“Ao ver o STF, sinto-me envergonhado pela falta de espírito
público, pela covardia moral, pelas falsidades e, principalmente, por observar
que uns merecem mais que outros ante os olhos daquele colegiado” General
Hamilton Mourão (Crédito: Jackson Ciceri)
26/07/18
Um dos consultores da candidatura à Presidência de Jair
Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), de 64 anos,
afirma que há um “certo radicalismo nas ideias, até meio boçal”, entre os
apoiadores do candidato nas eleições 2018. Ao Estado, ele diz que a campanha é
“meio amadora” e reclama que a imprensa trata Bolsonaro com “preconceito”. Há
dois meses no comando do Clube Militar, entidade que teve espaço de destaque na
política até os anos 1960, Mourão, gaúcho de Porto Alegre, diz que o setor
ficou dentro do “casco” como tartaruga desde o fim do regime militar, mas
voltou disposto a atuar em disputas eleitorais.
A campanha do PSL tentará um eleitorado mais amplo ou
preservar o que conseguiu?
Ele está num momento de encruzilhada, tanto em relação à
escolha do vice, que não está fácil, como à necessidade de buscar novos
eleitores. Ele alcançou o limite daquele pessoal que, por decantação, se sente
atraído. Tem de buscar aquelas pessoas que ainda não escolheram em quem votar.
Ele tem de estar preparado, desde agora, para ser o presidente de todos os
brasileiros, e não apenas do grupo que o apoia fanaticamente. Não é mudar o
discurso. Existe muito estereótipo em cima da figura do Bolsonaro, porque
parcela aí da imprensa não publica as coisas boas, só as escorregadas. Há um
preconceito, uma má vontade. Ele tem de mostrar que não é um troglodita. Que é
um homem que criou os filhos de forma correta, que não nasceu em berço de ouro.
Os seguidores tradicionais de Bolsonaro entenderão o pragmatismo
de uma campanha?
Existe um certo radicalismo nas ideias, um radicalismo até
meio boçal. Tem boçal dos dois lados. Os extremos se atraem. Quando a Janaina
(Paschoal) falou que o pessoal não pode ser o PT ao contrário, ela tem razão. A
gente não pode dividir o País. Isso foi o que o PT fez. O PT é a vanguarda do
atraso. A gente tem de trazer todos os brasileiros e aceitar as ideias de uns e
de outros e não ficar se matando.
Foi um elo previsível uma candidatura de um homem oriundo do
meio militar e jovens órfãos de lideranças políticas?
É o camarada que perdeu a perspectiva. No momento em que
essa geração quer fazer um concurso público ou quer ir para fora do País,
alguma coisa está errada. O País deixou de empreender, criar emprego e
esperança. Por meio das redes sociais, Bolsonaro captou a mensagem. Tem muita
gente que vê o galo cantar e apresenta visão distorcida: ‘Ah, o Brasil vai
virar uma Venezuela’. Eu digo: ‘Calma lá, minha gente. Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é outra coisa.’
O grupo dos senhores está mesmo no jogo?
Estamos para ganhar. O que eu julgo é que a campanha do
Bolsonaro está meio amadora. É aquela história: ele se fez, então tem
dificuldades de ouvir as pessoas. Mas acho que ele vai colocar um coordenador
de campanha, que poderia ser o general (Augusto) Heleno. Alguém tem de
coordenar esse troço aí, tem de colocar já uma equipe para escrever logo o
programa de governo, o que ele vai fazer. Não pode o camarada ganhar a eleição
e perguntarem: ‘O que ele vai fazer agora?’. Se ele pretende reduzir o número
de ministérios, tem de ter um estudo. Qual é o programa de privatização? Tem de
ser mais claro. Até porque, a partir daí, ele buscará aquele eleitorado liberal
que ainda está fazendo cara feia porque sente que não tem muita profundidade
nessa lagoa.
Por que a atuação de militares na política está mais
explícita?
O Exército é apartidário, mas não é apolítico. Na Nova
República, as Forças Armadas foram muito atacadas, isso levou a um refluxo, a
um comportamento de uma tartaruga que se esconde dentro do casco. Houve, então,
infelizmente por erros de lideranças civis envolvidas em corrupção, um
movimento da sociedade de buscar no grupo militar gestores capazes.
Sem articulações, a campanha terá pouco espaço no horário
gratuito de TV.
Tempo de TV não é balizador. Quando começar o tempo
eleitoral, a maioria das pessoas vai desligar a TV. E quem tem TV a cabo, fica
com a TV a cabo.
Não é uma faca de dois gumes para as Forças Armadas ter um
candidato oriundo da caserna e, ao mesmo tempo, com discurso polêmico em
relação às questões indígena e de gênero?
Não acho que Bolsonaro recebe apoio ostensivo das Forças. O
pessoal da ativa pode até apoiar, mas você não vai ver faixa no quartel. Esses
temas que tiveram êxito nos últimos 30 anos fazem parte do gramscismo, que
resultou no politicamente correto e no abafamento da liberdade de pensar.
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