ITABUNA, 1950
(Bar, Jazz, Bogart)
Tinha tempo bastante a desfrutar
Konstantinos Kaváfis (1863-1033)
Baco adora quando desço a praça
Adami, caminho do Elite Bar.
Lá (no bar de Emetério), busco o morno
canto, próximo às mesas da sinuca;
observo os jogadores do apostado,
os ases das tacadas. O maior,
Zito Maleiro, já tuberculoso,
captura a solidão da bola sete;
o infinito resvala sobre o verde
espaço de luz acabando o jogo.
Adami, caminho do Elite Bar.
Lá (no bar de Emetério), busco o morno
canto, próximo às mesas da sinuca;
observo os jogadores do apostado,
os ases das tacadas. O maior,
Zito Maleiro, já tuberculoso,
captura a solidão da bola sete;
o infinito resvala sobre o verde
espaço de luz acabando o jogo.
No ambiente etéreo, Raleu, um Gable
de cabaré no rosto juvenil,
confere ares de sonho ao botequim.
O garçom vem. Peço um vinho do Porto.
Ali, flagro o soluço do gargalo,
o intumescimento da taça e o rubro
trincolejar do vidro satisfeito.
de cabaré no rosto juvenil,
confere ares de sonho ao botequim.
O garçom vem. Peço um vinho do Porto.
Ali, flagro o soluço do gargalo,
o intumescimento da taça e o rubro
trincolejar do vidro satisfeito.
As vitrinas do balcão, as prateleiras
alojando garrafas de bebidas.
A roda de gamão; o espelho e o rádio
Philips. Na sequência das notícias,
um julgado de saxes e trompete:
Duke Ellington, atacando “Perdido”,
acende um risco de néon na noite.
alojando garrafas de bebidas.
A roda de gamão; o espelho e o rádio
Philips. Na sequência das notícias,
um julgado de saxes e trompete:
Duke Ellington, atacando “Perdido”,
acende um risco de néon na noite.
Sorvo o vinho do Porto, calmamente.
Atento o ouvido para o andar de cima,
ouço o ruído abafado da roleta
na sensação das coisas clandestinas.
Chegaram os amigos. Planejamos
o que faremos do frescor da noite.
Saímos. Vamos pela Rua da Lama,
em direção à Zona, ao Bar de Juca.
Lá ficamos até de madrugada.
Atento o ouvido para o andar de cima,
ouço o ruído abafado da roleta
na sensação das coisas clandestinas.
Chegaram os amigos. Planejamos
o que faremos do frescor da noite.
Saímos. Vamos pela Rua da Lama,
em direção à Zona, ao Bar de Juca.
Lá ficamos até de madrugada.
Por que pensar na ciência dos abismos,
se temos muito tempo pela frente?
Antes fazemos hora, indo ao cinema.
Subimos a praça. Nunca perdemos
em nossa idade um filme de Bogart.
Antes fazemos hora, indo ao cinema.
Subimos a praça. Nunca perdemos
em nossa idade um filme de Bogart.
(A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior, 1996)
.....
Florisvaldo Mattos
Nascido em Uruçuca, antiga Água Preta do Mocambo, na Região
do Cacau da Bahia, quando ainda distrito de Ilhéus, residindo depois em
Itabuna, onde cursou no Ginásio da Divina Providência, e transferindo-se depois
para Salvador, Florisvaldo Mattos diplomou-se em Direito, em 1958, mas optou
pelo exercício do jornalismo, no mesmo ano, integrando inicialmente a equipe
fundadora do Jornal da Bahia, como extensão da militância cultural de
parcela do grupo nuclear da Geração Mapa, atuante, nos anos 1960, sob a
liderança do cineasta Glauber Rocha. Foi professor da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), onde ministrou disciplinas e ocupou cargos na Faculdade de
Comunicação e foi presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, de 1987 a
1989; jornalista, escritor e poeta, desde 1995 ocupa a Cadeira 31, da Academia
de Letras da Bahia; afastou-se do jornalismo em 2011, no cargo de Diretor de
Redação do jornal A Tarde, de Salvador, onde antes editou por quase 14
anos o caderno “ A Tarde Cultural”,
premiado em 1995 pela Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA. É autor
dos seguintes livros: Reverdor, 1965, Fábula Civil, 1975, A
Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior, 1996 (Prêmio Ribeiro Couto, da
União Brasileira de Escritores), Mares Anoitecidos, 2000, Galope
Amarelo e outros poemas, 2001, Poesia Reunida e Inéditos, 2011,Sonetos
elementais, 2012, Estuário dos dias e outros poemas, 2016, e Antologia
Poética e Inéditos, 2017 (todos de poesia); Estação de Prosa &
Diversos, (coletânea de ensaios, ficção e teatro, 1997); A Comunicação Social
na Revolução dos Alfaiates, 1998, e Travessia de oásis - A sensualidade na
poesia de Sosígenes Costa, 2004, ambos de ensaio.
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