BORDO DO Pedro II
31º DIA (Continuação)
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No mesmo “Hudson”, o navio que me trouxe de Valparaíso,
embarco com destino ao México, via Canal do Panamá. Quito.
O navio demorou poucas horas no porto. Não saltei.
Caracas. Venezuela.
Desembarco.
Percorro a cidade de automóvel e visito os pontos
principais.
Palácio Mira Flores, Museu Nacional...
Estamos no Panamá.
O navio é medido e revistado para poder penetrar no canal
propriamente dito.
Maravilhosa obra de arte e de engenharia que assombrou o
mundo e superou todas as realizações do engenho humano.
Via de comunicação segura entre o Pacífico e o Atlântico,
sem os perigos e os riscos da travessia pelo estreito de Magalhães.
O homem aqui venceu a natureza e superou-a.
A língua que se fala e que se ouve é somente a inglesa.
Tudo americanizado.
O dólar é o imperador.
De comporta em comporta, ordens, contraordens, tudo
mecanicamente, militarmente disciplinado...
Vamos sulcando as águas protegidas e tranquilas do canal.
Fortificações monstruosas dos Estados Unidos de uma e outra
margem do canal.
No Pacífico a frota de guerra americana faz exercício de
tiro.
Ondas de aviões passam ensurdecendo tudo com o ruído dos
seus possantes motores.
E os tiros espaçados dos couraçados são ouvidos
ritmadamente.
É o poderio e a potência da bandeira estrelada.
Cinquenta quilômetros de travessia e o espetáculo solene da
entrada do “Hudson” no Oceano Atlântico.
Um apito, um tiro de canhão,
e a marcha livre do transatlântico no leito macio das águas atlânticas.
Rumo ao México, sem escala.
Na costa, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e, no meio do
Atlântico, como um oásis de bem-aventurança e fartura – Cuba.
Amanhecemos tendo Vera Cruz em nossa frente.
O sol dardejava latejadas de luz sobre os metais dos navios, tirando chispas e queimando
a epiderme cor de camarão torrado dos marinheiros “ianques”, desnudos, a
fazerem a lavagem do tombadilho, metidos em botas de borracha, dorso nu e, na
cabeça um minúsculo gorro branco com a aparência exótica.
Saltamos.
Viagem para o México de automóvel.
Estou instalado na capital da República do México – o término
e o ponto final da minha excursão –
viagem-prêmio.
As visitas protocolares de praxe.
Hotel Juarez
Uma surpresa:
Uma carta de Nísia por intermédio da Embaixada do Brasil,
avisando-me da próxima chegada da Embaixada que em viagem de retorno, breve
estariam nesta capital.
A alegria foi indescritível.
Era o remate final, com chave de ouro.
A terra de Juarez e dos astecas, quíchuas, é verdadeiramente
impressionante.
Ruínas e vestígios de um passado importante e de uma
civilização maravilhosa observa-se a cada passo.
Templos e escombros de cidades que diziam da magnificência
destruída.
Lembranças me vêm à mente, dos morticínios perpetrados por
Cortez, cuja cobiça e rapinagem destruíram um povo e uma civilização pacífica e
interessante.
Quanto sangue, quanta miséria, quanta destruição perpetradas
em nome de uma religião que queria salvar as gentes das garras do paganismo!...
Oh! Espanha criminosa, Espanha inimiga do progresso, ah,
Espanha fradesca e inquisitorial.
Tu manchaste a terra com o sangue das vítimas inocentes, imoladas
ao altar dos teus inconfessáveis desejos.
Hás de pagar um dia perante a história, as tuas culpas e os
teus crimes.
O sangue dos habitantes do México e do Peru clama contra ti
e a justiça é tardia, mas um dia chegará.
Maximiliano pagou e era culto e bom.
Os descendentes do intrépido Juarez estão se multiplicando e
com eles o grito de vingança e de revolta contra esta Europa cínica e
criminosa, egoísta e idólatra.
Chegada da Embaixada acadêmica brasileira.
Faz hoje sessenta dias de viagem, viagem em que estou a
fazer um “S” pelas Américas.
O cérebro cheio de emoções e de recordações.
E na tela do pensamento vejo deslizarem as cenas, os
cenários, os motivos e as vistas panorâmicas policrômicas que me deixam
extasiado com a sua contemplação.
Fecho os olhos e percorro toda a caminhada.
Rio, Santos, Porto Alegre, Montevidéu, Buenos Aires, os
Andes, o Pacífico, Santiago, Valparaíso. Calau, Lima, Cuzco, Titicaca, Quito,
Caracas, Panamá, o Atlântico, Vera Cruz, México...
Abro-os e digo assim a mim mesmo:
Nada igual ao meu Brasil. (continua na próxima postagem)
(AQUARELAS E RECORDAÇÕES Capítulo XXII) – continuação...
Francisco Benício dos Santos
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