29/jun/18
As três prioridades
Estive no Brasil nas últimas semanas, rodando por São Paulo,
Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Nesse não pisava há mais de ano. A
deterioração é visível, especialmente do espírito. O clima é o pior possível.
Com todos que conversei, desde motoristas e cabeleireiros até grandes
empresários, a sensação é de derrota, cansaço e desesperança. Se pudesse, a
maioria se mudava ontem.
As três prioridades identificadas são: segurança, emprego e
resgate de valores morais. Ninguém aguenta mais ser refém dos bandidos, mas
como não é possível se enclausurar e deixar de viver, as pessoas se adaptam,
ainda que com medo. No dia em que fui embora, três senhoras foram assaltadas
por um motoqueiro e seu cúmplice. Basta ver uma moto com alguém na garupa para
sentir calafrios. Isso não é normal, mas o carioca se esquece.
Já a economia é o básico: a condição de vida está ruim para
todos, com 13 milhões mergulhados no desemprego. Motoristas de Uber têm rodado
mais tempo para compensar, e muitos sequer conseguem pagar as contas. Diversos
reclamaram que a situação vem piorando. Dois me disseram que pretendem arriscar
uma ida para Portugal ou Estados Unidos.
A corrupção generalizada e a degradação de valores morais
também jogam lenha na fogueira da revolta. A turma não aguenta mais os
políticos do establishment e a mídia “progressista”, que distorce a realidade e
ignora as demandas do povo em troca de pautas sem sentido, produzidas por
figuras estranhas que querem “lacrar” nas redes sociais. O anseio por algum
“outsider” durão que confronte “isso tudo que está aí” e coloque ordem na
bagunça vem crescendo.
Em palestras para empresários, não foi difícil identificar o
pavor que produz a ideia de um retorno da esquerda radical, por meio de Ciro
Gomes ou do PT. Esse pânico, totalmente legítimo, e a fragmentação de um
“centrão” que não decola, tem feito muita gente esclarecida flertar com a
candidatura de Jair Bolsonaro, como uma alternativa menos pior.
Quando lembram que o liberal Paulo Guedes poderá ser seu
ministro da Fazenda, os riscos são mitigados pelo selo de qualidade, ainda que
o candidato seja o capitão, não o economista. Mas o desespero tem feito com que
o desejo por mudança fale mais alto do que qualquer cautela. Basta andar pelo
País para entender como a “análise” de que Bolsonaro vai desidratar não passa
de pura torcida. O fenômeno é real e bastante significativo, pois ele já se
tornou um símbolo de uma reação a esse caos todo, não importa se com ou sem
fundamento.
Por fim, retornei para minha casa na Flórida. Passei pela
imigração com toda a documentação em dia. O Trump “malvadão” não me separou dos
meus filhos. Os brasileiros esquecem que em países sérios os crimes costumam ser
punidos. Por isso são sérios…
Rodrigo Constantino é economista, escritor e um liberal
sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”
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