérebro cheio de emoções e de recordações.
E na tela do pensamento vejo deslizarem as cenas, os cenários, os motivos e as vistas panorâmicas policrômicas que me deixam extasiado com a sua contemplação.
Fecho os olhos e percorro toda a caminhada.
Rio, Santos, Porto Alegre, Montevidéu, Buenos Aires, os Andes, o Pacífico, Santiago, Valparaíso. Calau, Lima, Cuzco, Titicaca, Quito, Caracas, Panamá, o Atlântico, Vera Cruz, México...

Abro-os e digo assim a mim mesmo:
Nada igual ao meu Brasil. (continua na próxima postagem)


(AQUARELAS E RECORDAÇÕES  Capítulo XXII)  continuação...
Francisco Benício dos Santos

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário