10 de agosto de 2018
Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal
Boni, o todo poderoso da Globo, braço direito de Roberto
Marinho nas três décadas que fizeram da emissora o gigante que se tornou,
contou para a revista Piauí um pouco da história daqueles tempos obscuros da
ditadura e do período entre a derrubada de Jango e o AI-5. Vale a pena ouvir essa
história envolvendo Paulo Francis que teve a participação de Roberto Marinho
e do próprio Boni. (Melhor que mensagens do além recebidas pela Miriam
Leitão)
“Se alguém pensa que o dr. Roberto foi subserviente aos
militares ou que tirou algum proveito pessoal com a ditadura, está
absolutamente enganado.
Em 1964, O Globo e todos os jornais mais importantes – o
Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e a Folha – apoiaram a chamada revolução
redentora. Nesse período, o dr. Roberto era tratado por alguns detratores como
o general civil da revolução, mas não se incomodava. Ele acreditava piamente
que o único regime que servia para o Brasil era a democracia, do ponto de vista
político, e a economia de mercado, do ponto de vista econômico. Nunca imaginou
uma ditadura de longo prazo e se surpreendeu com o decreto do Ato Institucional
nº 5 e com o fechamento do Congresso.
Como empresário, nunca fez qualquer restrição à ideologia de
seus funcionários, escolhendo-os pelo talento e pela capacidade. Costumava
dizer: “Nos meus comunistas mando eu.” Pela Rede Globo passaram alguns dos mais
ilustres subversivos, cultuados e admirados pelo dr. Roberto. Ele tinha
especial carinho pela obra e pelos textos do Ferreira Gullar, adorava as
espertezas do Dias Gomes para driblar a censura e chegou a emprestar dinheiro
para o Mário Lago quando ele se atreveu a pedir uma grana para saldar uma
dívida. O dr. Roberto fez um cheque e disse:
– Se os comunistas assumirem o poder, peça para me
enforcarem com uma corda de seda… bem fininha.
Ele também tinha uma grande capacidade de entender e
esquecer desafetos. Um dos exemplos é o Paulo Francis, que fez duras críticas e
baixas ofensas. Um dia, o Armando Nogueira, diretor de jornalismo, e eu fomos
consultar o dr. Roberto sobre a possível ida do Paulo Francis para a Globo. Ele
estranhou:
– Ué… Ele aceita?
Ao que o Armando respondeu:
– Aceita, dr. Roberto.
– Que bom. Se aceita, quer dizer que ele não pensa mais o
que pensava da gente. Pode contratar.”
Paulo Francis esteve do outro lado, como bom comunista que
era. Recobrou a consciência e se tornou quase um libertário. Não podemos
esquecer que ele foi o primeiro e mais incisivo jornalista a denunciar a
corrupção na Petrobrás.
BLOG / RODRIGO
CONSTANTINO
Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da
esquerda “politicamente correta”.
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