04/maio/18
Foto: Ueslei Marcelino
Michel Temer vive dias de provação. Pela primeira vez, a
família de um presidente em pleno exercício do cargo é arrolada a depor,
prestar explicações, por supostos casos de corrupção.
Uma investigação da
Polícia Federal dá conta de lavagem de recursos via reformas nas casas tanto da
filha como da sogra em troca de um decreto de portos – que acabou por não
existir, diga-se de passagem. Ruim para Temer, pior para o Brasil.
Essa é a terceira onda de ataques sistemáticos ao chefe da
Nação e, com ela, o País vai vivendo à base de soluços. Anda e para a depender
da atenção que a pauta de ajustes consegue arranjar. Os reveses pessoais do
mandatário contaminaram a gestão. A economia ficou a reboque das insânias
políticas. A agenda reformista, que tinha na previdência seu maior alvo, ficou
para as calendas. Na verdade, logo foi abatida. A primeira de uma longa lista.
Há pouco mais de um ano o empresário Joesley Batista, para
escapar do cerco que se fechava sobre ele, comprometeu Temer numa gravação
conduzida e criminosa. De lá para cá, a prioridade de combate à crise foi
abaixo. Não há tempo para as negociações, para costurar alianças em torno de
projetos, para propor saídas. Os esforços são consumidos na luta por salvar a
própria pele.
Há algo de perverso nessa contenda. Adversários tentam minar
a resistência federal buscando colar a pecha de ineficiência em um governo que,
bem ou mal, conseguiu fazer a transição.
Há resultados concretos e sabidos: da inflação e dos juros
levados a níveis historicamente baixos à reforma trabalhista, o fim da recessão
e uma inominável lista de boas providências. Longe de ser suficiente. Porém significaram
fundamentais passos na direção correta.
A camarilha parlamentar, a despeito das conquistas, não
perdoou. Nos últimos tempos, após estratégia infrutífera de afastar o
presidente por meio de votação em plenária, resolveu sabotar todo e qualquer
projeto de melhorias estruturais. De novo, trágico para o Brasil. A paralisia
do trabalho verificada atualmente no Congresso assemelha-se a de um Parlamento
em pleno status de intervenção.
Tal qual nos idos do AI-5. Não se vota nada, não se aprova
qualquer medida provisória que valha. A privatização da Eletrobras empacou. A
simplificação do sistema tributário, defendida desde o início do ano, não é nem
mais lembrada. Até a bancada governista bandeou-se para o lado da oposição na
luta contra o cadastro positivo de devedores que Temer almejou adotar. O que
sai daquela casa nos dias de hoje é mera perfumaria. Deputados e senadores
estão mais preocupados em garantir a reeleição. Sonham com a perpetuação do
foro privilegiado contra eventuais rescaldos das investigações da Lava
Jato. Eis a classe política que restou. Parlamentares atentos a questões
comezinhas. A janela da troca partidária galvanizou mais interesse do que a
vital preocupação com equilíbrio das contas nacionais. Cortar, reduzir gastos,
eliminar desperdícios é discussão impopular para o momento eleitoral.
Na direção oposta, congressistas estão mesmo é derrubando
todos os vetos de Temer a medidas que oneram o erário. A festa da distribuição
de recursos inexistentes alcançou o auge. As renegociações de dívidas do
Funrural, por exemplo, custarão mais R$ 15 bilhões ao Tesouro por obra e graça
dos senhores do parlamento que resolveram torrar o dinheiro da viúva. E o
presidente – encurralado por querelas com a PF, o TSE e a Procuradoria – fica
com as mãos atadas, sem margem de manobra. O esfacelamento do seu poder
reflete-se ainda nos entendimentos para a formação de uma candidatura de centro
consistente e vencedora.
O fatiamento das opções eleitorais nesse eixo cria um
cenário de grandes riscos à sucessão. Não há ainda uma chapa que anime. O
tucanato resiste, bestamente, em fechar um acordo com o MDB para defender o
legado – de resto consistente – traçado por Michel Miguel Elias Temer Lulia.
A impopularidade, inclusive nas ruas, assusta. Dois anos
depois de assumir, o presidente vive o seu inferno astral. Tentará contornar a
má imagem e má fase com uma forte ação de comunicação realçando suas
realizações no período. Ainda acalenta a própria candidatura como alternativa
para ficar vivo no jogo.
Sobre o autor
Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três.
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